O presidente da Petrobras, general da reserva Joaquim Silva e Luna, afirmou nesta terça-feira (14), no plenário da Câmara dos Deputados, que a empresa não repassa a oscilações pontuais dos preços internacionais do petróleo para o valor dos combustíveis no Brasil.
As declarações foram dadas em meio ao aumento do preço da gasolina, que chega a ultrapassar a marca dos R$ 7 em algumas cidades do país — retroalimentando a inflação (veja mais abaixo).
Segundo ele, primeiro a empresa verifica se o aumento é estrutural, ou seja, se tem um caráter mais permanente, ou se é conjuntural (passageiro).
“O que é conjuntural, ela absorve e procura entender ao máximo possível essa lógica de mercado”, declarou.
Assista abaixo a reportagem de 28 de agosto que fala sobre o preço recorde da gasolina no Brasil.
Silva e Luna declarou que o interesse da Petrobras é o Brasil e, quando a empresa gera lucros, está gerando dividendos para o seu maior acionista, que é a União. De acordo com ele, o pagamento de dividendos ao governo federal somou R$ 20 bilhões de 2019 a 2021.
“A melhor maneira que a Petrobras pode contribuir com o Brasil é ser uma empresa forte, poder fazer investimentos muito bem selecionados, muito bem cuidados, e ter uma forte governança, evitando qualquer desvio, qualquer ação que não seja no sentido de somar, com foco naquilo que ela faz de melhor”, disse Silva e Luna.
Para o presidente da Petrobras, não há espaço para “qualquer tipo de aventura” dentro da empresa. Ele disse que a Petrobras “saudável” contribui para a sociedade brasileira também por meio de tributos pagos ao governo federal, estados e municípios, que somaram mais de R$ 500 bilhões nos últimos anos.
Silva e Luna tomou posse em abril deste ano, no lugar do economista Roberto Castello Branco. A mudança aconteceu após o presidente Jair Bolsonaro ter feito uma série de críticas aos reajustes de preços de combustíveis no fim da gestão Castello Branco, quando chegou a dizer que não iria “interferir” mas que poderia mudar a “política de preços” da estatal com o apoio da Câmara dos Deputados.
O aumento nos preços dos combustíveis nas bombas também tem sido motivo de embate entre o presidente e os governadores. Bolsonaro tem cobrado publicamente que os estados reduzam o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para que, dessa forma, os preços da gasolina e do diesel recuem.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Comitê Nacional de Secretários da Fazenda, Finanças, Receitas ou Tributação dos Estados e Distrito Federal (Comsefaz) informou que, desde 2019, a alíquota do ICMS cobrado pelos estados não aumentou e que, portanto, os reajustes dos combustíveis se devem à política de preços da Petrobrás — atrelada aos preços do mercado internacional e ao câmbio.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Na segunda-feira (13), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, criticou o aumento no preço dos combustíveis e do gás de cozinha e cobrou ação da Petrobras.
“O que a Petrobras tem a ver com isso? (…) A Petrobras deve ser lembrada: os brasileiros são seus acionistas”.
Joaquim Silva e Luna também afirmou que a empresa está prestando atenção às necessidades do país diante da crise hídrica, que tem gerado aumento no preço da energia elétrica. Segundo ele, a empresa triplicou a oferta de gás para usinas térmicas nos últimos 12 meses.
Alta dos combustíveis e inflação
No acumulado deste ano até agosto, o preço da gasolina já avançou 31,09%, enquanto o do diesel acumula alta de 28,02%, o que tem pressionado a inflação – que chegou a 5,67% nos oito primeiros meses deste ano, a maior taxa para o mês desde 2015, segundo dados do IBGE.
O analista da pesquisa de preços do IBGE, André Filipe Guedes Almeida, de janeiro a agosto deste ano, oito meses, o preço da gasolina sofreu alta em sete deles. Somente em abril houve queda no preço dela, de 0,44%.
Um dos principais motivos para as altas da gasolina e do diesel vem sendo a alta do dólar, que, até esta segunda-feira (13) acumula aumento de 1,04% no mês e de 0,7% no ano. Em 2020, a moeda norte-americana avançou quase 30%.
Além disso, o valor do combustível também é influenciado pela recuperação da cotação do petróleo no mercado internacional, que vem registrando alta na esteira da recuperação da economia mundial (por conta do avanço da vacinação e subsequente melhora na pandemia da Covid-19).