Título alemão coroa investimento de R$ 2,1 bilhões no futebol ao longo de 16 anos
Com o título de tetracampeão conquistado no Brasil, no último domingo, ao derrotar a Argentina na decisão da Copa do Mundo, a Federação Alemã de Futebol (DFB, na sigla em alemão) viu não só a coroação de 16 anos de trabalho no projeto de formação de talentos, no qual investiu, até o ano passado, € 700 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões). O título rendeu à DFB US$ 35 milhões (em torno de R$ 105 milhões), dinheiro que foi pago pela Fifa pelo título vencido no Maracanã.
Mas os milhões começaram a rolar também de outras fontes. As grandes marcas, mesmo não relacionadas com produtos esportivos, duplicaram as ofertas pelos anúncios publicitários com a participação de jogadores, treinadores e até integrantes da equipe de apoio, médicos e fisioterapeutas. Segundo Wolfgang Niersbach, presidente da Federação Alemã, trata-se da recompensa pelo trabalho longo de renovação do futebol alemão, a “fábrica de craques”, uma ideia que surgiu depois da vergonha da Copa do Mundo de 1998, na França, quando a seleção da Alemanha, com os craques Lothar Matthaus, Jürgen Klinsmann e Oliver Bierhoff, foi eliminada pela Croácia ainda nas quartas de final, por 3 a 0.
‘CASA’ DE ÖZIL E NEUER
Georg Altenkamp, diretor da Escola Elite de Futebol Berger Feld, na cidade de Gelsenkirchen, acompanhou os jogos da Alemanha na Copa do Brasil como se seu próprio filho estivesse no campo. O “filho” era Mesut Özil, jogador da equipe titular no Mundial. Ou Manuel Neuer, o goleiro eleito o melhor do torneio.
— De vez em quando, Özil e Neuer vêm nos visitar, despertando uma enorme alegria nos alunos de 15, 16 anos, que ainda estão em fase de formação e que sonham um dia jogar como os dois — diz Altenkamp. Ao contrário das escolas só de futebol, os centros modernos de treinamento, que recebem subsídios também do governo, são colégios nos quais as crianças têm todas as disciplinas normais — mas o futebol é a mais importante.
Segundo Arne Güllich, da Universidade Técnica de Kaiserslautern, os centros de formação de elite do futebol funcionam bem porque aproveitam o sistema escolar, pelo qual têm acesso a todas as crianças do país. Essa é a chamada “base larga”, onde as crianças jogam futebol para se divertir, mas onde já começam a ser observados os possíveis talentos.
Por volta dos 15 anos de idade, são escolhidos os melhores para os centros de formação de elite, como a escola Berger Feld. Quase todos que saem dessa formação vão um dia jogar em um time da terceira, segunda ou primeira divisões.
Os times de futebol, todos integrantes da federação, são obrigados por ela a atuar ativamente em cooperação com os centros de formação dos mais talentosos. Em toda a Alemanha, há 49 centros de formação de talentos, onde 7,5 mil crianças aprendem a jogar futebol de alto nível. Desses, apenas os melhores, como Neuer e Özil, são admitidos, mais tarde, em uma das 30 escolas de elite, onde todos os concludentes conseguem fazer carreira profissional.
Dos 2.000 alunos que atualmente já treinam na própria escola secundária futebol de alto nível, 200 são meninas.
— Muitos alunos fazem o exame de conclusão do ensino médio, com o qual têm a chance, mais tarde, de se candidatar a uma vaga na universidade, mas quase todos que atingem esse nível se tornam jogadores profissionais — conta Altenkamp.
O sistema “despeja” todos os anos de 40 a 100 grandes jogadores. Desse sistema, saíram também Mats Hummels, Toni Kroos e Per Mertesacker, da seleção titular.
A ação nacional para a formação de talentos surgiu em um momento de crise do futebol no país. Em 2000, quando a seleção alemã teve uma péssima atuação na Eurocopa, depois do fracasso na Copa de 1998, os jornais alemães falavam sobre a “vergonha nacional”. Mas já tinha começado a ação para o combate à crise.
MODELO PARA O MUNDO
O ex-treinador da seleção alemã Berti Vogts, que hoje é assistente de Jürgen Klinsmann na seleção dos EUA, lembra:
— Já antes da Copa de 1998, havia na Alemanha o debate sobre a necessidade de criação de um sistema capaz de não desperdiçar um único talento.
Segundo Vogts, esse programa alemão é “único no mundo inteiro” no que diz respeito à sua intensidade e à forma como inclui todos os jovens do país com talento para o futebol nos centros de treinamento.
Depois do sucesso da Alemanha, a Federação Alemã passou a receber do mundo todo pedidos de informação sobre o funcionamento de seu sistema de formação de jogadores.
Com O Globo
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