Cassia Kis rouba a cena e dispara: ‘Novela você grava e joga no lixo’
Cassia Kis, 57 anos, não se deslumbra com os elogios que vem recebendo da crítica e do público sobre sua atuação em A Regra do Jogo, novela das nove da Globo. Na pele da professora Djanira, uma mulher que guarda mágoas e é dona de uma trajetória de vida difícil, ela afirma que novela é um produto descartável, que se joga no lixo. Com 31 anos de carreira diante das câmeras, a veterana ensina que o trabalho do ator de TV é no gerúndio: “Fazendo, construindo, amadurecendo o personagem”.
Cassia conta que no começo de uma trama o intérprete ainda sabe pouco sobre essa personalidade que encarna. “A gente imagina, faz uma viagem e diz coisas que podem não acontecer”, comenta. Questionada sobre sua preparação para viver o conflito de uma mãe que colocou o filho biológico para fora de casa e adotou duas crianças, ela revela que tem alguns instrumentos muito pessoais para isso, mas que em um folhetim não existe um grande laboratório. “Novela é muito impermanente. Você grava e joga no lixo”, dispara a atriz.
Por isso, os embates e a retomada doafeto entre Djanira e seu filho biológico, Romero Rômulo (Alexandre Nero), não contaram com uma grande estratégia de preparação. É a velocidade que uma trama exige do elenco e da equipe de produção que não permite que o ator estude mais e se prepare de corpo e alma.
Em 2013, por exemplo, enquanto gravava a microssérie Amores Roubados, ela e o ator Cauã Reymond passaram quatro meses sem se falar, sem se olhar na cara para criar justamente o clima de tensão que mãe e filho precisavam em cena. “Só que quando fizemos a cena mais importante, foi ‘a cena'”, diz Cassia, referindo-se ao momento em que sua personagem, Carolina, e o filho, Leandro, se perdoaram na trama.
Diferentes fontes de inspiração
Porém, os trabalhos mais recentes da atriz mostram que ela se transforma a cada papel. Foi assim em Morde & Assopra (2011), como Dulce, uma mãe humilde e sofrida; como a amoral Melissa de Amor Eterno Amor (2012); a ex-prostituta Carolina de Amores Roubados (2014); a advogada mau-caráter e infiel de O Rebu (2014); e a fotógrafa à frente do seu tempo Olga, de Felizes para Sempre?, microssérie exibida no começo deste ano.
Cassia diz que tem “alimentos” diferentes para cada trabalho. Agora, por exemplo, para construir a professora de escola pública, ela buscou inspiração no ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela. “Procuro um elemento para me aprofundar. Para contar a história de uma grande mulher, uso como instrumento essa história que é de um grande homem”, explica.
Se existe uma fórmula para mostrar amor e afeto, como o público vê nas cenas de Djanira com Toia (Vanessa Giácomo) e Juliano (Cauã Reymond), Cassia responde que é possível criar uma atmosfera com esses sentimentos. No entanto, ela declara que está amando os filhos da ficção e que desejava ser mãe deles na vida real. “Estou um grude com os dois. Entre a gente, existe amor”, comenta.
Mordida de arrancar pedaço
Cassia diz que a pressão de elevar a audiência do horário nobre não atrapalha o clima de entrosamento e animação nos bastidores. Ela afirma que a diretora-geral da trama, Amora Mautner, faz tudo com tamanho entusiasmo que contamina a todos.
“Amora gosta da vida e ama os atores. Outro dia ela veio falar comigo com tanta empolgação que, em vez de me dar um beijo, me deu uma mordida na perna. Ela estava sentada perto da minha coxa e quase arrancou um pedaço. No dia seguinte tinha uma mancha roxa. Essa é Amora. Amora é amor”, filosofa a atriz.
Cassia também conta que fazer essa mulher que aparece em cena lavando calcinha e cozinhando é natural para porque ela sabe lavar roupa, cuidar de uma casa, passar a roupa do marido, lavar um banheiro e tudo o mais. Ensinamentos que aprendeu com seus pais e que passa aos seus filhos.
“Lá em casa, eles têm de fazer a parte deles. Na pia está escrito: ‘Sujou, limpou e guardou’. Temos de viver em grupo, pois precisamos um do outro. A minha filha lava as calcinhas dela. Os banheiros têm um balde grande debaixo do chuveiro para captar água, que será usada para lavar a privada e outras coisas depois. Meus filhos sabem que têm de fazer isso. Se eles usarem o chuveiro e o balde não ficar cheio de água, eles são punidos. Eu desconto um valor da mesada deles.”
Cassia afirma que não gosta desse método, mas ele funciona. Ela diz que faz questão de contar isso porque o cotidiano a interessa a todos e que ensinar é necessário.
Perdão e vingança
Sua personagem em A Regra do Jogo se aproximou mais do filho que ela chegou a chamar de “capeta”. Aos poucos, Djanira passa a acreditar que ele se arrependeu de todas as barbaridades que fez no passado. No entanto, o público sabe que Romero quer se vingar da mãe, destruindo a relação dela com Toia e Juliano.
Romero vai manipular Toia, fazendo-a desistir de ir embora com Juliano para Santa Catarina. Ele dará dinheiro para a gerente quitar sua dívida com Adisabeba (Susana Vieira). O advogado também conseguirá um patrocínio para Juliano reabrir sua escolinha de artes marciais. O lutador ficará com o pé atrás, mas será convencido por Toia e Djanira.
A única que tentará abrir os olhos da professora será Adisabeba. Ela dirá que a amiga está permitindo que o “demônio” volte para acabar com tudo que ela construiu.
Com 180 Graus
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