PRESCRIÇÃO MÉDICA
Escrito por Marcos Souto Maior
Em tempos passados, um fraterno colega de trabalho, se queixou muito de incômodo no aparelho digestivo e a prendada esposa logo marcou consulta para o melhor e renomado médico da cidade, o qual trabalhava, apenas, no atendimento particular e com honorários antecipados para não perder a vez. Segundo me contou, o casal chegou na hora aprazada e uma enfermeira bonita e elegante, com maquiagem moderada, já aguardava bem vestida numa farda azul clara, sutilmente transparente, com um laço, do mesmo tecido na cintura, de extremidades cobertas por bicos brancos. As pernas eram cobertas por meias compridas da cor preta e, completando a indumentária, os sapatos de saltos baixinhos na mesma cor envernizada. Sim, um sutil perfume inebriava o recinto apagando o cheiro enjoado de álcool e éter, muito comum nos consultórios! Nevinha, ciumenta danada, fez um ar de censura a Cláudio, entretanto devido seu estado aborrecido, tirou por cima.
A porta foi lentamente aberta pela enfermeira Martha, como se fosse uma cortina de teatro apresentando o primeiro ato, com aparição pausada do doutor, pedindo para ambos sentarem-se a fim de ouvir a queixa médica. “E então, qual a reclamação o senhor sente no seu corpo?”. A resposta foi na ponta do da língua: “Sou muito extravagante com comidas gordurosas e picantes, não perdendo um final de semana com bebidas e, de uns tempos para cá, sinto dores e irritação no estômago”.
Prosseguiram as anotações detalhadas no teclado do computador médico e foram requisitados colheita de sangue, urina, fezes e exames de imagens de todo tipo. Para aliviar o desconforto, duas páginas de requisição de remédios e, o mais radical impedimento: não beber nenhum derivado de álcool e não consumir gorduras e temperos nas comidas. Uma derradeira, inevitável e explosiva pergunta o paciente fizera: “Então doutor, se eu tiver um desejo agudo de tomar uma cervejinha, que faço?”.
O facultativo pensou, pacientemente chamou Cláudio de amigo, e disse-lhe ter no rol de medicamentos, vários que abrandam o ímpeto do enfermo, do tipo Lexotan, Rivotril e muitos outros. Já sem paciência apelou: “E se estiver doido para tomar uma, nem um pingo não posso?” Aí o médico encheu o pulmão e disse:“Você venceu, tome uma ou duas lourinhas e, depois você faça uma caminhada razoável de meia hora, aonde você gosta de fazer”.
Depois de um mês, houve o retorno ao consultório médico e a primeira coisa que o médico perguntou foi, justamente, a exceção de uma cerveja estupidamente gelada. “Então, quantas voltas você deu ao redor da Lagoa, após beber?” A mulher se levantou da cadeira, atravessou irritada com a conversa e desvendando o segredo da resposta, falando alto mesmo, de imediato acabou com a brincadeira: “Ora, doutor, ele saiu de casa e disse que não aguentava mais e iria beber. Depois de duas doses com amigos da onça, saiu ligeiro do bar/restaurante, deu quatro voltas sem se cansar ao redor da Lagoa, só que utilizou o automóvel para rodar as três voltas pedidas na prescrição médica”.
(*) Advogado e desembargador aposentado
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