Treinos indicam que Felipão não tem um plano B para a seleção brasileira
O Brasil ainda não conseguiu repetir o desempenho de 2013 naCopa do Mundo. A blitz do início dos jogos, a marcação adiantada e eficiente no meio-campo e os coadjuvantes em forma que permitem que Neymar brilhe mais que todo mundo não apareceram no torneio que é o principal objetivo da seleção. Depois de dois jogos, porém, Felipão não dá sinais de que procurará caminhos alternativos para chegar aonde deseja.
A postura ficou clara no último sábado, quando ele ensaiou uma volta no tempo no primeiro coletivo após o 0 a 0 contra o México. Durante o trabalho na Granja Comary, Felipão manteve o time titular intacto, focou o trabalho na saída de bola adversária, pediu velocidade ao time e ensaiou a parceria entre Hulk e Daniel Alves pela lateral que tem sido um problema para o Brasil até agora.
São os mesmos ingredientes usados na Copa das Confederações. No torneio do ano passado, gols relâmpago de Neymar abriram caminho para as duas primeiras vitórias do Brasil, que sempre saiu na frente dos rivais ao longo do torneio. Na Copa, o time começou perdendo diante da Croácia e nunca conseguiu tirar o zero do placar contra o México.
Um dos motivos que fizeram Neymar brilhar há um ano foi a presença de coadjuvantes de peso. A movimentação de Paulinho, as assistências e os desarmes de Oscar e o oportunismo de Fred sustentaram o camisa 10, eleito Bola de Ouro na competição com quatro gols marcados e atuações destacadas como a da final contra a Espanha.
Na Copa, Neymar não vai mal. São sete chutes e dois gols em dois jogos nos quais ele sempre chamou a responsabilidade. Faltou companhia a Neymar. Paulinho e Fred, especialmente, estão bem abaixo do que apresentaram em 2013. O centroavante tem o pior passe do time e o volante o terceiro. O camisa 9, de quebra, ainda somou três impedimentos em um único jogo e tem se posicionado mal entre os zagueiros rivais.
Só que faltam opções a Felipão. Em 2013, Hernanes foi o homem que mudou o esquema do Brasil. Na Copa das Confederações, em quatro oportunidades ele entrou durante o jogo e mudou o desenho tático da seleção, ora substituindo Oscar com um estilo mais cadenciado na armação, ora barrando Hulk e formando com Paulinho uma dupla de volantes mais técnica.
Neste ano, as substituições não envolvem mudança de sistema. Contra a Croácia, Paulinho e Hulk deram lugar a Hernanes e Bernard, que jogam exatamente nas mesmas posições dos titulares – Ramires entrou a dois minutos do fim, na vaga de Neymar, para segurar o placar. No empate contra o México, Bernard barrou Ramires, Willian substituiu Oscar e Jô entrou na vaga de Fred, sempre mantendo as posições daqueles que foram sacados.
O desempenho de Hernanes, o coringa de 2013, tem a ver com essa mudança. Neste ano, o ex-são-paulino desagradou Felipão nas chances que teve. No treino que antecedeu o amistoso contra o Panamá, o time com sua presença foi criticado publicamente. Diante da Croácia, ele entrou perdido e acertou só 56% dos passes que tentou. Sem Hernanes, Felipão também não parece confortável em lançar Ramires, Willian ou Fernandinho e, por isso, não ameaça o lugar de Paulinho no time.
Com Fred a situação é a mesma. Mal desde o início da preparação, o atacante do Fluminense foi “salvo” por uma goleada, um gol salvador e um pênalti sofrido nos primeiros jogos que fez, contra Panamá, Sérvia e Croácia, respectivamente. Contra o México, quando nada funcionou, Felipão finalmente colocou o jogador, vaiado pelo público em Fortaleza, no banco. O problema é que o substituto foi Jô.
Se em 2013 o atleticano marcou gols no segundo tempo como um talismã, desta vez ele está longe de ser uma arma. Nos treinos, Jô tem apresentado o pior desempenho de todo o elenco, anulado pela zaga titular e sofrendo para dominar as bolas e dar continuidades às jogadas.
Na marcação também não há soluções novas. Desde o começo da preparação, a cobertura das laterais tem sido um drama para o treinador, que chegou a inverter o lado de Hulk contra a Croácia para conter os avanços de um rival. Deu errado. Pelo outro lado, Olic foi ao fundo e cruzou para Marcelo fazer contra.
No sábado, Felipão tentou resolver o buraco com a mesma solução: Hulk. De volta ao time titular, o atacante treinou com a ordem de ajudar Daniel Alves na marcação, como já havia feito com sucesso em 2013.
Até agora, porém, a fórmula não só não deu certo como o Brasil está “torto”. Segundo a Fifa, em dois jogos o time tentou 12 ataques pelo meio, 27 pela esquerda e 47 pela direita, que acaba mais desguarnecida na defesa.
Ainda que nada dê certo, Felipão não dá mostras de ter um plano B. Em suas entrevistas, o técnico fala em evolução e dá a entender que a seleção chegará no nível apresentado em 2013. No treino, ele repete os pedidos como quem espera que as mesmas ordens deem origem a resultados diferentes.
Até agora não tem sido assim, e o Brasil segue sem blitz, apoio a Neymar ou uma marcação eficiente. Depois de uma vitória e um empate, a seleção vai à última rodada da primeira fase sem classificação antecipada, o que não ocorria desde 1978. Nesta segunda, se tropeçar contra Camarões em Brasília, dependendo da combinação de resultados, o time pode até sair mais cedo da Copa do Mundo.
Uol
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