NÃO DEIXEM O CABO BRANCO ACABAR
NÃO DEIXEM O CABO BRANCO ACABAR
Escrito por Marcos Souto Maior
Desde menino contemplo o Cabo Branco, ponto mais avançado das Américas, banhados pelo oceano Atlântico aonde o sol chega primeiro para mostrar a luz do dia! Saía do centro da bela praia de Tambaú e caminhando até a monumental falésia, especialmente com a maré baixa, onde poderia ver os peixinhos passeando nas piscinas naturais. Certa vez, demorei tanto na brincadeira além-mar que meus pais e os dos meus coleguinhas, saíram aperreados atrás de mim e os outros, em tempos que não havia o providencial telefone celular. Levei ainda umas laboradas, mesmo achando injustos os efeitos da ‘chinela de couro’ de meu pai, esbravejando com rosto vermelho pelo perigo de um acidente qualquer. Apanhei, ainda, algumas pedras de giz colorido e voltei escoltado para casa. Tempos bons aqueles!
Já num tempo adiante, enquanto fui Secretário de Cultura, Esporte e Turismo da Paraíba, sendo meu governador o dinâmico homem público, Milton Bezerra Cabral, tive a oportunidade de conversar com o saudoso Celso Furtado, ao tempo em que era Ministro da Cultura do presidente José Sarney, no espaço de 1986 a 1988, aprovando todos os projetos culturais paraibanos apresentados e deferidos. Noutra oportunidade, convidei o também paraibano Celso Furtado, para darmos uma passada na sofrida falésia do Cabo Branco. Enxerido, como sempre, rabisquei num papel algumas simplórias providências que encurtaram o ponto que mais se chega ao continente africano. Sem experiência, ainda hoje imagino convicto, que a implantação de gabiões de rochas sobrepostas e amarradas com redes de aço zincado e aramas resistentes de contenção, serviriam para amenizar os impactos das ondas fortes, da maré alta.
O paraibano ilustre da cidade de Pombal, e ministro da cultura, disse-me que as implantações de gabiões de contenção seriam poucas para impedir a vulnerabilidade das ondas azuis da praia, com desmoronamentos agressivos da falésia. Aí, o tempo também não foi suficiente para acudir e manter, infelizmente, o maior monumento natural do nordeste.
Chegamos ao momento radical e funesto, em que ninguém mais pode chegar perto à balaustrada que descortinava a visão interminável e linda no descortinar do outro lado do oceano Atlântico, em direção ao continente africano. Pior de tudo, o nordestino perde, sim, o orgulho de exibir o que há de belo e providencial que a natureza plantou para turistas verem também.
Ficamos sem eira nem beira, porque o infausto direcionamento das coisas boas, relegadas ao descaso, pelo poder público municipal e estadual paraibano, seria uma restauração ao clamor ousado da população, que perde por negligência e irresponsabilidade um dos símbolos, apagado pelas ondas dolentes do ponto mais oriental das Américas.
Em 1972, o majestoso Farol do Cabo Branco fora inaugurado para assumir ponto de orientação, aos que singram os mares nordestinos, sendo único farol do país no formato triangular, hoje apagado em seu brilho e luminosidade, para ceder à escuridão da incompetência, de que fecham os olhos para não ver!
(*) Advogado e desembargador aposentado
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