Publicado em: 27 ago 2015

Evans revela traumas e diz que foi abusada pelo 1º marido na adolescência

Monique Evans poderia ser hoje a “rainha dos baixinhos”, não fosse uma reviravolta do destino. Em 1983, a extinta TV Manchete procurava uma apresentadora para comandar o Clube da Criança – programa infantil que ocuparia as tardes da emissora. Aos 27 anos e no auge da beleza, ela foi aprovada nos testes por um diretor do canal. “Meses depois, esse cara morreu e o que assumiu me trocou pela Xuxa. Mas tudo bem, virei ‘rainha dos altinhos’…”, diz Monique. Ainda que seja em tom de deboche, faz sentido a maneira como se autointitula a ex-modelo, ex-passista do Carnaval, atriz e apresentadora. Aos 59 anos, sua trajetória só poderia ser contada em um programa para maiores, de preferência veiculado na madrugada.

Por trás do sotaque carioca carregado, das piadas autodepreciativas e da gargalhada escandalosa, há uma mulher cheia de traumas. Os maiores são um abuso sexual sofrido no início da adolescência (nesta entrevista, ela revela pela primeira vez que se casou com o abusador anos depois), crises de depressão profunda e sucessivas tentativas de suicídio. Na última delas, em outubro de 2013, foi diagnosticada com o transtorno de personalidade borderline, síndrome caracterizada por emoções extremas como ataques de pânico, surtos de raiva, medo do abandono e comportamento autodestrutivo. Monique acrescenta na lista um “bloqueio” que sempre a impediu de se sentir amada. Sobretudo pelos ex-maridos, os empresários Oswald Evans e José Clark, o ex-modelo Pedro Aguinaga e o publicitário Guga Sander. Aguinaga e Clark são pais de seus dois filhos, Armando Aguinaga, 37, e Bárbara Evans, 24.

Em tratamento psiquiátrico, ela conta que agora está em um “bom momento”. Especialmente no campo amoroso. Há 11 meses, namora Cacá Werneck, 31, DJ carioca que conheceu por meio de amigos em comum no Facebook. As duas já dividem o mesmo teto, numa casa de vila charmosa em Ipanema, com três cachorros e dois gatos. “Nunca havia me envolvido com uma mulher. Jamais imaginei que teria os melhores orgasmos da minha vida com quase 60 anos!”, comemora a “titia”.

Em entrevista exclusiva à Marie Claire, ela fala sobre a redescoberta da sexualidade, a relação complicada com os filhos e descreve com franqueza corajosa os piores momentos de sua saga. Confira a seguir alguns dos principais trechos da conversa.

Você foi a primeira rainha de bateria a exibir os seios no Carnaval, uma das primeiras a ter um programa de sexo e agora assume o romance com uma mulher. Está à frente do seu tempo?
Chegaram a me comparar com a Leila Diniz quando mostrei o peitão e o barrigão na Sapucaí [Monique desfilou nua e grávida de sete meses da filha, Bárbara, em 1991]. Sempre fiz o que tive vontade e aí acham que tenho esqueletos no armário. “Nossa, se ela é capaz de tudo isso, imagina o que não faz em segredo?” Mas não, gente, é só isso. Os outros é que são hipócritas. Mantêm casamentos de fachada e têm amantes por aí. Eu não, sempre fui uma mulher fiel.

Já havia se envolvido com outras mulheres?
Nunca! Até meu perfume era masculino, porque não gostava de cheiro de mulher em mim [risos]. Conheci a Cacá pelo Facebook no ano passado. Conversávamos bastante pelo chat, depois nos encontramos pessoalmente e nos tornamos amigas. Mas só comecei a sentir algo diferente por ela quando me visitava no hospital [em agosto de 2014, Monique estava deprimida e se internou em uma clínica de reabilitação]. Cada vez que ia me ver, os outros “doidinhos” ficavam agitados, querendo saber quem era minha amiga gostosona. Ficava com ciúmes, mas não entendia o motivo… Não me apaixonei por uma mulher, me apaixonei pela Cacá, por essa coisinha que me ama e cuida de mim. Tem um peitão lindo, é vaidosa e cheirosinha. Mas usa cueca boxer e tem um lado masculino de carregar minha bolsa, abrir a porta do carro e puxar a cadeira no restaurante.

