Publicado em: 14 jul 2014

Craque desde cedo, Götze supera barração na Copa e vira herói do tetra

Aos 22 anos, Mario Götze cravou seu nome de vez na história do futebol mundial aos sete minutos do segundo tempo da prorrogação da final contra a Argentina e mostrou, mais uma vez, que o mundo do futebol dá muitas voltas. Tratado como craque desde cedo, ele fazia uma Copa do Mundo discreta até decidir. Um reserva de luxo que deixou o Maracanã como herói e começa a confirmar as expectativas criadas sobre ele desde que entrou pela primeira vez em um campo de futebol.

Götze nasceu em Memmingen, na Baviera, sul da Alemanha, mas se mudou com o pai, um professor universitário, para Dortmund, em 1998. Chegou ao Borussia local em 2001, e desde então só cresceu. Ex-diretor esportivo de seleções da Federação Alemã, Matthias Sammer já se dizia encantado com a qualidade do meia.

– É um dos maiores, se não o maior talento que tivemos na história – disse Sammer em 2011.

Mario Gotze taça da Alemanha Copa do Mundo (Foto: Reuters)
Götze beija a Taça Fifa após garantir o tetracampeonato da Alemanha, no Maracanã (Foto: Reuters)

A primeira convocação para uma seleção de base foi em 2007, aos 15 anos. Götze já era um meia habilidoso, capaz de decidir jogos em apenas um lance, mas mudava de posição em partidas da base. Chegou a jogar como volante e até lateral-esquerdo. Trocas que faziam parte da metodologia de trabalho alemã na base, que tinham como objetivo fazer com que ele desenvolvesse o poder de decisão e a inteligência em campo, além da versatilidade.

Em 2009, já como camisa 10 da seleção alemã, foi campeão europeu sub-17, comandando o time na vitória por 2 a 1 sobre a Holanda na decisão. O talento de Götze não cabia mais em um time juvenil. Queimar etapas era inevitável. Pulou direto para a sub-21 e estreou nos profissionais do Borussia Dortmund no mesmo ano. Entrou aos 43 minutos do segundo tempo, contra o Mainz 05, pela 13ª rodada da Bundesliga 2009/10. Pouco foi notado em campo. O início da consagração viria na temporada seguinte.

Completamente integrado aos profissionais do Borussia Dortmund comandado por Jürgen Klopp, Götze brilhou na temporada 2010/11. Virou titular substituindo o polonês Jakub Blaszczykowski e assumiu o papel de protagonista quando o japonês Kagawa se machucou. A estreia pela seleção principal também foi em 2011, e o primeiro gol, contra o Brasil, no dia 10 de agosto, na vitória alemã por 3 a 2. Os apelidos não demoraram a surgir: “Götzinho” (referência aos craques brasileiros, como Ronaldinho), “Messi alemão” (comparação feita por Franz Beckenbauer), “Wunderkind” (garoto maravilha, em alemão). Felipe Santana, ex-companheiro de Götze no Dortmund, é só elogios ao meia.

–  Mario é uma pessoa especial. Não só pessoalmente, mas tecnicamente falando é um jogador que sai em 100 anos.

Veio outro título alemão e uma das transferências mais polêmicas dos últimos tempos. O meia trocou o Borussia Dortmund pelo Bayern de Munique, que pagou a multa rescisória antes da final da Liga dos Campeões 2012/13 contra o rival. Machucado, Götze não entrou em campo na decisão, viu o time aurinegro ser vice-campeão europeu e ganhou a antipatia dos torcedores do Dortmund, talvez os mais fanáticos da Alemanha. Antes ídolo, passou a ser chamado de “Judas” e foi vaiado quando o Bayern foi jogar no estádio do antigo clube.

– Foi uma vontade dele. O Bayern já tinha interesse, na época falaram no Neymar, pois o Guardiola quis. E o Mario era um dos jogadores da lista. A partir do momento que foi anunciado, ele se prontificou e disse: bom, terminando essa temporada, se tiver a oportunidade de sair eu vou sair. Algo que ele queria e aconteceu. Houve sim a proposta e para ele foi legal, prova disso que já ganhou seu terceiro título alemão com 20 anos, três vezes campeão alemão – explicou Felipe Santana.

Mario Gotze gol final Alemanha x Argentina (Foto: Reuters)
Götze comemora o gol do título seguido por Thomas Müller: protagonismo que está apenas no início (Foto: Reuters)

Na equipe bávara, enfrentou a concorrência de Arjen Robben, Franck Ribéry e Thomas Müller e não foi protagonista do time, mas teve um bom desempenho: em 27 jogos fez dez gols, número igual ao da temporada anterior no Dortmund.

– Esse é fera, é muito bom mesmo. Apesar de ser muito jovem, de ter uma história grande, mesmo jovem, tem muita personalidade, é rápido. Um cara que no um contra um é muito bom, tem muita técnica. Fora de campo também é muito alegre, pouco tímido, acanhado, mas sempre está no meio da brincadeira. É muito agradável trabalhar com ele – afirmou Dante, que jogou a Copa do Mundo pela seleção brasileira e é companheiro de Götze no Bayern.

Na seleção alemã, após ele ter começado a Copa do Mundo como titular, na goleada sobre Portugal, e marcado uma vez no empate por 2 a 2 com Gana, foi criticado por, eventualmente, não ter o mesmo espírito de luta de Thomas Müller ou Marco Reus, cortado por lesão às vésperas do Mundial. Götze, de fato, joga em pé, sem dar carrinhos ou lutar até o último instante. As jogadas às vezes fluem naturalmente, sempre em uma linha tênue entre a genialidade (quando dá certo) e um aparente desinteresse (quando dá errado).

A barração não demorou a acontecer. Substituído no intervalo da partida das oitavas contra a Argélia, jogou apenas sete minutos diante da França e não entrou em campo no 7 a 1 no Brasil. Tudo levava a crer que não seria o Mundial dele, a vez dele brilhar de vez. Mas o mundo do futebol deu mais uma volta, dessas que costumam ignorar a lógica. E aos 22 anos, já herói de um título mundial, Götze tem muito a construir na carreira e deve assumir um protagonismo ainda maior na seleção alemã nos próximos anos.

Mario Gotze gol final Alemanha x Argentina (Foto: Reuters)
Götze acerta o belíssimo chute de canhota para garantir o título da Alemanha (Foto: Reuters)



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