Tiririca custa R$ 805 mil e rende R$ 15 milhões ao PR em quatro anos
Investir em Tiririca rende altos dividendos, e não apenas políticos. A votação obtida pelo deputado federal em 2010 – 1,35 milhão de votos, recorde nacional – garantiu ao Partido da República (PR) entre R$ 14 milhões e R$ 15 milhões em verbas do Fundo Partidário, que é constituído por dinheiro público, segundo cálculos, com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O valor é cerca de 17 vezes maior que os R$ 805 mil gastos pelo PR para eleger o humorista, que provavelmente obterá um novo mandato neste ano a um custo orçamento semelhante – e relativamente baixo – para a legenda.
A título de comparação, se a mesma quantia tivesse sido depositada na poupança, o PR teria hoje R$ 1 milhão.
O Fundo Partidário é constituído, dentre outras fontes, pelas multas pagas por quem deixa de votar e, mais tarde, precisa regularizar seu título eleitoral. A maior parte dos recursos – 95% – é distribuída entre os partidos de acordo com o número de votos obtidos na eleição para a Câmara dos Deputados (os 5% restantes são divididos igualmente). Assim, cada voto obtido por uma legenda equivale, todo ano, a uma determinada quantia.
Com 1,35 milhão de votos, Tiririca garantiu ao PR cerca de R$ 4,3 milhões do Fundo Partidário em 2011, R$ 4,2 milhões em 2012, R$ 3,9 milhões em 2013 e R$ 2,7 milhões em 2014, até agosto, de acordo com os cálculos da reportagem.
As quantias equivalem a aproximadamente 20% do que o PR recebeu do Fundo Partidário nesses anos, semelhante à fatia que os votos de Tiririca representam no total obtido pela legenda na eleição para a Câmara de 2010.
Neste ano, as sátiras do humorista dominam o tempo de TV do PR no horário eleitoral gratuito. As propagandas ganharam mais notoridade após o candidato ser processado por, em uma das inserções, parodiar uma música do cantor Roberto Carlos.
A estratégia do partido tem dado resultado: mesmo sem aprovar nem relatar nenhum projeto relevante em seus quatro anos na Câmara, Tiririca está entre os cinco candidatos a deputado federal mais lembrados pelos eleitores de São Paulo, segundo levantamento do Ibope.
O custo, novamente, é baixo: até setembro, o PR investiu R$ 800 mil na candidatura de Tiririca, ou 2,4% do que gastou na eleição atual. Em 2010, o percentual foi idêntico: 2,4%.
Voto em Tiririca como protesto é aproveitado pelo partido
Especialista em direito eleitoral, Luciano Olavo alerta para o desconhecimento dos eleitores que consideram o voto em Tiririca um voto de protesto.
“O que está errado é as pessoas não conhecerem as regras, porque o voto delas é usada contra seu interesse”, diz. “Os partidos pegam um sujeito e dizem: ‘faça voto de protesto no meu candidato’. Mas ninguém está votando no Tiririca para dar mais dinheiro para o PR, está?”
Olavo lembra ainda que, além de recursos financeiros, os votos nos candidatos de um partido se traduzem em força política, uma vez que o tempo de TV é calculado com base na bancada de deputados federais de cada legenda. Esse tempo de TV, por sua vez, pode ser negociado em troca de cargos.
Tiririca recebe R$ 300 mil de construtora
Tiririca conta com poucas doações diretas para sua campanha. Os recursos vindos do PR, R$ 800 mil, respondem por quase 100% do total arrecadado pelo parlamentar, R$ 810,7 mil. Essa prática, ocorrida também em 2010, dificulta a identificação dos reais financiadores do humorista.
Neste ano, entretanto, a legislação do TSE foi alterada, e permite saber que R$ 300 mil dos R$ 600 mil repassados ao candidato pela Direção Nacional do PR foram doados pela construtora Imbé Engenharia, do Rio de Janeiro.
A Imbé tem como um de seus clientes o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), órgão subordinado ao Ministério dos Transportes, que é controlado pelo PR.
A construtora, o PR e o deputado não retornaram os contatos da reportagem.
Portal do Litoral PB
Com IG
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