Publicado em: 12 jun 2014

Fome ainda afeta mais de 600 mil na Paraíba

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Com a renda semanal de aproximadamente R$ 100, Rosicleide da Silva dificilmente vai ao supermercado fazer compras de alimentos ou produtos de limpeza, como fazem muitas donas de casa. No casebre onde mora, na comunidade do “S”, em João Pessoa, a cozinha improvisada quase não é utilizada, e os poucos ingredientes disponíveis no armário não são suficientes para as refeições diárias. A jovem faz parte do universo de 602.820 mil paraibanos, 15,4% da população, que estão em situação de indigência e pobreza, segundo estimativas do Conselho de Segurança Alimentar do Estado (Consea).

Os números repassados pela entidade têm como base um levantamento feito pelo Ministério do Desenvolvimento Social a partir do Censo 2010 e revelam que as pessoas abaixo da linha da pobreza tinham renda per capita de até R$140. O presidente do Consea-PB, Arimatéa França, explicou que pessoas nesta situação não conseguem fazer o mínimo de três refeições por dia e quando fazem não conseguem ingerir todos os alimentos com as calorias e nutrientes necessários.

Na casa de Rosicleide, perto da hora do almoço, no fogão há somente um pouco de arroz, doado pela mãe dela. A jovem conta que esta cena se repete quase que diariamente. “Nós estamos passando uma necessidade muito grande ultimamente. Eu não posso trabalhar e a gente vive só com o dinheiro que meu marido ganha olhando carros”, revelou a dona de casa, que há 16 dias deu à luz o pequeno Henrique Gabriel.

Segundo Arimatéa França, a jovem integra ainda a estimativa das pessoas que vivem no quadro de insegurança alimentar moderado, que afeta 10,46% dos domicílios da Paraíba. “São pessoas que não têm acesso a todas as refeições ou têm restrições na quantidade da comida, ou seja, comem menos do que deveriam”, completou. Em situação ainda pior do que esse quantitativo estão as pessoas que sofrem com insegurança alimentar grave, 6,97% dos domicílios. Conforme o presidente do Consea, são aquelas pessoas que não têm acesso a alimentos e passam fome, como muitos moradores de rua.

Arimatéa França explicou que os programas de assistência social, como o Bolsa Família, contribuíram para a redução da pobreza na Paraíba. Tanto que o percentual de pessoas vivendo acima da linha da pobreza no Estado passou de 49,7%, em 2000, para 70%, em 2010. Contudo, ele acredita ainda que haja falhas nessas ações e demora na elaboração do Plano Estadual de Segurança Alimentar.

“Esse plano está muito atrasado. Precisamos avançar do ponto de vista da elaboração e apresentação aos órgãos do Estado e municípios. Senão, como colocar essas pessoas no Bolsa Família? O governo se comprometeu conosco desde 2011 e esse prazo foi estendido, mas ainda não nos deram uma resposta”, criticou o representante do Consea.

MULHER DIVIDE PÃES COM FILHA E NETOS

Com os dez pães que recebe em três dias da semana através do programa Pão e Leite, a aposentada Maria da Silva divide com a filha e mais três netos. Ela disse que o alimento é consumido principalmente no jantar e no café da manhã. No entanto, o litro do leite que acompanhava o pão não é mais disponibilizado para ela e mais 89 pessoas da comunidade Porto do Capim, no bairro do Varadouro, na capital, há cerca de um ano.

O problema se repete ainda no Rangel, Padre Zé e Róger e outros bairros da cidade, segundo informou Arimatéa França.

Vivendo há mais de 30 anos no Porto do Capim, dona Maria Silva revela que a quantidade de pessoas beneficiadas com os alimentos doados pelo governo não é suficiente para todos da comunidade. “Quando sobra pão, a gente sempre doa para aqueles que não têm cadastro”, disse.

Arimatéa França explicou que o Consea tem acompanhado o problema da falta de distribuição de leite e a normalização do fornecimento do produto também é uma das cobranças da entidade ao governo do Estado.

O presidente da Fundação de Ação Comunitária (FAC), Flávio Moreira, explicou que mais de 15 mil litros de leite estão em fase de contratação e serão distribuídos nos postos da FAC de João Pessoa e Campina Grande.“Estamos fazendo essa contratação por meio de convênios e, assim que o contrato estiver registrado, nós vamos voltar a distribuir. Estamos nos empenhando para resolver isso até o final do mês”, adiantou.

SECRETARIA DIZ QUE VAI VISITAR REGIONAIS

A secretária de Desenvolvimento Humano do Estado, Aparecida Ramos, destacou que além do acompanhamento dos cadastros do Bolsa Família, a secretaria mantém ainda uma parceria com pequenos agricultores através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Já sobre a situação das pessoas que enfrentam dificuldades no acesso ao alimento e elaboração do Plano Estadual de Segurança Alimentar, a secretária executiva da pasta, Ana Paula Almeida, explicou que a partir do próximo mês de agosto, equipes da Secretaria de Desenvolvimento Humano farão visitas em 10 regionais do Estado para coletar informações sobre a assistência que é disponibilizada na área de segurança alimentar e as carências apresentadas pelos municípios.

“Vamos fazer uma escuta da população para saber o que precisamos fazer e quais as ações existentes. Queremos fazer um diagnóstico sobre a situação e com os resultados elaborar o Plano de Segurança Alimentar”, declarou Ana Paula Almeida.

De acordo com a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic 2012), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada ano passado, apenas 36% (81 cidades) dos municípios paraibanos tinham estrutura na área de segurança alimentar e os outros 142 não dispunham do serviço especializado.

 

Jornal da Paraíba




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