Publicado em: 23 abr 2015

Petrobras reconhece perda de 6,2 bilhões de reais com a corrupção

Os desvios identificados com a operação Lava Jato representaram um prejuízo de 6,2 bilhões de reais na Petrobras, informou o gerente executivo da companhia, Mario Jorge Silva, durante a divulgação do balanço auditado pela PriceWaterhouse na noite desta quarta-feira. O valor se refere às perdas entre 2004 e 2012, referentes a “gastos adicionais [em média de 3% de sobrepreço] ao contratar empresas membros do cartel em ativos pagos e não utilizados”. A companhia teve acesso aos depoimentos dos delatores da Lava Jato, o que ajudou a reconhecer a existência de 27 empresas fornecedoras da Petrobras, que trabalhavam no sistema de cartel.

A empresa registrou um prejuízo de 21,6 bilhões de reais, depois de um lucro de 23,6 bilhões registrado em 2013, fruto da desvalorização de seus ativos no total de 44,6 bilhões de reais. Esse ajuste negativo se deve a uma conjunto de fatores: postergação de projetos estratégicos, como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da desvalorização do real e da queda do preço do petróleo. A mesma investigação da Lava Jato gerou turbulências que derrubaram a presidenta Graça Foster e toda a diretoria, em fevereiro deste ano, logo após a divulgação atrasada do balanço do terceiro trimestre em janeiro deste ano. Foram cinco meses até que a empresa tivesse o aval de uma auditoria dos resultados contábeis.

Antes de Silva detalhar os números, o presidente da companhia, Aldemir Bendine, disse que com a divulgação do balanço da empresa estava dando um passo fundamental para a restaurar a credibilidade da Petrobras. “Caminhamos rumo ao esclarecimento completo dos desvios da companhia, que vinham corroendo o patrimônio de seus acionistas e de todos os brasileiros”, disse Bendine.

Corrupção

Dos 6,2 bilhões de reais em perdas com corrupção, a maior parte (55%) ocorreu na área de abastecimento – com baixa de 3,326 bilhões de reais. A área era coberta por Paulo Roberto Costa, que trabalhou por 30 anos na empresa até 2012. Coincidência ou não, Costa teve sua pena decretada nesta mesma quarta-feira: entre 7 e 9 anos por 20 crimes cometidos durante a sua passagem pela estatal. Os desvios na área de Gás e Energia responderam por 637 milhões de reais das perdas. Em Distribuição e Internacional houve baixas de 23 milhões de reais cada uma – Nestor Cerveró, atualmente investigado pela Polícia Federal foi diretor de Internacional – , ao passo que o Corporativo da companhia teve perda de 99 milhões.

De acordo com Edson Daniel Lopes Gonçalves, pesquisador do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da FGV, as perdas registradas pela estatal em relação à corrupção estão dentro das expectativas divulgadas nos últimos dias. “A base utilizada na metodologia foi calcular o valor dos contratos suspeitos citados na Operação Lava Jato e aplicar um percentual fixo de 3% sobre o valor total, para calcular os gastos adicionais. Já estavam estimado um valor parecido ao apresentado”.

Para o especialista, o que mais chama atenção é a soma da desvalorização dos ativos – o chamado “impairment”- que chegou a 44,6 bilhões de reais, mais a baixa contábil pelo esquema de pagamentos indevidos de 6,2 bilhões. “O total chega a 50,8 bilhões de reais, muito distante de uma primeira estimativa, apresentada em janeiro, que projetava perdas de 88 bilhões de reais. É importante que eles divulguem melhor a metodologia. Essa diferença merece ser explicada com cuidado”, afirma.

Segundo Bendine, a diferença entre os 88 bilhões – cifra que é citada como um dos motivos da demissão de Graça Foster do comando da Petrobras –  e os 44,6 bilhões se deve à metodologia empregada nos dois momentos. No balanço do terceiro trimestre de 2014, divulgado no final de janeiro, a empresa calculou os valores levando em conta o que seria um preço justo para a venda de ativos. “No impairment, trabalhamos o preço do seu ativo a valor presente”, disse Bendine.

Na opinião de Lopes, a divulgação do balanço do terceiro trimestre, que estava atrasado havia 159 dias, é um grande passo para a estatal e para a economia brasileira. “Caso contrário, a Petrobras sofreria com algumas cláusulas com a não divulgação, como a de pagamento adiantado das dívidas. A perspectiva agora é de melhora das contas da estatal  principalmente pela mudança do conselho da estatal”, explica.

Investimentos futuros

Apesar do prejuízo, o balanço da companhia mostra que a receita de vendas cresceu 11% no ano passado, na comparação com 2013, para 337 bilhões de reais. No ano passado, o lucro bruto da estatal cresceu 15% em relação a 2013, alcançando 80,4 bilhões de reais, refletindo o aumento da demanda e maiores preços de venda de derivados no mercado interno em virtude dos reajustes no diesel e na gasolina em 2013 e 2014.

Ainda segundo o balanço da Petrobras, os maiores preços de energia e gás natural também contribuíram para a elevação do lucro bruto.

Apesar das informações negativas, Bendine lembrou que a petroleira ainda guarda capacidade para investimentos robustos, “na casa dos 90 bilhões de reais” este ano. A previsão para 2015 é de arrecadar 3 bilhões de dólares com vendas de ativos. Bendine insistiu, no entanto, que a Petrobras não deve vender ativos do pré-sal: “Volta a reafirmar que não tem interesse de desinvestimento e ativos do pré-sal”, disse.

A expectativa da Petrobras é encerrar o ano com caixa de 20 bilhões de dólares, contra saldo inicial de 26 bilhões.

Produção

A produção total, no Brasil e no exterior, em 2014, atingiu a média diária de 2.699.000 barris de óleo equivalente, 5,1%  a mais do que no ano anterior. A estatal divulgou a meta de produção para o próximo de ano de 2,886 milhões de barris por dia. Para este ano, a produção projetada é de 2.796.000 por dia.

Portal do Litoral PB

Com El País



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