TODOS ESTÃO REFÉNS DE CÁSSIO
Não há um só dia em que não haja ao menos uma noticia sobre Cássio Cunha Lima, na mídia da Paraíba. Não bastasse o fato de ele está bem focado pela grande imprensa brasileira, em razão de compor uma geração política que se coloca no centro das atenções e das disputas eleitorais de maior dimensão no país, envolvendo amigos pessoais seus, descendentes como ele de notáveis figuras da vida pública brasileira dos últimos tempos, ele próprio tem procurado restabelecer as boas relações com jornalistas do eixo Brasília/São Paulo/ Rio, especialmente com os mais prestigiados articulistas baseado na Capital da República. Tanto ele quanto o pai, noutros tempos, vinham construindo esses relacionamentos com surpreendente avanço, mas o episódio Burity e sua cassação causaram recuos e arrepios. Agora, contudo, Cássio, mais maduro e melhor situado no Congresso e no cenário nacional, parece reconstruir com esmero o tempo perdido. E progride.
Pela projeção que está obtendo fora da Paraíba, Cássio poderia está mais inclinado a cuidar de seu mandato de Senador e valer-se das boas relações para pavimentar o futuro, ao lado de Aécio Neves e Eduardo Campos, para os quais presta, ao mesmo tempo, colaboração relevante como interlocutor comum aos dois. De fato, essa é uma posição privilegiada para quem, além de novo ainda, tem um mandato de longa duração, faltando mais de cinco anos para seu término.
Apesar dessa zona de conforto, a alguém que não pode ficar jovem a vida toda e nem tem mais idade para ficar adiando projetos por comodidade, planejar a vida e calcular todas as suas chances é tão preciso quanto navegar é preciso. A essas alturas, qualquer ídolo popular olha para o espelho para saber se seus encantos plásticos ainda são os mesmos de antes. E, como o espelho não mente jamais, Cássio está medindo o potencial de sua beleza, um atributo de sedução das massas, herdado em parte do pai, de que se serviram os dois para magnetizar os palanques e mexer com as emoções dos eleitores. Não é que Cássio não seja mais o mesmo, mas o tempo não conspira para rejuvenescê-lo, e de quatro em quatro anos ele vai ficando muito mais velho do que se fossem contados os anos de um por um. Daí porque Cássio olha o futuro pelo espelho, e certamente pensa que não pode tirar de si para dar aos outros um taco do tempo que resta aos cinquentões. Afinal, como ninguém é eterno, a não ser enquanto dure, Cássio já durou para traz mais do que, provavelmente, durará para frente.
Essa equação, decorrente da guerra entre beleza, vida e sucesso, está levando Cássio a pensar mais na Paraíba, onde reina como um Roberto Carlos de meia idade, temeroso de “meus cabelos brancos” e da nova geração de ídolos que estão sendo plantados para nascer a qualquer momento, talvez em circunstancias inesperadas. Logo mais, ele não será tão jovem como deseja. Se é verdade que os encantos dos grandes líderes também se encantam, no sentido de sumirem, Cássio terá de usar os seus enquanto não desaparecem, porque ele foi cultivado como um astro pop que não pode perder os atributos originais. Lógico que Cássio não tem só essas qualidades, mas a tomar por base o que aconteceu entre ele e Vené, em Campina, é bom se prevenir com relação aos astros mais novos que enfeiticem o povo.
Plástica, carisma, empatia, dão a Cássio, hoje, na Paraíba, a condição de sumo pontífice dos credos eleitorais, um papa Francisco mais jovem dos novos tempos no Estado, depois de haver passado por várias experiências sacerdotais em vários níveis da hierarquia da igreja profana da política. Se é que há igreja profana e há papa nela.
A superioridade eleitoral de Cássio, elevado ao nível de monopólio aparente, está também muito fortalecida pelo que há entre ele e RC e o que representa a imagem de cada um perante o eleitorado. Cássio, ao que se presumia anteriormente, teria engrandecido RC correndo o risco de ser engolido por ele, mas, sem a plástica e o carisma de Cássio, RC olha no espelho e se depara com o rosto dele, uma assombração que põe medo em quem olha mas agrada a torcida. Em suma, Cássio é o rei da cocada preta, invade o espelho dos outros, rouba a cena dos astros de menor grandeza, atrai gregos e troianos por onde passa, paralisa o processo político da Paraíba, mas, contraditoriamente, corre os maiores riscos de queda, exatamente por causa de seu tamanho. Por isso, não pode se descuidar das estratégias e nem abusar delas. Além do que conserva ainda de atrativo plástico, Cássio precisa recuperar de Ricardo Coutinho o tempo que em vão emprestou a ele. Tempo emprestado é como a beleza, depois de muito usada, não volta ao que era.
Este artigo integrará o futuro livro:
‘PREVISÕES POLÍTICAS DE UM VIDENTE CEGO’
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