Publicado em: 11 ago 2015

Dilma faz apelo para que Senado barre ‘pautas-bomba’ da Câmara

A presidente Dilma Rousseff fez na noite desta segunda-feira (10) um apelo a senadores para que o Senado “reforme” ou barre a aprovação de propostas provenientes da Câmara que elevem o gasto público – as chamadas “pautas-bomba”. 

Dilma recebeu em um jantar no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência da República, 21 ministros e cerca de 40 dos 81 senadores.

De acordo com o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), a presidente não mencionou projetos específicos, mas “deixou clara” a preocupação com a aprovação de matérias que criam despesas permanentes.

“A presidente fez um apelo pela colaboração do Senado que, sem nenhum confronto com a Câmara, possa ajudar o país, possa fazer andar uma agenda que não prejudique o país. Ela tem muita confiança de que o Senado, pela composição dele, pela representação dos estados, possa cumprir um papel de Casa revisora, de modificar esses projetos”, afirmou Viana.

Segundo o petista, em um discurso para todos os ministros e senadores presentes, Dilma afirmou: “Eu respeito, e é preciso garantir a independência entre os poderes. Mas preciso fazer esse apelo”. 

Conforme o vice-presidente do Senado, Dilma “tem otimismo e garantiu que dá para superar a crise, mas fez esse apelo para que o Senado ajude e não crie mais dificuldades”.

Na semana passada, a Câmara dos Deputados fez avançar a chamada “pauta-bomba” aoaprovar em primeiro turno uma proposta que vincula salários de procuradores de estado, delegados e de integrantes da Advocacia-Geral da União a 90,25% da remuneração de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

O impacto dessa medida será de cerca de R$ 2,5 bilhões às contas públicas, conforme o Ministério do Planejamento.

Também está na pauta da Câmara projeto que aumenta a correção do saldo do Fundo Nacional de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS),o que, segundo o governo prejudicará o programa Minha Casa, Minha Vida, por impactar os juros de financiamento habitacional.

A intenção da presidente Dilma ao reunir os senadores é procurar fazer frente à atuação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que rompeu com o Planalto e passou a se declarar de oposição.

Diante da dificuldade de diálogo com Cunha, a presidente procura melhorar a relação com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e senadores da base aliada.

Apesar de convidado para o jantar no Palácio da Alvorada, Renan não compareceu e disse aos colegas não considerar “de bom tom” participar da confraternização.

Mais cedo, porém, ele acenou com a possibilidade de colaborar com as medidas de ajuste fiscal ao apresentar aos ministros da área econômica um pacote de propostas para tentar estimular a economia.

Renan Calheiros, que se afastou do Palácio do Planalto desde que passou a ser investigado pela Operação Lava Jato, classificou a situação do país de “dramática” e destacou que as sugestões apresentadas são uma “contribuição” do Congresso.

De acordo com Jorge Viana, Renan está “disposto a ajudar” o governo a superar a crise econômica. “Renan tem explicitado que a decisão dele é de ajudar. Que se deixe de lado essa pauta que prejudica o país. Não tem sentido votarmos ajuste fiscal e votarmos depois matéria que desajustam”, afirmou o vice-presidente do Senado.

Pacote de propostas
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), confirmou o relato de Jorge Viana sobre o apelo feito por Dilma e disse que a presidente “gostou” do pacote de propostas entregues nesta segunda por Renan Calheiros aos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento).

Segundo o peemedebista, a presidente já marcou uma reunião para tratar do tema e do cenário “político” do país.

“Ela gostou da proposta que apresentamos pós-ajuste. Remarcou reunião com líderes para a próxima quinta-feira pela manhã”, disse Eunício de Oliveira ao G1.

Crítica
Apesar de ser do partido de Dilma e defensor do governo, o senador Jorge Viana fez críticas à falta de diálogo entre a presidente e o Legislativo. Ele afirmou esperar que reuniões com a desta noite se repitam.

“Muitos dos problemas que estamos vivendo é porque está faltando diálogo. Sou crítico, sou da base, mas acho que quem ganha eleição tem que se abrir ao diálogo, inclusive com oposição. Lamento que isso não aconteça. Ex-presidentes que não conversam. E, para mim, isso exige uma grandeza de todos, e o gesto deve começar por quem ganha”, disse.

Com G1



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