UM SONHO DE VERDADE
UM SONHO DE VERDADE
MARCOS SOUTO MAIOR (*)
Sempre dormi bem, em minha cama, deitando a cabeça no travesseiro e, outro que colocava entre as pernas dobradas, sem nunca me assustar ao acordar dos sonhos até porque, desde a teoria de Sigmund Freud, em 1900, que despertou a abalou o planeta, deixei de questionar símbolos e premonições, transpondo as ‘particularidades do nosso inconsciente’ para os fenômenos regressivos terminando por devolvê-los, desde criancinha! Uns mais e outros menos, ousam tentar definir seus sonhos, muito embora, a significação oculta em nossa mente possa chegar até coçarmos os cabelos da cabeça, como se as respostas fossem um computador de acesso à volúvel internet. O importante vem a ser os inconsoláveis desejos reprimidos que nem sempre alcançamos, mas com teimosia, às vezes acontecem surpreendentes resultados, a exemplo do que aconteceu comigo, na Bélgica.
Pelo menos em três ocasiões diversas, anos a anos, acordei tranquilamente pela manhã e me vi tranquilo e bem aboletado dentro de um bonde de trilhos puxados à eletricidade, parecidíssimo com os que andavam pelas linhas que percorriam, desde do bairro de Cruz das Armas até descer para a linda praia de Tambaú, onde o sol chega primeiro, no ponto mais oriental das Américas! Nunca quis conversar sobre os meus sonhos com ninguém, nem com os familiares, inclusive porque sou sisudo para com a minha intimidade e, poderia ser tido como louco varrido, inventando. Resolvi fazer viagem à Europa começando por Paris, onde me deparei na Sorbonne University, em homenagem pública a algumas personalidades da resistência francesa, dentre os quais com quadro enorme de Geneviève de Gaulle Antonioz, integrante histórica e defensora dos pobres, que veio a óbito em 14 de fevereiro de 2002, e me surpreendeu por parecer demais com a minha querida mãe Adélia, professora diplomada, católica e caridosa, também falecida, em 07 de setembro de 1994. Para mim, uma coincidência implacável da semelhança dos rostos das duas mulheres destemidas e determinadas.
Próxima parada, nos Países Baixos, desta vez em trens modernos e rápidos, abri os olhos para conhecer onde se encontram as sedes dos Tribunais de Justiça e de Contas da União Européia, em Luxemburgo. Na sequência, já em Bruxelas, entramos rezando na Catedral; adiante, em Bruges, também fui à Igreja Santa Ana, onde Michelangelo esculpiu Madona e o Menino. Finalmente, a surpresa maior, quando cheguei ao ponto máximo da minha viagem, inesperadamente, meu amigo Marcondes Brito, da BAND/São Paulo, me telefonou e recomendou o que não sabia: conhecer a Basílica do Santo Sangue, que abrigava a relíquia do sagrado sangue de Jesus Cristo, em pequeno tecido trazido há oitocentos anos para esta igreja, sendo abençoado por padre que me conferiu as orações em muitas línguas, inclusive português.
Finalmente, eis que me encontrei, sim, na cidade medieval procurada e desejada de Bruges. Foram anos a fio, na qual me vi de pleno coração aberto, emocionado e palpitante, na longínqua Bélgica, lá tomando o antigo bonde da saudade, que nunca mais poderá circular materialmente no éter do tempo e do viver. Também a casa de esquina, onde abri as portas das igrejas católicas nas quais rezei, justamente na estação que o bonde me deixou, sob as bênçãos do bom Deus, continuará imorredoura nas imagens sonhadas de muita fé cristã.
Não devemos desistir da bondade e da meiguice de uma saudade pura e incandescente, porque é mais do que válido nos confortar aos que pensam na eterna vida. Para mim, acreditar no que amamos é mais significativo se vem, há anos, do sonho verdadeiro! (*) Advogado e desembargador/aposentado
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