Presidente da Eletronuclear recebeu R$ 4,5 mi em propina, diz MPF
A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) afirmaram que o diretor-presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, preso na manhã desta terça-feira (28), na 16ª fase da Operação Lava Jato, é suspeito de receber R$ 4,5 milhões em propina.
O foco das investigações desta fase, segundo a PF, são contratos firmados por empresas já mencionadas na Operação Lava Jato com a Eletronuclear, cujo controle acionário é da União. A empresa foi criada em 1997 para operar e construir usinas termonucleares e responde hoje pela geração de cerca de 3% da energia elétrica consumida no país.
“A Andrade Gutierrez repassava valores para a empresa de Othon Luiz por meio de empresas intermediárias que atuavam na fase de lavagem de dinheiro”, afirmou o procurador do MPF Athayde Ribeiro Costa.
Flávio David Barra, executivo da Andrade Gutierrez, também foi preso na operação. Ele foi preso no Rio de Janeiro em um táxi, quando seguia para a empresa, segundo a PF. As duas prisões são temporárias – têm prazo de cinco dias e vencem no sábado (1º).
Othon da Silva se afastou do cargo em abril deste ano, após as primeiras denúncias de corrupção. Os dois estavam no Rio de Janeiro e serão levados para a Superintendência da PF em Curitiba.
A Eletronuclear ainda não se pronunciou sobre a prisão do diretor-presidente licenciado. A Andrade Gutierrez afirma, em nota, que está acompanhando a 16ª fase da Lava Jato e que sempre esteve à disposição da Justiça. “Seus advogados estão analisando os termos desta ação da Polícia Federal para se pronunciar”, diz o texto.
A atual fase da operação, batizada de “Radioatividade”, foi deflagrada nesta madrugada em Brasília, Rio de Janeiro, Niterói (RJ), São Paulo e Barueri (SP).
Além do pagamento de propina, a 16ª fase da Lava Jato investiga a formação de cartel e o prévio ajustamento de licitações nas obras de Angra 3. As investigações são voltadas para a Engevix e todas as empresas que compõem o consórcio Angramon – Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa, UTC, Queiroz Galvão, EBE e Techint.
No despacho que concedeu os mandados da 16ª fase, o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato em primeira instância, cita que houve restrição, por parte Eletronuclear, à concorrência para obra de Angra 3, da qual saíram vitoriosas as empreiteiras do consórcio Angramon.
O juiz menciona que a empresa Aratec Engenharia, Consultoria & Representações Ltda – de propriedade de Othon Luiz Pinheiro – recebeu pagamentos vultosos de empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, inclusive, de empresas que compõem o consórcio Angramon.
“(…) A prova mais relevante consiste nas provas, em cognição sumária, de que a Aratec recebeu no mesmo período pagamento das empreiteiras Andrade Gutierrez e Engevix, ambas com contratos com a Eletronuclear, por meio de empresas intermediárias, CG Consultoria, JNobre Engenharia, Link Projetos e Participações Ltda., e a Deutschebras Comercial e Engenharia Ltda., algumas com características de serem de fachada”, diz o juiz no despacho.
Angra 3 será a terceira usina nuclear do país e está em construção na praia de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ). Terá potência de 1.405 megawatts (MW) e gerará energia suficiente para abastecer Brasília e Belo Horizonte por um ano.
Por causa da ação, quem trabalha na Eletronuclear foi impedido de entrar no prédio da empresa no Rio nesta terça. Agentes da PF chegaram ao local às 6h e saíram às 12h05 levando malotes. Alguns funcionários esperaram em um restaurante próximo ao edifício. Segundo eles, policiais foram aos setores de informática, financeiro, comercial e presidência.
Em abril deste ano, Avancini afirmou em depoimento de delação premiada que houve “promessa” de pagamento de propina ao PMDB e a dirigentes da Eletronuclear nas obras da usina nuclear Angra 3. As informações foram obtidas pelo Jornal Nacional.
Avancini deixou a prisão em 30 de março para cumprir prisão domiciliar, após firmar acordo de delação premiada com a Justiça, homologado pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Lava Jato na primeira instância.
Uma comissão interna de fiscalização apura as denúncias e uma empresa de investigações foi contratada “para garantir a transparência e independência dos trabalhos”, segundo nota da estatal.
Com G1
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