Publicado em: 13 jan 2017

Aplicativo tem falha e permite ler conversa

Aplicativo tem falha e permite ler conversa

O WhatsApp possui uma brecha que permite ler conversas dos usuários mesmo que as mensagens estejam criptografadas, informa o jornal britânico “Guardian”, em reportagem publicada nesta sexta-feira (13).

A falha foi descoberta por Tobias Boelter, um pesquisador da Universidade de Berkeley, na Califórnia, que chegou a comunicá-la em abril do ano passado ao Facebook, o dono do aplicativo de mensagem, que não resolveu o problema.

A vulnerabilidade decorre, diz o jornal, da forma como o WhatsApp implantou um modelo de criptografia de ponta-a-ponta amplamente usado e tido como sólido. O sistema pressupõe a geração de chaves únicas de segurança para cada usuário. É com elas que as mensagens são codificadas. A criptografia de ponta-a-ponta, como o nome sugere, protege todo o trajeto da comunicação entre as pontas (os participantes) de uma conversa. Com ela, nenhum intermediário, nem mesmo o WhatsApp, deve ser capaz de interferir na conversa e obter o conteúdo que foi compartilhado.

Só que o WhatsApp adaptou o protocolo Signal, desenvolvido pela Open Whisper Systems, amplamente usado em outros por outros aplicativos “seguros”, como o Telegram. Essa modificação permite que o serviço troque as chaves de um usuário que não esteja conectado sem que remetente ou destinatário saibam disso. A partir daí, todas as mensagens marcadas como não entregues são criptografas com a nova chave e enviadas novamente, diz o “Guardian”.

“Se o WhatsApp for questionado por uma agência governamental para revelar seu registro de mensagem, pode efetivamente garantir acesso devido a essa mudança de chaves”, afirmou Boelter ao jornal.

Originalmente no protocolo Signal, se um usuário off-line muda sua chave enquanto algumas de suas mensagens foram enviadas mas não entregues, o envio falha, e o remetente é avisado da troca dos códigos de encriptação.

“Podem dizer que essas vulnerabilidade pode apenas ser explorada para espionar uma só mensagem, não conversas inteira. Isso não é verdade se você considerar que o servidor do WhatsApp pode encaminhar mensagens sem encaminhar a notificação de que a mensagem não foi entregue [sinalizada pelo duplo tique], o que os usuários podem não notar. Usando a retransmissão da vulnerabilidade, o servidor do WhatsApp pode mais tarde conseguir uma transcrição de toda a conversa, não apenas de uma única mensagem”, afirmou Boelter.

O WhatsApp anunciou no ano passado a adoção de criptografia de ponta-a-ponta no ano passado – antes disso, o app já usava um modelo mais simples de codificação de mensagens.

O jornal questionou o WhatsApp. “Nós sabemos que as razões mais comuns para isso acontecer [troca de chaves] são porque as pessoas trocam de celulares ou reinstalam o WhatsApp. Isso ocorre porque em muitas partes do mundo, as pessoas frequentemente mudam de aparelho ou de SIM card. Nessas situações, nós queremos dar às pessoas a certeza de que as mensagens serão enviadas, não perdidas no meio do caminho”, afirmou um porta-voz do aplicativo ao jornal.

Entenda a criptografia de ponta-a-ponta
Essa solução funciona a partir da troca de chaves criptográficas, a tecnologia responsável pelo processo que embaralha e codifica cada mensagem individualmente. A vantagem desse tipo de criptografia é que o processo é invisível e não exige nenhuma ação por parte dos usuários: as chaves são recebidas e utilizadas automaticamente.

Essa troca deve, idealmente, ocorrer diretamente entre os participantes de uma conversa. Isso dá trabalho e, no mundo real, sistemas de criptografia utilizam entidades confiáveis para verificar a legitimidade das chaves.

No caso do WhatsApp, a troca é intermediada pelo aplicativo. Isso significa que uma falha de segurança no app ainda pode permitir que um espião interfira no processo de troca de chaves, violando a segurança e a privacidade da comunicação do mesmo jeito que seria possível antes do WhatsApp adotar a criptografia de ponta-a-ponta.

Teste de confidencialidade

Como a comunicação passa a depender da segurança de um intermediário, o sigilo não está mais só nas mãos dos participantes da conversa. É por isso que o WhatsApp possui um meio de conferir se a troca de chaves ocorreu de maneira correta. Ou seja: se a chave recebida por seu amigo é a mesma que ele enviou, então está tudo certo e o processo ocorreu de maneira segura.

A verificação consiste em abrir o perfil de um contato no WhatsApp e clicar em Criptografia – o item com um cadeado. Depois, basta escanear o código QR que aparecer na tela. Em caso de segurança, o código se transforma em um tique verde.

O ideal é fazer isso pessoalmente, mas é possível usar outros meios, como uma videochamada. Junto do código QR também há uma série de números que pode ser usada para comparação por outros meios, como uma chamada telefônica.

A ideia principal é que a verificação não ocorra pelo próprio WhatsApp. Quanto mais confiável e menos sujeito a interferência ou grampos for o método usado na verificação, melhor será a segurança.

Ainda há riscos?

Mesmo com todos esses processos, um ataque é teoricamente possível. Criminosos ou espiões, porém, teriam uma dificuldade considerável para intervir no processo de troca de chaves, já que ele também é protegido por chaves criptográficas do próprio aplicativo.

Ao criar um meio de checagem manual, o WhatsApp demonstra compromisso com a segurança dos usuários e busca se isentar de qualquer acusação de colaboração com a espionagem governamental, como a que foi revelada por Edward Snowden.

Por outro lado, como o WhatsApp está intermediando essa troca, os desenvolvedores do aplicativo têm acesso às chaves que forem transmitidas. Isso, no entanto, não compromete o sigilo da conversa.

O sistema de criptografia usado no WhatsApp é “assimétrico”, em que a chave usada para codificar uma mensagem no envio não é a mesma usada para decifrá-la quando ela é recebida. A chave capaz de decifrar as mensagens é diferente para cada usuário e fica somente no aparelho de telefone, não sendo transmitida ao WhatsApp. É por isso que a empresa não tem acesso ao conteúdo das chamadas e conversas.

G1



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