A CBF parece querer ajudar na evolução do futebol feminino. E para isso, a entidade resolveu remodelar o Brasileirão Feminino ao introduzir a segunda divisão (Série A2) e distribuir premiações e ajudas de custo aos participantes.
A partir de 2017, serão 16 times em cada nível, todos tendo direito a transporte, acomodação e alimentação para 24 pessoas, prêmio de participação (R$ 15 mil na elite e R$ 10 mil na segundona) e por classificação a cada fase dos torneios, com R$ 120 mil para o campeão da Série A1 e R$ 50 mil para o da segunda divisão.
Além disso, cada time mandante receberá R$ 10 mil para pagar os custos das partidas, enquanto os visitantes levam R$ 5 mil para outras despesas (nas duas divisões).
A CBF já começa a vacilar bem aí, já que esses valores são irrisórios e absurdos. Como um clube de futebol pode manter uma equipe com tão pouco dinheiro? Mesmo quem levar os tais R$ 120 mil, quanto terá gasto ao longo da temporada com treinos, salários e outras despesas para poder levantar a taça? Porém, o pior não é nem isso…
Clubes prejudicados
O grande vacilo da CBF é na definição dos participantes. Na elite, o atual campeão brasileiro feminino (Flamengo), o campeão da Copa do Brasil da modalidade (Audax) e os oito primeiros do Ranking do Futebol Feminino até são escolhas acertadas, mas a anomalia suprema acontece a seguir.
Faltando seis times, em vez de a CBF escolher os classificados seguintes do Ranking Feminino, por exemplo, a entidade simplesmente resolveu se basear na CLASSIFICAÇÃO FINAL DA SÉRIE A MASCULINA EM 2016!
Assim, Corinthians (renovaram a parceria com o Audax ao fim de 2016, mas ficaram com duas vagas, uma pela Copa do Brasil, via Audax, e a da Série A, pelo Corinthians), Grêmio, Ponte Preta, Santos, Sport Recife e Vitória foram os agraciados.
Qual o problema disso?
Além de ser TOTALMENTE ERRADO utilizar uma classificação do masculino para definir times no feminino, a CBF beneficiou clubes que não participaram dos primórdios do futebol feminino, pois não tinham times na modalidade (Grêmio e Ponte se enquadram).
Enquanto isso, equipes que vêm investindo no futebol feminino desde a primeira edição do Campeonato Brasileiro em 2013 foram excluídas da primeira divisão justamente na hora em que a CBF começa a dar mais importância aos torneios. Times que entraram em campo mesmo sem receber os atuais incentivos financeiros nem quando havia um norte de esperança para a modalidade, o que começa a se desenhar.
Para ficar em alguns exemplos, o Caucaia/CE disputa o Brasileirão desde 2013 e a Copa do Brasil desde 2008, além de ser o 10º colocado no Ranking Feminino. Porém, a equipe vai começar 2017 na segunda divisão, assim como o CRESSPOM/DF, hexa campeão brasiliense e semifinalista na Copa do Brasil 2016, sendo eliminado justamente pelo campeão Audax. Ainda vale lembrar do Centro Olímpico/SP (ou ADECO), que é o nono no ranking nacional, campeão do primeiro Brasileirão em 2013 e terceiro colocado em 2014 e 2015, além de vice na Copa do Brasil 2012.
O que deveria ser feito
A CBF deveria aumentar o número de participantes nas duas divisões – de 16 para 20 -, assim como ocorre no masculino. É evidente que quatro equipes a mais não provocariam grande diferença nos custos da competição, já que os acordos com as empresas de transporte, hotelaria e alimentação devem ser coletivos, debatendo-se parte do valor.
Com o dinheiro para mandantes e visitantes, isso custaria apenas R$ 270 mil a mais para a CBF (duas divisões), mais R$ 60 mil das participações na elite e R$ 40 mil na segunda divisão. Total de irrisórios R$ 370 mil a mais.
Dito isso, a CBF poderia ter tomado um dentre dois caminhos:
Numa atitude justa com aqueles clubes que estão investindo no futebol feminino, deveriam ter ganhado vaga os 20 melhores do Ranking da modalidade. Outra opção tranquila de fazer era convidar os 20 times (sim, foram 20 mesmo!) que jogaram o Brasileirão Feminino em 2016.
E o América?
Na situação atual, o América Mineiro, sétimo colocado no Brasileirão 2015 e 12º no da temporada seguinte, está na segunda divisão. E isso simplesmente pode não ser nada atrativo para o clube investir no futebol feminino. É bom lembrar que a elite feminina será transmitida, o que permite atrair patrocinadores, nem que seja no abatimento de custos. As jogadoras também ficam mais valorizadas.
O atual campeão mineiro feminino não tem time desde o fim da competição, como a imprensa abordou à época. Com contratos finalizados, as meninas não sabem se terão camisa para vestir em 2017, já que a queda para a Série B no masculino atrapalhou as finanças do clube. Sem dinheiro e benefícios para investir e pelo menos não ter prejuízo com o feminino, será que o América vai jogar a segunda divisão feminina?
As outras equipes que vêm batalhando há mais tempo ficarão esquecidas na segunda divisão, enquanto Grêmio e Ponte Preta, que nunca colocaram um centavo na modalidade, viverão os holofotes da elite por causa de seus times masculinos.
Será que, fazendo isso, a CBF está mesmo ajudando na evolução do futebol feminino? Resta saber também se o Profut, que já foi adiado para 2018, vai mesmo sair do papel com a obrigatoriedade dos clubes em ter equipes femininas em atividade.