Morre o ator, apresentador e compositor Luiz Carlos Miele, aos 77 anos
Morreu na manhã desta quarta-feira o produtor musical, compositor, apresentador de TV e ator Luiz Carlos d’Ugo Miele, aos 77 anos. De acordo com o Corpo de Bombeiros, Miele foi vítima de mal súbito, dentro da casa onde morava, na Gávea, Zona Sul do Rio. Ainda não há informações sobre o sepultamento do produtor.
Miele ficou conhecido como um dos maiores produtores da Bossa Nova. Na década de 70, formou dupla com o compositor Ronaldo Bôscoli, responsável por produzir espetáculos musicais memoráveis na televisão. Teve passagens pela Rede Globo, TV Tupi, SBT e Record. Entre os principais artistas que produziu na carreira estão Elis Regina, Roberto Carlos, Wilson Simonal e Sergio Mendes.
Segundo Vania Barbosa, empresária e amiga de Miele há 15 anos, o produtor e ator saiu nesta terça-feira para jantar com a mulher, Anita, e uns amigos, e voltou para casa bem.
“Quando a Anita acordou hoje cedo, por volta das 7h30, ele não estava na cama. Ele saiu do quarto e o viu caído no chão do escritório. Ela está em estado de choque”, contou a empresária, chorando muito.
Miele e Anita estavam casados há 47 anos e não tinham filhos.
Última foto mostra Miele comemorando com amigos
Um registro publicado no Facebook mostra Miele sorridente comemorando o aniversário de um amigo durante um jantar no Rio, na madrugada de segunda-feira. O amigo em questão é o produtor musical Luiz Paulo Assunção.
– Ele esteve na minha casa na madrugada de segunda-feira comemorando o meu aniversário. Estava acompanhado da mulher, e nos divertimos muito. Ele estava muito feliz. Bebeu suas doses de uísques, jantamos bacalhau, e ele disse que só ia embora quando eu o expulsasse daqui. Comemoramos das 21h até as 4h da manhã, quando eu chamei um táxi para ele ir embora -, conta o produtor e amigo de Miele há 20 anos: – Ontem mesmo nos falamos e ele estava ótimo.
‘Super-homem’, diz Marcos Valle
O cantor Marcos Valle, grande amigo de Miele, lamentou a morte de quem ele considera um super-homem, por ter atuado em tantas áreas diferentes.
– A gente sempre brincava que considerava ele um super-homem, porque teve alguns acidentes e sempre se recuperou muito bem. Estava sempre trabalhando, fazendo mil coisas, recentemente estava gostando muito de atuar. Teve uma importância muito grande, na bossa nova e na música em geral. Produziu shows incríveis, criou tendências, lançou vários artistas. O Miele é uma pessoa que marcou. Deixou a marca dele como grande artista e grande amigo – conta Marcos Valle.
O cantor, que encontrou o amigo pela última vez meses atrás, em um sarau, destaca também a alegria que Miele transmitia.
– Estivemos juntos há alguns meses no sarau na casa de um amigo em comum. Estava muito bem, fazendo a festa, como sempre. Cantou, dançou. Ele sempre me pedia para tocar duas músicas minhas, que ele gostava em especial: “O amor é chama” e “Vou enlouquecer”. Sempre que ia em um show meu, gritava da plateia pra eu cantar.
Outros artistas utilizam as redes sociais para prestar homenagens a Miele. O ator Mateus Solano lamentou a morte em seu perfil no Twitter. “Faça uma linda viagem, Miele”, escreveu.
O apresentador Amaury Junior disse que o dia amanhecia mais triste com a notícia da morte do ator. Amaury comentou que, sem Miele, o mundo perde o humor mais refinado. A jornalista Hildegard Angel postou uma foto antiga ao lado do compositor e lembrou a amizade antiga entre eles.
Documentário estava sendo preparado
O amigo e produtor musical Luiz Paulo Assunção trabalhou durante anos em alguns shows e discos de Miele. Ele conta que estava ajudando nos preparativos do relançamento da biografia do artista e também produzindo um documentário sobre o amigo para o ano que vem.
