Sheherazade diz ter vergonha da organização do Brasil para Copa e Olimpíada
Apresentadora do SBT Notícias e comentarista da rádio Jovem Pan de São Paulo, Rachel Sheherazade prevê problemas para a disputa dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro no ano que vem. Crítica ácida do governo federal, ela diz que será necessário muito empenho político e uma “ajudinha dos céus” para que as obras sejam entregues a contento.
Segundo ela, parte da preocupação vem do fato de que as empreiteiras que conduzem as obras são as mesmas envolvidas e acusadas de corrupção na Operação Lava Jato. “Se elas forem consideradas inidôneas, não sei como as obras serão finalizadas a tempo e a contento. Além disso, estamos vivendo uma crise econômica seríssima, com necessidade de contenção de gastos”, diz ela.
No ano passado, antes do início da campanha eleitoral que terminou com a presidente Dilma Rousseff (PT) reeleita, Sheherazade deixou de ter liberdade para fazer os seus comentários no Jornal do SBT. A proibição, que partiu do dono da emissora, Silvio Santos, e se deu depois de ela afirmar que achava “compreensível” a ação de um grupo de “justiceiros”.
Na ocasião, em uma nota, a emissora afirmou que “em razão do atual cenário criado recentemente em torno de nossa apresentadora Rachel Sheherazade, o SBT decidiu que os comentários em seus telejornais serão feitos unicamente pelo Jornalismo da emissora em forma de editorial. Essa medida tem como objetivo preservar nossos apresentadores Rachel Sheherazade e Joseval Peixoto, que continuam no comando do SBT Brasil”.
Sem o espaço para os comentários na TV, ela foi contratada pela Rádio Jovem Pan de São Paulo em novembro do ano passado, onde apresenta o Jornal da Manhã ao lado de Joseval Peixoto, com liberdade para opinar.
Ela diz que a pouco mais de um ano para o evento, algumas metas importantes não devem ser alcançadas, como a despoluição da Baía de Guanabara. “Sinto-me envergonhada por nossa incompetência em receber grandes eventos”.
Segundo ela, a própria imprensa poderia fazer um papel melhor de fiscalização em torno dos gastos para a realização da Olimpíada. “Acho que poderíamos fazer bem melhor. Poderíamos acompanhar o andamento das obras e seus respectivos gastos mais de perto, com mais afinco, dar mais visibilidade ao que está sendo planejado, ao que está sendo gasto”.
Porém, ela acredita que o momento político vivido no Brasil tem desviado um pouco as atenções. “O foco da imprensa brasileira mudou. Inflação fora de controle, governo sem comando, a revolta do Legislativo, o isolamento político da presidente, os movimentos pró-impeachment, o escândalo da Petrobras e seus desdobramentos (…) são assuntos mais urgentes que requerem uma atenção ainda maior dos jornalistas”.
A âncora cita o exemplo da Copa do Mundo, em que foram prometidos muitos benefícios, mas o legado deixou a desejar. “Vejo promessas não cumpridas, elefantes brancos por toda parte. Três estádios (em Manaus, Brasília e Cuiabá) já nos dão um prejuízo de pelo menos R$ 10 milhões.Vejo obras inacabadas, mal feitas, vejo um rombo nos cofres públicos fruto do mau planejamento e do superfaturamento”, disse ela.
A apresentadora afirma que a Copa foi acima de tudo um “investimento político”. “Foi um ótimo negócio para as empreiteiras que faturaram alto com as obras. O tal “investimento” da Copa do Mundo no Brasil, no fim das contas, trouxe à sociedade mais perdas que ganhos. A derrota por 7 a 1 para a Alemanha foi o menor dos males. A maior vergonha foi a Copa em si: seus gastos astronômicos e seu legado vazio”.
Para ela, o circo deu lugar à razão durante o Mundial do Brasil. “Chegou um ponto em que a imprensa também se calou e se rendeu à festa, fechando os olhos aos escândalos. As obras foram superfaturadas, mal acabadas, o grito de protesto nas ruas contra os gastos astronômicos em estádios de futebol — em detrimento de investimentos em outras áreas prioritárias, como saúde, educação e segurança –, foi calado”.
Sheherazade afirma que o jornalismo esportivo poderia ser mais enfático ao cobrar transparência das autoridades e que é muito focado no futebol. “Temos outros esportes que precisam de mais visibilidade na mídia”, diz ela. “Acho que o jornalismo esportivo tem enveredado para o lado mais crítico, que acho ótimo. Gosto de acompanhar os debates na rádio, e também gosto de programas televisivos que mostram outras modalidades esportivas, ainda que timidamente. Esse tipo de matéria acaba incentivando os atletas, que não se encaixam no perfil da chuteira”.
Portal do Litoral PB
Com Uol
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