Dilma nomeia Renato Janine Ribeiro ministro da Educação
O professor de filosofia Renato Janine Ribeiro, de 65 anos, foi escolhido pela presidente Dilma Rousseff para assumir o lugar de Cid Gomes à frente do Ministério da Educação. O anúncio foi feito na noite desta sexta-feira pelo Palácio do Planalto. O novo ministro tomará posse no dia 6 de abril.
Cid Gomes, escolhido pela presidente para levar adiante o projeto da “Pátria Educadora”, deixou o cargo na semana passada depois de agredir verbalmente os deputados federais e até o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No trato, o novo ministro é o seu oposto: um homem afabilíssimo, de fala mansa e ponderada. Sob essa ótica, a escolha foi ótima.
A nomeção de Renato Janine Ribeiro foi uma surpresa. Entre 2004 e 2008 ele foi diretor de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação, e nos anos 90 foi membro do conselho deliberativo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Afora isso, não tem nenhuma experiência administrativa.
Ele também não tem conhecimento técnico sobre política educacional ou pedagogia. Um artigo seu, publicado no final de 2014, deixa a impressão de que preferiria ter sido indicado para a Cultura, segundo ele um dos três ministérios mais importantes numa sociedade moderna, ao lado de Esportes e Meio Ambiente. Escreveu Ribeiro: “A cultura é a educação fora de ordem, livre e bagunçada. Para cursos, há currículos. Para a cultura, não. Cada vez mais, a educação deverá se culturalizar: um, deixando de seguir currículos rígidos; dois, tornando-se prazerosa; três, criativa. O próprio caráter imprevisível da ação cultural e a dificuldade de planejá-la fazem dela um dos modelos para o que deve ser a educação numa sociedade criativa. Deve-se conservar na educação um currículo norteador, que leve da infância à idade adulta. Mas para entender o mundo que hoje desponta é bom ter claro o seguinte: a educação não termina no último dia do ensino profissional ou do curso superior – nem nunca.”
Especialista em filósofos políticos como Hobbes e Rousseau, o que Ribeiro tem é um longo histórico de participação no debate político, escrevendo para jornais e revistas (atualmente é colunista do jornalValor Econômico). Em artigos e entrevistas, ele sempre se manteve equidistante de PT e PSDB, “nossos dois melhores partidos”, como afirmou mais de uma vez. Pessoalmente, contudo, seus vínculos fortes são com gente do PT. Ele foi pupilo da filósofa Marilena Chauí, a raivosa petista que tem nojo da classe média. Nos últimos tempos, foi interlocutor constante do prefeito de São Paulo Fernando Haddad, seu colega na USP.
Haddad pode ter sido um dos padrinhos da nomeação de Ribeiro. O vice-presidente Michel Temer também pode ter dito uma palavra a seu favor: os dois almoçaram há duas semanas, depois que Temer se mostrou interessado por um artigo sobre reforma política escrito pelo filósofo. Nesse caso, o peemedebista Gabriel Chalita, atual secretário de Educação da cidade de São Paulo, teria razão para se sentir traído por ambos. Até o anúncio desta sexta-feira, ele estava cotado para assumir o ministério.
A nomeação de um professor universitário sem filiação partidária em nada altera, à primeira vista, a pressão de petistas e peemedebistas por mais espaço na Esplanada. Mas, se Janine mantiver como número dois o secretário-executivo Luiz Cláudio Costa, que ocupa interinamente a pasta, a balança pende para o lado do PT. Costa é quadro do PT mineiro, ligado ao governador Fernando Pimentel. Sofreu desgaste nos últimos meses por causa da crise no Fies, o programa de financiamento estudantil do governo federal: os desastres na gestão e na comunicação do programa são em boa parte atribuídos a ele. Mas Costa conhece a fundo a burocracia do ministério, pois presidiu o Inep, o órgão responsável pelo Enem, durante a maior parte do governo Dilma. Ribeiro e ele poderiam formar uma dupla no estilo “formulador/executor”.
Críticas ao governo – O que não se pode dizer do novo ministro é que ele chega ao governo por ser um defensor incondicional de Dilma. Pelo contrário. Em entrevista concedida à edição deste mês da revistaBrasileiros, o professor criticou o silêncio do governo enquanto as manifestações contra a presidente cresciam. “Na verdade, é uma concepção de governo que não precisa prestar contas à sociedade. É isso que a Dilma está mostrando. Uma concepção de governo muito inquietante, porque é, no limite, autoritária”, disse ele.
Em sua página no Facebook, Ribeiro também se divide entre os elogios e as críticas ao governo. Em 2013, o filósofo comparou os cubanos do Mais Médicos a escravos: “Do ponto de vista das condições de trabalho, acho péssimo que o dinheiro não seja pago diretamente aos médicos cubanos, e sim a seu governo. Isso me lembra os escravos de ganho, do Segundo Reinado”.
Há apenas cinco dias, ele disse que “o volume da corrupção na Petrobras é assustador”. Depois prosseguiu: “E o volume de dinheiro vai além do financiamento de partidos. Pode sim ir para eles, mas é dinheiro demais, literalmente roubado. Como é que um diretor ou gerente leva 100 milhões? Só para ele? Ainda falta explicar mais, mas é podre mesmo”.
Em 1º de fevereiro: “De que adiantou compor um ministério como esse, que só se explica para evitar oimpeachment – e depois perder de lavada para Eduardo Cunha?”.
E, no dia 15 de março, mais comentários negativos sobre a presidente: “Desde a eleição, cobro constantemente Dilma Rousseff porque ela não deu satisfações à sociedade quanto ao ministério ruim que nomeou, nem quanto às medidas econômicas que adotou. É quem eu mais cobro”.
Ou Dilma não leu o Facebook, ou exibe uma nova e notável disposição para aceitar críticas.
Portal do Litoral PB
Com Veja
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