Consumidor opta por presentes baratos, e comércio tem pior Natal em dez anos
RIO e SÃO PAULO – Natal da lembrancinha. Assim será a data este ano. Preocupado com os aumentos previstos para 2015, como da energia elétrica, endividado com financiamento habitacional e crédito consignado e já à espera dos saldões de janeiro, o consumidor preferiu economizar neste fim de ano. Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), prevê que este será o pior Natal para o setor em dez anos, com crescimento de 2% frente ao ano anterior, abaixo da média de expansão de 4% a 5%.
– Deve ser o pior Natal desde 2004. Mas para os adultos. As compras para crianças não são afetadas. O consumidor já sabe que vai sobrar produto e espera as promoções de janeiro. Não dá para fazer isso com as crianças, mas os adultos seguram as compras. Por isso, haverá um segundo Natal em janeiro – prevê o economista.
Apesar de o Natal ser da lembrancinha, presentes infantis caros esgotaram. No Botafogo Praia Shopping, os brinquedos mais procurados e que já não estavam mais disponíveis nesta quarta-feira na Brink Center foram a boneca Frozen Elsa que canta (R$ 399); o Marker AirBrush (R$ 269) e a Casa do Mickey (R$ 399). Na ToyBoy, a Caverna do Batman (R$ 379,40), a Baby Alive Machucadinho (R$ 239) e todas as bonecas Frozen esgotaram. No NorteShopping, as bonecas Elsa e Anna também acabaram.
CAUTELA EM 2015
Além da economia fraca, que deve crescer apenas 0,2% este ano, o consumidor vê com cautela o ano de 2015. Os juros, nos níveis mais altos nos últimos anos, com a taxa básica Selic a 11,75% ao ano, também desestimulam os gastos. Por isso, ressalta Freitas, este não será um Natal de eletrodomésticos, mas sim de produtos semiduráveis e não duráveis, como roupas e calçados.
– As grandes varejistas de eletrodomésticos podem sentir mais. As pessoas optaram por produtos de pequeno valor, por itens de vestuário.
Além da elevação dos juros, o maior rigor dos bancos na hora de emprestar dinheiro também influenciou a estimativa de crescimento das vendas da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop). A associação prevê aumento de 3% em relação ao Natal de 2013, quando a expansão foi de 5%. A Alshop acredita que o dólar em alta também tenha afetado o preço de componentes de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e produtos de alta tecnologia, fazendo com que esses itens – cuja compra muitas vezes depende do crédito – perdessem espaço nas listas de presentes.
A produtora Lívia Brito preferiu pôr as contas em ordem antes de fazer novas despesas.
– Adiei as compras porque estava quitando algumas dívidas. Ano passado, parcelei tudo. Este ano, metade eu paguei à vista – disse ela, que foi às compras no NorteShopping na tarde de terça-feira.
Na Saara, no Centro do Rio, o movimento de última hora foi intenso, mas as ruas não estavam tão cheias como de costume para a data. Havia, inclusive, lojas totalmente vazias na manhã de hoje. E nem mesmo as promoções ajudavam a melhorar o desempenho das vendas. Segundo Enio Bittencourt, presidente da Saara, muitas lojas baixaram os preços em até 80%, mas sem sucesso.
– Até há muita gente na rua, mas as vendas continuam fracas. Fiz a comparação com os números do ano passado e estou vendendo 50% a menos na minha loja – lamentou Bittencourt. – As pessoas estão comprando só presentes muito baratos.
Denys Darzi, presidente do Polo Centro Rio, associação que representa os lojistas da Saara, é mais otimista. Diz que o ano não foi maravilhoso, mas que o comércio reagiu um pouco nos meses de novembro e dezembro:
– Acho que vamos fechar 2014 com volume igual ou até 6% maior que o de 2013.
Na Maik Mik, onde era possível encontrar bonecos do bom velhinho por R$ 5, o movimento era fraco, mas normal para o dia, segundo o gerente Maiko Riche, que viu as vendas caírem 20% este ano. O valor das compras também caiu:
– As pessoas estão gastando menos este Natal.
Entre os que deixaram para fazer as compras no dia 24, as lembrancinhas eram as preferidas. O aposentado Firmino Costa Pires, com barba branca, gorro vermelho e uma grande sacola de presentes, aproveitou a manhã cinzenta para comprar os presentes dos dois filhos, do neto e dos sobrinhos:
– Estou levando lembrancinhas, só para não passar em branco, até porque está tudo muito caro.
A socióloga Rosana Chagas também optou pelas lembrancinhas. Ela se organizou para gastar, no máximo, R$ 200 – menos que em 2013 – para presentear o marido, o enteado e a cunhada:
– Vou pagar à vista, mas no cartão de crédito, para poder acumular milhas para viajar. O presente tem que ter uma recompensa, né?
Os paulistanos também devem ser mais comedidos nas compras de Natal. Pesquisa divulgada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP) mostra que o gasto médio com presentes deve cair em comparação a anos anteriores. Em 2014, o valor por lembrancinha será de R$ 42 – 24% menor do que em 2013 (R$ 55) e cerca de 10% abaixo do patamar de 2012.
Também caiu o gasto total com presentes este ano, de acordo com o levantamento da FecomercioSP: os paulistanos vão desembolsar, em média, R$ 129 em 2014. No ano passado, foram R$ 190 e, em 2012, R$ 177. A pesquisa foi realizada nos dias 12,15 e 16 deste mês na cidade São Paulo, onde fica um dos maiores centros de comércio popular do país.
ROUPAS, CALÇADOS E ACESSÓRIOS
A entidade também acredita em um fraco desempenho das vendas da Natal este ano. Uma sondagem realizada com 126 empresas do varejo em 18 e 19 deste mês apontou que o faturamento geral do comércio na cidade deve ser 1,3% menor do que em 2013. Segundo a FecomercioSP, a compra de presentes vai movimentar cerca de R$ 1,5 bilhão na capital. Assim como no Rio, os campeões na preferência dos paulistas são roupas, calçados e acessórios.
Freitas, da CNC, lembra que os saldões de janeiro devem fazer com que o ano comece com um “segundo Natal”.
– Os preços mais baixos pós-Natal estimulam as vendas nas promoções. E as pessoas já sabem disso e esperam.
As liquidações já começam sexta-feira, nas lojas e na internet. Grandes varejistas prometem descontos. Nem todos os shoppings farão ações integradas de corte de preços, mas admitem que os lojistas liquidarão o que sobrou do Natal nos próximos dias ou no começo de janeiro.
G1
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