Publicado em: 3 nov 2013

Pastoras lésbicas que fundaram igreja evangélica em São Paulo vão se casar

1383392810718-pastoras Pastoras3O pedido já estava fazendo bodas de cobre: faz dez anos que Lanna Holder, 38, perguntou se Rosania Rocha, 40, se casaria com ela. É que à época a lei brasileira não deixava pessoas do mesmo sexo se casarem e as duas faziam parte de uma igreja que nada simpatizava com a ideia.

Mas agora sai. Em 19 de dezembro as duas pastoras que fundaram a igreja evangélica Comunidade Cidade de Refúgio, no centro de São Paulo, sobem ao altar.

Em grande estilo: elas vão se casar num bufê em formato de castelo em Mauá, cidade no interior de São Paulo. “Minha mulher é uma rainha, então nada mais adequado”, justifica Lanna, que teve a ideia de cenário quando voltava do aeroporto e viu um outdoor perguntando “Você já pensou em se casar num castelo?”. Ela levou como um sinal. E essa história é cheia deles.

A começar pelo momento em que as duas se viram pela primeira vez. Rosania era uma cantora gospel radicada nos EUA que se vestia com roupas descoladas e não tinha medo de maquiagem. Já Lanna era uma missionária em ascenção no Brasil que foi convidada a propagar sua fé em solo americano. “Ela chegou com uma saia rodada, jeans, e um cabelão preso no coque. Achei estranho”, diz Rosania, “mas senti vontade de me aproximar”.

A vontade se concretizou e as duas ficaram amigas. “Ensinei ela a usar um pouco de maquiagem, usar uns terninhos em vez das roupas muito conservadoras de então”, diz Rosania, que era casada, tinha um filho e nunca se sentira atraída por outra mulher.

Já Lanna sabia bem o que sentia. “Sempre tive esse desejo, e tentava lutar contra. Por isso, tinha um discurso ainda mais anti-gay do que o Silas Malafaia tem hoje em dia.”

A atração pela amiga venceu. Seis meses depois de se conhecerem, durante uma viagem a Nova York, Lanna aproveitou que as irmãs de igreja estavam dormindo ou no banho e roubou uma bitoca de Rosania.

E começou um namoro escondido e cheio de culpa. “Era duro. Pedíamos para Deus nos matar durante esse período”, diz Rosania. Não matou. Então as duas acharam por bem se sentarem com os dois maridos e, juntas, pôr às claras o que acontecia. Três meses depois, Lanna estava divorciada.

Já Rosania lutou para salvar seu matrimônio. “Passamos quatro meses em batalha contra nosso amor”, conta ela. Durante esse período, chegaram a ficar nove meses sem se falar.

O silêncio foi rompido por uma notícia triste: Lanna havia sofrido um acidente de carro e estava na UTI, com quatro costelas quebradas e um coração que mal batia. “Foi nessa hora que me dei conta: o que seria de mim se perdesse ela?”, lembra Rosania, que passou a fazer visitas contra os conselhos dos pares da igreja. “Eles diziam que o acidente tinha sido providência divina, que cada vez que eu fosse vê-la ela ia piorar um pouco, até morrer.”

“Diziam que o acidente era a providência de Deus, para mostrar que estávamos errando. Mas Ele falou comigo, para eu ir. E eu ia”, relembra Rosania. “E a cada vez que ela ia, eu melhorava”, diz Lanna.

Decidiram ficar juntas de vez quando Lanna recebeu alta, mesmo que isso significasse se afastar da igreja. “A gente só se aproximou mais e mais.”

Durante o namoro, outro sinal brilhou. Um dia, conversando, Rosania disse que adorava margaridas. Na mesma semana, as duas viajavam por uma auto-estrada quando Lanna Viu um campo de margaridas sobre o morro, no acostamento. Parou o carro sem pensar duas vezes, subiu a ladeira e voltou com os braços cheios de margaridas, que entregou de joelhos. “Foi o começo do pedido”, diz.

A proposta em si foi durante uma conversa séria sobre como havia impedimentos ao amor. “Perguntei se ela queria superar todas elas comigo”, diz Lanna. A resposta foi sim.

 Folha de São Paulo




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