Publicado em: 6 mar 2015

Para comentarista, Dunga acerta ao afastar Seleção do futebol jogado hoje no país

A seleção brasileira vive curiosa contradição. Desde que reassumiu o comando após o fiasco na Copa do Mundo, o eterno 7 a 1, Dunga e as vozes da CBF batem na tecla do resgate do futebol brasileiro. Mas todos os seus treinos, convocações e escalações, e suas impressões sobre o jogo deixam claro que o intuito é deixá-la cada vez mais europeia, mais distante do futebol retrógrado que ainda se pratica na maioria dos campos tupiniquins.

Há um nítido constrangimento em admitir que o país não tem mais os melhores jogadores nem o melhor futebol do mundo. É evidente que todos sabem disso, até falam timidamente vez ou outra, com a voz baixinha, a mão na boca, mas reconhecer a inferioridade publicamente parece quase um desrespeito ao orgulho patriótico.

Na última quinta-feira, por exemplo, ao convocar a Seleção para os amistosos de março contra França e Chile, nos dias 26 e 29 de março, Dunga disse o seguinte:

– Ouvi dizer que os jogadores brasileiros não estavam mais indo para a Europa, e sim para países asiáticos. Para mim é muito mais simples: os países europeus não têm mais condições econômicas de comprar os melhores jogadores.

É difícil acreditar até que Dunga acredita nisso. Os melhores jogadores estão, e estarão por décadas e mais décadas na Europa. Cristiano Ronaldo, Messi, Suárez, Ibrahimovic, Iniesta, Schweinsteiger, Robben e tantos outros, inclusive o único brasileiro capaz de ser inserido neste primeiro escalão do futebol, o craque Neymar. Eles não estão na China ou no “mundo árabe”.

A Europa tem dinheiro sim. Porém, gasta com mais prudência do há alguns anos. O Brasil é que não tem mais matéria-prima em abundância que valha investimentos vultosos e seguros.

A boa notícia é que a dificuldade de encarar a realidade parece estar restrita às entrevistas do comandante. Desde o primeiro ato na Seleção, Dunga prega conceitos vistos nas três conquistas europeias seguidas na Copa do Mundo: Itália em 2006, Espanha em 2010 e Alemanha em 2014.

Diego Tardelli, treino Shandong engenhão (Foto: Fabio Lima)
Diego Tardelli é o mais adiantado de uma Seleção que não tem centroavante (Foto: Fabio Lima)

Também seria injusto colocar na conta do treinador a responsabilidade de reduzir o abismo entre o futebol europeu e o brasileiro. Trata-se de um problema muito mais amplo e que deve ser resolvido, inicialmente, pelos dirigentes. Dentro de campo, ele pode fazer sua parte, e tem feito.

Dos 23 convocados para os próximos amistosos, 17 atuam na Europa. Portanto, é claro que os melhores jogadores estão lá. Dunga fala repetidamente em velocidade, “jogar em bloco”, sinônimo de compactação. Seus volantes não são meros destruidores, inclusive Luiz Gustavo, cuja presença é praticamente imposta por seu desempenho na Seleção, desde 2013.

O camisa 9 fixo, parado, parede, pivô, também foi sepultado. Não há espaço para jogadores estáticos. Seus treinos são mais intensos e velozes. É muito cedo para criar expectativas, sim, mas a ideia vista nas seis partidas do ano passado, e no dia-a-dia de trabalho, é promissora.

Nessa mesma entrevista de quinta-feira, Dunga exigiu qualidade, velocidade, inteligência e mentalidade vencedora como características essenciais para quem almeja um lugar em sua seleção. Parece óbvio, mas são pilares que técnicos e dirigentes brasileiros ainda parecem não ter entendido ao montarem suas equipes.

O “resgate do futebol brasileiro” que Dunga tenta promover é distanciar a Seleção cada vez mais da mesmice verde e amarela, e dar a ela um desenho europeu. Pois é lá que estão, não só os melhores jogadores, como também o melhor futebol do mundo.

Portal do Litoral PB

Com Globoesporte



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