Publicado em: 7 nov 2016

Polícia prende quadrilha no MST e vereador do PT

Líderes do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se aproveitavam da posição de poder para cometer crimes em assentamentos e acampamentos, aponta a polícia. Segundo as investigações que se estenderam por oito meses, lideranças mantinham uma espécie de “milícia particular” e cobravam taxas, por exemplo, pelo uso de água e de energia elétrica.

Na sexta-feira (4), uma ação deflagrada no Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo prendeu oito suspeitos de integrar a quadrilha. Entre os presos está Claudelei Torrente Lima, o vereador mais votado em Quedas do Iguaçu nestas eleições pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Em nota divulgada no mesmo dia, o diretório estadual do PT disse repudiar “qualquer tentativa de criminalização dos movimentos sociais”.

Todos os presos durante a Operação Castra devem responder pelos crimes de furto e dano qualificado, invasão de propriedade, incêndio criminoso, cárcere privado, lesão corporal, porte ilegal de arma de fogo restrita e constrangimento. Dois dos principais líderes continuam sendo procurados.

Ainda de acordo com a investigação iniciada após a invasão de uma fazenda em Quedas do Iguaçu, cerca de 10 mil trabalhadores sem- terra de vários acampamentos e assentamentos da região oeste e sudoeste do Paraná vivem sob um regime de leis criadas pelos coordenadores, numa espécie de estado paralelo.

Em depoimento, muitos acampados reclamaram das penalidades impostas a quem não cumpre as regras estabelecidas pelo grupo.

Ligações telefônicas interceptadas com autorização da justiça revelam que quem quiser sair do acampamento precisa pedir permissão.

Nestes locais, conforme um ex-morador que viveu na região de Quedas do Iguaçu, a segurança das áreas ocupadas é feita por milícias, as chamadas equipes de disciplina, que estabeleciam inclusive toque de recolher.

No fim de 2015, durante uma operação de reconhecimento de uma área ocupada, a polícia apreendeu uma filmadora. No equipamento, foram encontrados vídeos gravados pelos próprios integrantes do movimento, derrubando árvores e provocando incêndios.

O uso de arma de fogo também foi comprovado por algumas escutas telefônicas e imagens em que um dos líderes, conhecido como lobisomem, negocia a compra e a venda de armas e munição.

A polícia identificou também que as invasões comandadas pelo grupo normalmente são feitas em fazendas produtivas, seja por agricultura, pecuária ou plantação de madeira. Em alguns casos, eles até negociavam com os próprios donos das terras e cobravam quantias em dinheiro para que os produtores rurais pudessem colher a plantação.

“Com as investigações a gente conseguiu estabelecer qual a função que cada um estabelecia, não era uma função estanque em que somente exercia aquela, mas cada um, em relação a sua personalidade e até mesmo da ligação que tinha com o grupo, já tinha uma função pré-estabelecida”, explicou a delegada Anna Karyne Palordeto.

O secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita de Oliveira, disse que a operação deflagrada esta semana não visou o MST como um todo, mas quadrilhas que agem no interior do movimento.

“Não estamos aqui para tornar crime a atividade de reforma agrária. Iniciamos uma investigação criminal com base em boletins de ocorrência. E, um grupo que tinha formado uma milícia estava praticando crimes de extorsão, furtos e roubos, e obtendo lucro em cima desses crimes e subjugando inclusive os próprios assentados”, comentou.

Confira abaixo a nota divulgada pelo MST sobre as prisões:

Em relação às ações da Polícia Civil do estado do Paraná no âmbito da denominada “Operação Castra” em Quedas do Iguaçu no dia 04/11/2016, os advogados do caso esclarecem:

1 – O MST é um movimento social popular legítimo, conforme afirmado pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento realizado no dia 18/10/2016. Todos os cidadãos brasileiros têm o direito de organização e de reunião, inclusive para lutar pela Reforma Agrária, bem como para que as propriedades rurais e urbanas do país cumpram sua função social. É ilegal e abusivo utilizar da Lei n. 12.850/13 (Lei de organizações criminosas)  pelo simples fato de pessoas serem militantes do MST.

2 – Embora os autos dos Inquéritos ainda não estejam disponíveis para a equipe de advogados, da análise dos documentos a que foi possível acesso, constata-se que as armas apreendidas no âmbito da Operação Castra pertencem à EVALDO DE AZEVEDO, que foi preso dias antes, noutra operação, e não guarda nenhuma relação com o Movimento Sem Terra ou com o Acampamento Dom Tomás Balduíno. 

3 – A tentativa de criminalização do MST na região de Quedas do Iguaçu ocorre há anos devido ao grande número de conflitos decorrentes da grilagem de terras na região. Desde maio de 2014 aproximadamente 3 (três) mil famílias ocupam áreas da União griladas ilegalmente pela empresa ARAUPEL. A Justiça Federal declarou que as terras pertencem à União e que devem ser destinadas às famílias que aguardam pela Reforma Agrária.

4 – O judiciário de Quedas do Iguaçu e a Polícia Civil do Paraná têm agido de forma parcial para criminalizar a luta social na região. Em abril deste ano dois trabalhadores rurais foram assassinados Polícia Militar quando estavam dentro do acampamento do MST, e até o presente momento ninguém foi denunciado por tais crimes.

5 – As ilegalidades cometidas no curso da Operação Castra são graves e flagrantes. São injustificáveis os abusos policiais praticados na Escola Nacional Florestan Fernandes – ENFF, em São Paulo, na qual, Policiais Civis do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos – GARRA, não identificados, sem mandado judicial, invadiram a sede da escola disparando armas de fogo com armamento letal e proferindo ameaças de todas as ordens, inclusive de morte aos estudantes, professores e trabalhadores presentes. Na ocasião a cantora Guê Oliveira e o bibliotecário Ronaldo Valença, de 64 anos, que possui Mal de Parkinson, foram presos e agredidos pela Polícia sem qualquer motivo.

6 – As ações e recursos cabíveis já estão sendo elaborados para revogação das prisões arbitrárias e denúncia das ilegalidades cometidas.

Giane Alvares, Juvelino Strozake, Luciana Pivato , Diego Vedovatto e Paulo Freire.

São Paulo (SP), 06 de novembro de 2016.

G1



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