– Agora, é difícil falar como fica tudo isso. Estou muito triste. Mas a memória de Miele tem e sempre será lembrada.
Participação na “Dança dos famosos”
Em setembro do ano passado, Miele participou do quadro “Dança dos famosos”, do Domingão do Faustão, da TV Globo, com a bailarina Aline Riscado. Ele foi eliminado na primeira fase e concorreria a uma das duas vagas na repescagem do quadro. Porém, Miele sofreu a crise de gota, uma doença reumatológica, inflamatória e metabólica que afetou o joelho dele. O problema impossibilitou o produtor e cineasta de dar continuidade aos ensaios e ele deixou a competição.
Trajetória
Paulista nascido em 1938, Miele cresceu acompanhando a mãe, a atriz e cantora Irma Miele, por estúdios e emissoras de TV e rádio. Seu primeiro trabalho na área foi como locutor das rádios Nacional, Excelsior e Tupi, e a estreia na TV viria em meados de 1950, como assistente de estúdio TV Paulista.
A história de Miele com a Bossa Nova começaria em 1959, quando se mudou para o Rio para trabalhar na TV Continental. Foi quando conheceu Ronaldo Bôscoli, letrista e repórter da Revista Manchete engajado no movimento da Bossa Nova, com quem travou uma das parcerias mais bem-sucedidas do show business brasileiro.
No ano seguinte, Miele começaria a produzir os primeiros programas especiais com grandes nomes do estilo, como Silvinha Telles e João Gilberto, entre outros. Em seguida, a convite de Bôscoli, Miele começaria também a produzir shows no Beco das Garrafas com artistas como Sérgio Mendes, Tamba Trio, Elis Regina e Wilson Simonal.
Miele e Bôscoli foram contratados pela Rede Globo em 1965, e foram responsáveis por sucessos como “Um Cantor por Dez milhões, Dez Milhões por uma Canção”. Até o final da década, produziram e dirigiram vários programas nas principais emissoras da época: na TV Rio, Cara & Coroa; na TV Excelsior, Dois no Balanço; e na TV Record, O Fino da Bossa.
Em 1970, de volta à Globo, ele assumiu a apresentação de Mister Show, em que contracenava com o ratinho Topo Gigio, mas não abandonou as carreiras de produtor e diretor. Ao lado de Bôscoli, fois responsável por dois especiais de Elis Regina, em 1971 e 1972, pelo programa mensal Viva Marília, que unia shows e atualidades e ainda compôs a música de abertura do Show da Girafa, apresentado por Murilo Néri e Sandra Bréa. em 1973, assumiria, ainda ao lado do amigo, a parte musical do Fantástico, e apresentou, ao lado de Sandra Bréa, o musical Sandra & Miele.
Nos anos seguintes, Miele se tornaria apresentador de festivais de música como o MPB 80 (março a agosto de 1980) e o MPB Shell 81 (março a setembro de 1981). Em 1985, já na TV Manchete, apresentou programas como Miele & Cia. e Ele & Ela, com Leila Richers e, em 1992, no SBT, comandava o Coquetel. Depois de um tempo afastado, Miele voltaria assumir a função de apresentador em 2002, com A vida é um show, na TVE. Ele ainda dirigiu gravações de DVDs e assinaria a autoria do livro “Poeira de Estrelas: Histórias de Boemia, Humor e Músicas”, pela Ediouro.
Miele voltaria a atuar em 2005, quando viveu o advogado Wexler, no seriado Mandrake, baseado nos contos de Rubem Fonseca; em 2008, com a participação em um episódio do seriado Casos & Acasos; e em 2011, em Tapas & Beijos, como Giusepe, pai do personagem de Vladimir Brichta. Em 2012, fez um imponente e corrupto político na minissérie O Brado Retumbante; e em 2014, atuou na minissérie A Teia e na novela Geração Brasil.
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