E na cama?
Quando começamos a transar, deixava que a Cacá conduzisse tudo, já que não tinha experiência com mulher. Aos poucos, me soltei e fiquei menos passiva. Repetia nela tudo o que fazia em mim. Outro dia, ela me contou que nunca havia sido penetrada porque sempre foi a ativa com outras namoradas. Estamos juntas há 11 meses e agora não tem essa de “a ativa” e “a passiva”. Fazemos sexo de várias formas. Meus orgasmos sempre foram clitorianos, por isso, em várias vezes em que fui para a cama com homens, não gozei. Eles eram apressadinhos, não davam importância para as preliminares. Com a Cacá é um festival deles! Nunca imaginei que teria meus melhores orgasmos a essa altura da vida…

Foi difícil contar sobre o namoro para seus filhos?
Minha nora [Lucia Davila, mãe da única neta de Monique, Valentina, 7 anos] foi a primeira a saber. Pedi que intermediasse a conversa com o Armando, pois temia a sua reação. Ela contou e, no dia seguinte, recebi um torpedo supercarinhoso do meu filho, dizendo que só queria minha felicidade, não importava com quem… [nesse momento, Monique fica com a voz embargada e chora]. Para a Bárbara nem precisei contar. Ela me via ao lado da Cacá o tempo todo e tirava sarro. “O que é isso, mãe? Virou sapatão agora?” [risos]. Na verdade, não sei responder a essa pergunta. Não sei mais se sou hétero, bi ou se sempre fui gay e não sabia…

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Está mais feliz agora?
Quem vive a minha condição [Monique sofre do transtorno de personalidade borderline] nunca vai poder dizer: “Sou totalmente feliz”. A Cacá me faz bem, a relação com meus filhos está bacana e estou me tratando com os remédios certos e fazendo terapia. Tenho altos e baixos. Há dias em que me deprimo, só tenho vontade de dormir. E a velha vontade de morrer que me acompanha volta com tudo.

Pensa muito em suicídio?
Não só penso, como já tentei. Perdi as contas de quantas vezes tentei me matar. A primeira de que me recordo foi aos 15. Bati a cabeça na parede até desmaiar, não lembro por quê… Houve outras. Uma vez, em Miami, bem no comecinho dos anos 80, abri a porta de um carro e me joguei em uma avenida movimentada. Em outra, pulei da janela do quinto andar do apartamento de um amigo, na Gávea. Fiquei muito machucada, passei uns dias no hospital. Até bem pouco tempo, também me cortava com gilete [Monique ergue a manga da camisa e mostra cicatrizes]. Não é uma maneira de acabar com a vida, mas é como se a dor dos cortes pudesse me fazer esquecer o que me afligia por dentro.

Qual o pior momento que enfrentou por causa da doença?
Não houve um pior momento, foram vários. Sou border desde sempre, mas só fui diagnosticada há dois anos, depois de tentar me matar, sei lá, pela milésima vez… Fui internada por 15 dias, após tomar uma cartela de calmantes [em outubro de 2013, foi a primeira passagem de Monique por uma clínica psiquiátrica].

O que te levou a tentar o suicídio dessa última vez?
Minha filha tinha saído da nossa casa em São Paulo para viver no Rio, sozinha. Um tempo depois, também me mudei. Foi uma fase terrível: não tinha trabalho, não namorava havia quatro anos e me sentia abandonada. Fazia um ano que morava na casa nova, mas a mudança ainda estava em caixas amontoadas pela sala. Não tinha forças, passava o dia dormindo… Uma noite, conversava com meu irmão [o empresário Marcio Panthera, que vive em Miami] no Facebook, queria me despedir dele. Estava decidida a morrer. Não lembro o que escrevi, mas o Marcio percebeu que havia algo errado. Ficou desesperado e ligou para uma prima nossa, que mora em Copacabana. “Corre lá na Monique, que ela vai fazer besteira!” Ela me encontrou no chão, desacordada. Ligou para o hospital e me salvou. A última lembrança que tenho é de, já grogue, ter orado. “Deus, você sabe que não aguento mais sofrer. Tenho certeza de que, quando te encontrar, o Senhor vai me perdoar…”

Você é religiosa?
Tornei-me evangélica há uns 15 anos. Estava na academia e recebi um folheto da Bola de Neve [igreja neopentecostal fundada por pastores surfistas no início dos anos 90]. Os cultos eram pequenos, aconteciam em uma oficina de pranchas de surfe, com uma galera jovem. Lá descobri que tenho o dom de interpretar bem a Bíblia. Cheguei a dar testemunhos e quase virei pastora. Fui também aos cultos da Igreja Batista e da Sara Nossa Terra. Mas notei que, todas as vezes em que estava na pior, deprimida e tentando me matar, nenhum pastor ou irmão da igreja me visitava. Agora, estou em pecado porque vivo uma relação homossexual.

