Publicado em: 10 fev 2014

Cantor acusado de estupro reconstrói vida ao comprovar inocência

redimensiona

 

“O que eu passei é uma história de horror. Um pesadelo que não desejo nem para o meu pior inimigo”, declarou o cantor e compositor Cristiano Silva, 36 anos, para definir os 46 dias que passou preso, injustamente, acusado de estuprar duas adolescentes, em Santa Rita, na Região Metropolitana de João Pessoa. Cristiano foi inocentado e posto em liberdade no último dia 17 de janeiro, após um laudo do Instituto de Polícia Científica (IPC) da Paraíba comprovar que o material genético encontrado nas vítimas não era compatível com o DNA dele, negando, assim, a autoria do crime, que foi registrado em dezembro do ano passado.

Para Cristiano, toda a injustiça que passou só tem uma explicação. “A avaliação que faço de tudo isso é que a lei só existe para quem tem dinheiro. Seu eu fosse um homem rico, talvez eu não tinha ido nem para o presídio, mas como sou um trabalhador humilde, fizeram um prejulgamento. Eu tinha álibi, testemunhas que estavam comigo na hora, pessoas da igreja que viram minha esposa lá com o carro, mas não ouviram a minha parte, apenas a acusação e aconteceu tudo isso”, destacou.

Cristiano contou que foi “arrancado” de casa na noite do dia 3 de dezembro, sob a suspeita de um duplo estupro, pelo qual tinha plena consciência que não tinha cometido e sempre afirmou ser inocente. “Tenho três filhas. Deus só me deu filhas mulheres, então só um monstro para fazer aquilo que eu estava sendo acusado. Mas mesmo assim fui à delegacia no meu carro, que também foi identificado como o usado no crime, porque eu tinha certeza que chegando lá, ficaria confirmado que tudo não passaria de um equívoco. Porém, as duas meninas e um garoto que foi testemunha do crime, afirmaram para a delegada que tinha sido eu. Naquele momento, começou essa história de terror”, lembrou.

No dia seguinte, antes de ser encaminhado para o Presídio Padrão de Santa Rita, Cristiano Silva foi informado que as vítimas tinham feito um exame de lâmina, onde foi colhido o material genético para a comprovação do crime. “Ali, eu pensei: se elas fizerem esse exame, será a minha válvula de escape. Externei que também queria fazer o exame, pois sabia que mais cedo ou mais tarde, quando saísse o resultado, eu seria inocentado, como de fato fui”, relatou.

Após a coleta de material genético e realização do exame de corpo delito (ritual obrigatório para quem é encaminhado a uma unidade prisional), Cristiano colocou as mãos para trás, baixou a cabeça e caminhou em direção à cela, consciente da plena inocência.

Enquanto esteve preso, Cristiano temia uma possível rebelião, imaginava que se um motim acontecesse seria alvo dos presos de outras celas. “Entre um turbilhão de pensamentos, eu temia que a qualquer momento poderia haver uma ‘virada de cadeia’ (rebelião) e pelo artigo em que eu me encontrava, eu seria o da vez. Ali existem várias celas e facções e quando há uma rebelião quem é espetado, quem é feito refém são os estupradores, os “x-9″… e comigo não seria diferente. Só Deus e eu sabemos o que passei lá dentro”, revelou. “Foi um horror. Eu não tive Natal, nem Ano Novo”, completou.

INSPIRAÇÃO
Cristiano acrescentou que apesar das angústias e do horror vividos no presídio, ainda conseguiu inspiração para compor uma música em homenagem à esposa, Karlene Silva. A composição ganhou o título de ‘Dia de Visita’.

Agora, com o sorriso no rosto, Cristiano tenta recomeçar a vida, juntamente com a esposa e filhas, mas espera que a justiça seja feita. “O verdadeiro culpado pelos estupros precisa pagar por esse crime”, afirmou.

3 Perguntas Para  Cristiano Silva

JP: Como foi sua chegada ao presídio? Você sofreu represálias em virtude do tipo de crime pelo qual estava sendo acusado, já que como é sabido, há um certo ‘preconceito’ entre os demais presos?

“Quando cheguei, passei oito dias na cela de reconhecimento e lá sofri muitas ameaças psicológicas. No lado de baixo havia uma facção e em cima, outra, e quando havia o banho de sol, eles iam lá e me pressionavam psicologicamente, dizendo coisas absurdas e que quando eu saísse dali ia acontecer isso e aquilo. Mas comecei a orar a Deus, pedindo para que ele escolhesse a cela que eu iria, pois ele sabia que eu não tinha cometido o tal estupro. Quando fui para a cela chamada ‘seguro’, fui bem tratado, pois os seis presos que lá estavam, acompanharam tudo pela TV e disseram que acreditavam na minha inocência, que nada iria me acontecer. Que ninguém tocaria um dedo em mim”.

JP: Qual a lição que você conseguiu tirar do que viveu lá dentro?

“Louvo a Deus por ele ter me dado a oportunidade de conhecer esse outro lado da moeda, onde conheci pais de família e pessoas que como eu também estão sendo injustiçados, pois não cometeram o crime que estão sendo julgados. Fiz amizades, porque não é pelo fato de estarem ali que são monstros… Na minha saída houve até comoção, onde alguns ‘periculosos’, como são chamados, chegaram a chorar. Eu nunca vi isso na minha vida. Somente o poder de Deus para explicar isso”.

JP: Como você tomou conhecimento sobre o resultado do exame que comprovou sua inocência?

“Pela TV. Eu acompanhava todas as reportagens. Vi inclusive quem me ajudou na mídia e quem me denegriu, como alguns apresentadores que estamparam a minha foto no telão e ficavam batendo na minha imagem, me chamando de monstro, estuprador safado e incentivando os presos a me pegaram lá dentro. Depois de tudo, já me ligaram pedindo perdão e espiritualmente já perdoei, porém os trâmites legais seguem por conta da minha advogada. Mas enfim, soube primeiro pela TV e depois pela minha advogada”.

 

 

Portal do Litoral PB com JPonline




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