Falta infraestrutura nas praias do Litoral Sul afasta turistas
Destino cada vez mais procurado por turistas de várias origens, as praias do Litoral Sul da Paraíba carecem de infraestrutura para receber os banhistas. Mesmo no período de baixa estação, basta um breve passeio pela orla de praias urbanizadas como Jacumã e Barra de Gramame, ambas pertencentes ao município do Conde, por exemplo, para constatar a falta de ordenamento dos bares e restaurantes, casas e outros tipos de construções. Incluídas no Projeto Orla, os projetos para reordenamento ainda não saíram do papel.
Além desses empreendimentos comerciais, em alguns casos, ocuparem irregularmente terreno da União, com a colocação de mesas, cadeiras e outras estruturas, em quase todos é notável a utilização e ocupação do solo desordenadamente, com agressões notórias ao meio ambiente.
A comerciante Gorete Ribeiro tem um bar na Praia de Jacumã há 35 anos e disse que sonha em fixar o comércio sem o medo de ser despejada do local. Ela reconhece que ocupa irregularmente a área, mas garante que tem o aval da Prefeitura Municipal do Conde. “Tinha meu bar na beira da praia mesmo, mas tive que recuar um pouco por causa do avanço do mar. Fomos à prefeitura e eles mandaram a gente se instalar por aqui enquanto se resolvia porque eles tinham um projeto para ajeitar o lugar para a gente. A prefeitura disse que tinha o projeto, mas até agora estamos esperando”, comenta.
A situação já se arrasta há cinco anos, tempo em que dona Gorete Ribeiro mudou o bar de lugar. A expectativa da comerciante é ser contemplada com o projeto de reurbanização da Orla de Jacumã. “Continuo trabalhando normalmente, sem pagar nada à prefeitura. Me deixaram ficar aqui até que resolvesse a execução do projeto. A gente não faz questão de sair. A gente faz questão de trabalhar. Sustento oito pessoas da minha família. Meus filhos nasceram todos aqui e sobrevivemos disso”, conta.
Gorete afirma que há outras famílias na mesma situação que a dela. “Na praia do Amor é uma tristeza, o pessoal sofrido, que corre o risco de perder o negócio, não só pelo projeto de reurbanização, mas também pelo avanço do mar. Se a gente tivesse um lugar bom para trabalhar seria ótimo. Você vê que muitos ainda estão lá em baixo. Quando passa o verão está bom. Mas no inverno a maré está grande e começa tudo de novo. Espero que uma hora se resolva”, diz.
A Superintendência do Patrimônio da União (SPU) afirma estar enfrentando a ocupação desordenada com a aplicação de notificações e multas aos infratores, que somente este ano chegaram a mais de 300. “Estamos muito longe do que desejamos. A orla é o principal problema para a SPU, com ênfase para o Conde, em relação aos bares, mas acerca de residências, as ocupações irregulares estão presentes de Pitimbu ao extremo do Litoral Norte, nas mais diversas situações”, afirmou a superintendente do Patrimônio da União, Daniela Bandeira.
Para a superintendente, o grande entrave ainda é lidar com o problema das necessidades dos comerciantes. “Infelizmente, na execução desse trabalho nos deparamos com situações bastante desconfortáveis, pois temos o entendimento que muitas das pessoas que ocupam a área de forma indevida estão ali tirando o sustento da família, e nós não somos indiferentes a isso. Agora, temos que encontrar uma solução para um reordenamento que permita a reutilização adequada desta área, onde possa haver essa geração de emprego e renda, em que as pessoas recebam os equipamentos regularmente, e não de forma impositiva de chegar, ocupar e ficar”, destacou.
Bares e casas ocupam orla
No Litoral Sul também é possível ver muitas construções irregulares, como as do pescador José Maria da Silva, 74 anos. Ele conta que construiu a sua casa na areia da praia há 20 anos e que durante estas duas décadas nunca foi incomodado por nenhuma autoridade. Na pequena casa de madeira, coberta por palhas de coqueiros, o pescador passa os dias tentando obter o sustento do mar. “Minha casinha não é de alvenaria, acho que por isso nunca me incomodaram. Ela não prejudica a praia, até porque o mar não permite, ele avança e tira. Então, eu continuo aqui. Às vezes ele entra, lava e vai embora”, argumenta.
O comerciante Pedro Assis, 57 anos, conta que comprou o bar há oito anos, na praça de Jacumã, e na época já se falava em projeto de urbanização da área, inclusive com a possibilidade de derrubada das barracas que ocupavam a areia da praia, como a dele, mas que até hoje nada se concretizou. “Graças a Deus, tudo até agora não passou de promessa de político. Daqui tiro meu sustento e prefiro que fique como está”, conta.
A Prefeitura do Conde, de fato, já teve um projeto de ordenamento do Litoral Sul. A proposta, no entanto, nunca saiu do papel. O projeto anterior previa a retirada das barracas e bares para preservação da área com definição de normas para uso e ocupação, utilizando-a essencialmente para banhos, passeios, lazer contemplativo.
O secretário de Meio Ambiente e Turismo do município do Conde, Alexandre Cunha, argumentou que a meta da prefeitura é promover a reurbanização gradativamente, começando pela Praia de Tambaba, que costuma receber alto fluxo de turistas estrangeiros e de outros estados brasileiros. “A gente decidiu por conta da complexidade de Jacumã deixá-la por último, pois tem retirada, recolocação do pessoal e precisamos de verba para isso. Por enquanto não dispomos de recursos”, justificou.
Segundo Alexandre Cunha, a decisão foi tomada não apenas pela Prefeitura do Conde, mas todo o Comitê gestor do Projeto Orla. “A diretora do comitê do Orla entendeu que a gente deve começar a fazer as ações pelos locais de menos complexidade, pois é mais fácil de ir ajustando até chegar a Jacumã e Barra de Gramame, que são mais difíceis de ordenamento”, explica.
Além das modificações do Projeto Orla, o secretário antecipou que também deverão ser realizadas outras melhorias no equipamento turístico. “Pretendemos em cada uma delas fazer uma modificação geral, como melhorar a sinalização, padronizar barracas. Devemos já fazer em breve em Tambaba, onde vamos reorganizar os comerciantes, vamos criar uma praça lá em baixo, fazer uma escadaria, banheiros, pois não existe banheiro público em Tambaba. Eu creio que antes da temporada, antes de dezembro, tudo esteja pronto”, disse.
Jornal da Paraíba
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