Relator do processo contra Cunha diz que recebeu oferta de propina
Afastado da relatoria do processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) após manobra feita por aliados do presidente da Câmara, o deputado federal Fausto Pinato (PRB-SP) afirmou que chegou a receber oferta de propina em pelo menos duas oportunidades para “pensar bem” no parecer que apresentaria sobre a ação de quebra de decoro de Cunha no Conselho de Ética da Casa.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada na edição desta sexta-feira, o parlamentar descreveu como se deram as ofertas de suborno: “Então, por exemplo, eu fui abordado em aeroporto. Eu nem sei quem era. ‘Você é o Pinato?’ Olha, pensa bem, pode mudar sua vida [faz sinal de dinheiro com as mãos]’. E eu recebi também uns dois telefonemas. ‘Pensa bem na tua família'”, relatou. “Eu cheguei a ter propostas, sim: ‘Você não quer pensar na tua vida? Pensar em você? Mas eu não sei se era para arquivar ou para condenar. Eu já cortava e saía”, acrescentou. O deputado ressaltou que as abordagens foram feitas por desconhecidos.
Na entrevista, o parlamentar também disse que ouviu “um monte” de vezes sobre boatos de oferta de dinheiro para os deputados votarem contra o seu relatório. “Ouvi falar isso um monte, rádio corredor fala sempre. Tanto é que está uma discussão muito acirrada, né? Não querer nem deixar abrir o processo?”
Perguntado sobre como era o assédio da tropa de Cunha no colegiado, o deputado afirmou que a pressão era forte, mas que não ocorreram ameaças, “só aconselhamento”, do tipo “‘Vai devagar, pensa bem, não é tudo que a mídia fala que é verdade, tem que tomar cuidado, tem que pensar aqui dentro da Casa. Para não se queimar'”. “A verdade é a seguinte: um ou outro você sabe [de que lado está], mas existe um exército camuflado. Imagine um cara igual a eu, que é de primeiro mandato, chega, não sabe se tá lá ou cá”, completou.
Quando ainda era relator, Pinato chegou a contar a colegas que ele e seus familiares haviam recebido ameaças de morte. Ao site de VEJA, ele confirmou a informação e disse que fez um boletim de ocorrência confidencial e se encontrou com o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, para relatar os casos. “Só Deus e minha família sabem o que eu vinha passando desde o momento em que protocolei o meu parecer. Eu sofri ameaças, sofri pressão e recebo recados dia e noite. Eu estava brigando com um exército de duzentos deputados”, afirmou.
Pinato foi destituído do posto nesta quarta-feira após uma ação do vice-presidente da Câmara e aliado de Cunha, deputado Waldir Maranhão (PP-MA), que também é investigado no petrolão. O argumento usado foi o de que Pinato integrou um bloco de apoio ao peemedebista durante as eleições da Câmara, o que o impediria a julgá-lo no colegiado.
Com Veja
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