Publicado em: 26 ago 2015

UM GUERREIRO FORTE

UM GUERREIRO FORTE

MARCOS SOUTO MAIOR (*)

                Desde menino, Jair Cunha Filho, era um gozador da vida e estudava no colégio Pio X, onde a primeira aula do dia, começávamos rezando o terço católico, onde o irmão marista iniciava e a turma toda completava o restante da oração. Ele era, aceleradamente irrequieto e, vez por outra, na hora do recreio corria para disputar partidas de jogos do Espiribol ou, Espirobol, numa quadra circular de dois metros de diâmetro, forrada por barro pisado ou concreto, dividido em duas ou quatro partes iguais!  Os competidores davam um soco apenas na bola, por vez, visando enrolar a corda presa na ponta de um mastro de madeira pesada e o final do jogo era enrolar a corda toda, até a bola da outra extremidade parar no topo. Ao redor, as torcidas gritavam e batiam palmas, porque os jogadores eram de turmas diversas. Cheguei a ver uma discursão com trocas de tapas, e o meu amigo no meio da bagunça que terminou nas calçadas da praça da Independência. Já pai de famílias, eu e ele nos veraneios da praia, improvisamos uma saudosa competição do jogo de Espiribol, era assim que chamavam-nos e, terminou ficando no empate demorado que terminaram com abraços amigos, onde os coroas .

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Anos atrás, uma doença traiçoeira envolveu meu guerreiro forte, e não brincou para ir até o maior centro médico do país, São Paulo, e ele sendo médico com grande capacidade e conhecimento, resolveu se aconselhar com o renomado cirurgião urologista Miguel Srougi, onde todos os procedimentos foram desenvolvidos, o tempo foi passando e Jair sempre de bom humor desenvolvia a esperança definitiva, circulando nos habituais lugares. Continuou sempre com o sorriso falante enaltecendo as notícias colhidas em suas passagens e, sempre abriu o coração, para agradecer a todos quantos torciam pelo sua saúde, até porque, nunca foi de perder tempo na contínua fé em Deus, chegando a publicar depoimentos relativos às suas curas, enaltecendo as graças espirituais. O poder santo é que consegue ultrapassar momentos incertos da vida e era motivo dele se manter na glória!

Cerca de uma década de lutas diuturnas, foram acompanhadas pelos seus queridos familiares e os amigos de sempre, todos fazendo o que era possível. O organismo perde a parada da vida, mas a luta nunca abalou o seu semblante, simplesmente, porque sabia ter chegado o momento da despedida e o acolhimento dos céus. Calado, não esperei pelo sopro final do amigo, quando já não conhecia quem gostaria vê-lo, me avisaram do derradeiro suspiro do médico e professor, Jair Cunha Filho. Troquei de roupa, peguei meu Tissot mecanique-automatique, e me assustou quando vi marcado menos horas, pela falta de batimentos, quiçá tentando me fazer parar as voltas do mundo do tempo. Fui ao féretro ao lado de muitos companheiros e clientes, e ouvi os depoimentos de pessoas que conheciam, a exemplo de um jovem que disse “ele salvou meu pai, porque saiu de casa de madrugada, a tempo de poder viver.” Era disposto como ninguém!

Na fazenda ele ia quinzenalmente, arrebanhando os animais e vaqueiros ao seu redor, sempre melhorando a vivência interiorana. Já na praia onde dirigíamos o bloco familiar carnavalesco, ‘Frasqueira de Camboinha’ liderava e arrastava multidões. Sem palavras convincentes que pudesse apresentar, na despedida dele, tive de emprestar uma das frases célebres do poeta e dramaturgo, William Shakespeare, consolando o adeus sem volta:  “Toda despedida é dor… tão doce todavia, que eu te diria boa noite até que amanhecesse o dia”.  

 

                                                                                           (*) Advogado e desembargador aposentado

 




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