Publicado em: 23 set 2015

Lava Jato: PT não via problema em aceitar dinheiro ilegal, diz delator

Fernando Antonio Guimarães Hourneaux de Moura comparece à CPI da Petrobras em Curitiba

Mais novo delator da Lava Jato, o lobista e operador de propinas do PT Fernando Moura disse em depoimentos de delação premiada que os petistas consideravam “aceitável” receber dinheiro por meios ilícitos para financiar a legenda. Aos procuradores do Ministério Público, Moura detalhou a atuação dele em parceria com o ex-secretário-geral do PT, Silvio Pereira, responsável pelo loteamento de cargos no início do primeiro mandato do ex-presidente Lula. O operador disse ainda que após não conseguir trabalhar com José Dirceu na Casa Civil, recebeu a missão de “ajudar em nível de governo”.

Já durante as eleições de 2002, que levaram Lula ao poder, Fernando Moura disse ter conhecido Licínio de Oliveira Machado, sócio da Etesco Construções e Comércio. O executivo apresentou a ele o nome de Renato Duque, posteriormente indicado por Dirceu e Silvio Pereira para a diretoria de Serviços da Petrobras. Moura revelou que a partir da entrada de Duque na cúpula da estatal, houve indícios de que um esquema de desvio de dinheiro de contratos estava a pleno vapor. “Tão logo confirmada a indicação de Duque, Licínio agradeceu o esforço do declarante e acertou que a Etesco lhe pagaria 10.000 dólares mensais como recompensa pela ajuda na nomeação de Renato Duque”, disse em um trecho da delação. Segundo a versão do delator, depois da nomeação de Duque, o contrato da Etesco com a Petrobras “se multiplicou”.

“A Etesco, que era uma empresa de pequeno/médio porte do Butantã, sediada perto do diretório regional do Partido dos Trabalhadores, passou repentinamente a figurar como player entre as gigantes da construção civil”, relatou ele. Como a fraude e incapacidade técnica da empreiteira eram evidentes, a Etesco passou a negociar a cessão de contratos a outras companhias.

No final de 2003, ainda sob sua intensa articulação, Fernando Moura indicou para Renato Duque a empresa Hope, apontada pelo Ministério Público como um dos caixas de propina do petrolão. Com isso, o contrato da companhia com a Petrobras à época saltou dos 10 milhões de reais para 40 milhões de reais. Desde então, passou a ser recolhida da companhia propina de 3%, sendo 2% para o diretório regional do PT repassar a campanhas políticas, como no Rio de Janeiro, Vitória e Fortaleza. O 1% restante era embolsado pelo próprio Fernando Moura. Na sequência, mais uma empresa quis participar da sangria dos cofres da Petrobras. A Personal, de acordo com o delator, também pediu para ingressar no esquema criminoso. Com as concorrentes Hope e Personal já como integrantes do petrolão, coube ao lobista Milton Pascowitch repartir contratos entre as duas companhias.

Em 2004, Fernando Moura teria nova atuação efetiva em benefício do caixa do PT. Em seu acordo de delação, ele disse que recolheu dinheiro da Camargo Corrêa para ser destinado aos petistas – 350.000 reais das mãos do lobista Julio Camargo e 300.000 reais entregues pelo então presidente do Conselho de Administração da empreiteira, João Auler. Os valores, conforme o delator, foram encaminhados ao então secretário-geral do PT, Silvio Pereira.

Apenas no ano de 2005, já sob os efeitos do escândalo do mensalão, é que os negócios obscuros do lobista Fernando Moura perderam força. Segundo o delator, ele foi aconselhado pelo próprio José Dirceu, naquela época enfrentando processo de cassação na Câmara dos Deputados, a deixar o país para não levantar suspeitas. Moura relata que, com o mensalão, recebeu um “cala boca” de empresas que tinham contato com o governo federal, enquanto Silvio Pereira, também investigado na época como mensaleiro, teria recebido a mesma mensagem da UTC e da OAS para não revelar o modus operandi instalado na Petrobras. Fernando Moura se mudou para Miami e, para continuar sem denunciar nada, recebia 100.000 reais mensais.

Com o passar do tempo, com o operador de propinas do PT nos Estados Unidos, coube a Milton Pascowitch ocupar o espaço de lobista junto a Petrobras. Também ligado a Dirceu, Pascowitch, segundo Moura, “tinha o controle total de todas as operações da diretoria de serviços e transformava rapidamente contratos de dezenas de milhões [de reais] em contratos de centenas de milhões [de reais]”.

Com Veja



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