REBULIÇO NA LAJE
MARCOS SOUTO MAIOR (*)
Sou louco pelos meus sete netos e netas, especialmente quando eles vêm a minha laje para me ver, e correr cada qual, metendo as mãos nos lugares que sempre guardo como se fosse um tesouro escondido no mar. Pois bem, lá chegando, os netinhos e netinhas logo começam a abrir todos os móveis dos dois pavimentos do lar. Pirulitos e bombons nunca foi meu desejo infantil e deles também. Nesta simples razão, foi o chocolate Baton, atualmente com mais de cem anos adocicado e ininterrupto é mantido desde meus anos de criança para também chegar a gloria dos tempos atuais. Logo aprendi com meu pai, que acalmar a meninada da época da Rua Santos Dumont, nesses meus intrépidos tempos de guri era fácil e aconchegante. Ele comprava em bancas de jornal e revistas, no centro da cidade, sem faltar os inesquecíveis gibis e também os álbuns de figurinhas coloridas, as quais se completavam com fotografias dos filmes do inesquecível Walt Disney, a exemplo de Peter Pan, A Bela e a Fera, Branca de Neves e os Sete Anões, Cinderela, Pinóquio, Bambi, A Dama e o Vagabundo, e Dumbo, o elefantinho trapalhão que ainda arranca boas risadas na TV infantil.
Danado mesmo, que os álbuns até eram baratinhos, mas as figurinhas daqueles tempos eram envelopadas e coladas, terminando por uma infinidade que era levada para trocar ou vender nos colégios, cinemas, praças, logradouros e calçadinhas das praias. Só com muito dinheiro ficava prontinho para mostrar aos colegas… Aliás, dos poucos álbuns que são lançados atualmente, somente os jogadores do brasileirão de futebol e das copas do mundo ainda conseguem arrancar um bom dinheiro dos pais.
Hoje recebo da minha modesta laje, a chegada da famosa Trupe Souto Maior, aí já deixando bem fácil a caixinha do chocolate centenário Baton que é devorado em pouco tempo por todos eles. Raramente eles mergulham na piscina e se preferem mesmo o barulho que termina por desmontar a minha preciosa bateria, na qual toco em conjunto musical quinzenalmente. Além de baterem forte, o instrumento é completamente desmontado até desafinar as peles de animais, a exemplo do bombo de pedal, do surdo, da caixa, do tarol, dos pratos, das baquetas, do ximbau, da vassourinha. Final da brincadeira, já no dia seguinte tenho de trazer um colega para ajudar na afinação do instrumento.
Nestes dias antecedentes ao Natal, a minha alegre trupe chegou barulhentamente com gosto e gás, ecoando centenas de decibéis no espaço, se esmeram num rebuliço total, quase impedindo redigir esta crônica semanal, em razão de virarem de cabeça para baixo, várias investidas no meu solidário e velho computador, modelo 2012! Meus netos arrumaram uns atalhos para chegar à total desconfiguração da minha máquina de fazer crônicas, petições, recursos, cartas, e-mails e até cartões natalinos, que desta vez, ficaria para o próximo ano, não fosse a minha eficiente enteada, Bruna Rafaela.
Todavia, ser avô babão assumido como eu, é dar boas gargalhadas com os netos e netas, dar-lhes os desejos que possível for e viver num mundo de puro amor recíproco, com as bênçãos do nosso bom Deus. FELIZ NATAL PARA TODOS!
(*) Advogado e desembargador aposentado
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