Acha que é pecado?
Sei que Deus vai me cobrar por ter me apaixonado pela Cacá. Assim como me cobrará por outros pecados. Sou egoísta, invejosa…

Por que ainda usa o sobrenome do seu primeiro marido [o empresário Oswald Evans]?
Quando comecei a ficar famosa, estava casada com ele. Nos separamos um tempo depois que estourei e, se trocasse o sobrenome naquele momento, ia atrapalhar minha carreira. Logo depois o mataram e ainda tive que reconhecer o corpo no necrotério… [Oswald foi assassinado a tiros durante um assalto, em 1977].

Impressão minha ou você não fala com carinho sobre ele?
Aconteceu uma coisa horrível quando eu tinha 14 anos. Uma amiga da Praia de Ipanema me chamou para almoçar com a família e, ao chegar lá, estavam apenas o namorado dela e outro rapaz. Eles deviam ter uns 16, 17 anos. Zombaram de mim de um jeito agressivo, dizendo que me viam no Posto 9 com uns biquínis escandalosos e que mulher que se vestia daquele jeito queria outra coisa… Então me atacaram. Não lembro ao certo o que fizeram, são apenas flashes que tenho na memória [Monique chora]. Sei que não houve penetração, mas passaram a mão pelo meu corpo, me mandaram fazer umas coisas neles… Um desses rapazes era o Oswald.

Por que se casou com ele?
O Oswald reapareceu uns seis anos depois. Pediu perdão e reconheceu o mal que havia feito. Foi um mal grande mesmo, porque minha vida sexual ficou um fiasco. Só tive coragem de transar pela primeira vez aos 18, com um namoradinho que estava comigo havia dois anos. Não deixava que me tocasse direito e às vezes chorava depois de ir para a cama com ele. E o Oswald voltou tão arrependido, queria cuidar de mim… Acreditei que, se aceitasse seu afeto, fecharia meu ciclo de sofrimento.

E fechou?
Ele quis casar direitinho, me dar uma vida boa, me deu um carro… Nosso casamento durou quase um ano e teve momentos bons. Mas não deu certo porque havia muita mágoa envolvida. O Oswald acabou pagando pelo que fez. Mataram ele… Depois soube que o outro rapaz que abusou de mim também teve um fim trágico. Sofreu um acidente de carro, sei lá…

Nos casamentos seguintes, você teve filhos. Foi uma boa mãe?
Tentei ser uma mãe nota 10, mas meus filhos não acham. Fui ausente, principalmente para o Armando. Estava no auge quando ele era pequeno, viajava muito para desfilar. Quando voltava, o bichinho dormia agarrado comigo… Quando a Bárbara nasceu, deve ter se sentido mais abandonado ainda. Investi tanto no nascimento dela…

Em que sentido?
A Bárbara foi um bebê de proveta. Tinha 35 anos quando engravidei, o pai dela sofria de varicocele [dilatação das veias testiculares, que pode levar à infertilidade]. Nos amávamos, queríamos um filho, então procuramos uma clínica de reprodução. Os hormônios que tive que tomar nos três anos de tentativa eram caríssimos! Na época, eu tinha um bom dinheiro guardado e gastei tudo no tratamento.

Como é sua relação com a Bárbara atualmente?
Já foi mais complicada, mas melhorou. Ela é difícil. Não demonstra o quanto gosta de mim e eu sou louca por ela [Monique chora]! Somos a cara uma da outra, mas com personalidades opostas. Ela é mandona e eu sou cagona. Ela é pão-dura, enquanto eu sou mão aberta… Nunca tive pulso firme como mãe, deixei meus filhos fazerem o que queriam. Na verdade, acho que fui mais amiga do que mãe. Mas foi por causa deles que tive força para enfrentar o maior desafio da minha vida.

Qual?
Há 22 anos, surgiu uma mancha na parte interna do meu braço esquerdo, próximo ao seio. Era um câncer de pele, um melanoma nível 4, bem severo. Fiz uma cirurgia em que perdi muito tecido mamário. O Armando e a Bárbara eram crianças e eu só conseguia pensar: “Não vou morrer, tenho que criar meus filhos!”. Ninguém ficou sabendo, fiquei reclusa nessa fase.

Fez químio? Perdeu cabelo?
Fiz, mas não perdi cabelo porque foi bem na fase em que já estava com a cabeça raspada [Monique lançou a moda do cabelo “Joãozinho”]. Quando me recuperei, malhei feito uma louca. Fiquei com o corpo mais sarado da minha vida e ainda posei nua pela quinta vez [risos].

Se acha bonita hoje?
Nem no auge me achava, agora menos ainda. Quero fazer umas plásticas. Já fiz no seio, no papo e uma lipo. Agora sonho com uma abdominoplastia [retirada do excesso de pele da barriga].

Com o que mais sonha?
Em nunca mais ter depressão, em me curar completamente.

 

Com 180 Graus 



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