Publicado em: 18 nov 2013

Criança de 10 anos faz arte com pedras para auxiliar no sustento da família

20131116215920_610x610Pés descalços e pedras nas mãos. É assim que um menino de 10 anos consegue dinheiro para ajudar a família. Ele usa a arte que aprendeu espontaneamente para tentar convencer os motoristas a lhe dar moedas que serão usadas para comprar comida. Alison, como vamos chamá-lo, vai às ruas todos os dias. As pedras, colhidas num terreno baldio próximo à sua casa, são os instrumentos que ele usa para fazer malabarismo em um semáforo da Avenida Ruy Carneiro, no bairro de Manaíra, em João Pessoa.

E não importa a hora. Ele sai de casa ainda muito cedo, por volta de 7h, e fica nas ruas “até quando o corpo aguentar”, como costuma dizer. O olhar tímido mostra a desconfiança do menino que se assusta quando as pessoas se aproximam dele. Alison também não frequenta a escola. O garoto mora com os pais e mais quatro irmãos no bairro São José, um dos mais carentes da  Capital. “Não gosto de falar sobre minha família”, diz o menino com os olhos marejados.

A justificativa do garoto, que desde cedo se viu obrigado a trabalhar para ajudar nas despesas de casa, é que a situação de pobreza o incomoda. Alison sonha com dias melhores. Ele quer ser jogador de futebol. “Tem gente que tem tudo. Tem carro, tem escola, tem comida. E eu não tenho nada. Tenho que passar o dia todo aqui se quiser ter comida em casa”, lamenta.

Esta realidade se repete em pontos estratégicos de João Pessoa. Um levantamento da Prefeitura de João Pessoa apontou que a cidade tem hoje cerca de 80 a 100 moradores de rua e na rua.

Quando foi lançado em 2006, o Programa Ruartes, especializado em abordagem social e que tenta minimizar a permanência de pessoas em situação de rua, através de atividades lúdicas, monitorou as áreas de maior concentração dessas pessoas. Eles permaneciam quase todo tempo no Parque Solon de Lucena, Terminal Rodoviário, Ponto Cem Réis e na orla.

A ideia do projeto é oferecer atividades que viabilizem os direitos do cidadão. Direitos básicos como o de se alimentar, tomar banho e receber a educação. A experiência foi tão boa que um grupo de estudantes alemãs está acompanhando as equipes do Ruartes para conhecer a iniciativa desenvolvida na Paraíba. A maioria estuda Ciências Humanas e a prática do projeto está agregando experiência ao curso iniciado na Universidade de Vechta, na Alemanha.

“É uma realidade totalmente diferente da que encontramos na Alemanha. Não vemos esse tipo de coisa lá. O Ruartes foi muito bem pensado. A abordagem que fazemos, especialmente às crianças, é pautada por estudos, análises. Não é algo solto. Primeiro observamos, para só depois encontrarmos o jeito certo de abordar”, disse Toma Paura, uma das estagiárias alemãs.

A estudante está encantada com a experiência. Alison, o menino malabarista do semáforo, será o próximo ‘alvo’. “Conheci ele por acaso, fazendo malabarismo no sinal. Fiquei incomodada com a situação e repassei para os supervisores. Queria muito mudar essa realidade. Sei que se a oportunidade for dada ao garoto, ele saberá aproveitar. A gente percebe que ele é inteligente e que tem vontade de vencer”, declarou.

Crédito: Wellyton Queiroz

20131116220132Atitudes que geram mudanças

Em 2012, foram realizadas cerca de 300 abordagens a pessoas em situação de rua e 60 buscas ativas, que é o encaminhamento para as casas de acolhida e para o atendimento psicossocial. Rafael foi ‘abraçado’ pela iniciativa quando ainda era criança. Ele tinha nove anos quando fugiu de casa em Pernambuco, para procurar a mãe, que estaria morando em João Pessoa. Rejeitado por ela, o menino passou a viver na rua e conheceu a árdua realidade de quem se envolve com as drogas.

Rafael foi localizado por Conselheiros Tutelares que o encaminharam para uma casa de recuperação. Lá, o jovem recebeu tratamento e atenção. “Encontrei o carinho de que eu precisava. As pessoas não tem ideia do quanto é importante ter o apoio e o incentivo para que nós busquemos um futuro melhor”, contou.

Hoje, aos 18 anos, o menino escreve uma nova história. Ele está fazendo um curso profissionalizante e já está trabalhando. “Quando eu me lembro de tudo que passei na rua, é que fico com mais vontade de estudar e buscar o melhor. Não quero mais aquela vida”, declarou.

As histórias de Rafael e Alison são apenas algumas que encontramos em projetos sociais desenvolvidos em João Pessoa. São iniciativas como essas que mudam a história de pessoas antes desacreditadas, esquecidas. “É convivendo com histórias assim que passamos a valorizar mais aquilo que temos. O que levamos como lição é que uma atitude, uma palavra, uma ação, pode mudar a vida de muitas pessoas. Por que não tentar escrever um capítulo diferente na história de uma criança que tem menos do que nós? Abraçar, conversar, rir e chorar com eles é o mínimo que podemos oferecer. Isso muda o mundo. É isso que quero. Não importa se é aqui ou na Alemanha”, finalizou a estudante, Toma Paura.

 

 Renata Nunes




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