Publicado em: 10 set 2014

Candidatos jovens usam Facebook e WhatsApp em busca de eleitores

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Em busca de um eleitorado jovem e muitas vezes pouco entusiasmado com a política tradicional, jovens candidatos a deputado nas eleições de 2014 estão usando ferramentas como o WhatsApp e o Facebook como arma, embora a eficácia da estratégia não seja consenso entre eleitores ouvidos.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, há 379 candidatos a deputado federal entre 20 e 29 anos e 938 candidatos a deputado estadual nessa mesma faixa etária. Eles representam cerca de 6% do total de postulantes às Câmaras estaduais e federal. A idade mínima para disputar o cargo de deputado é de 21 anos na data da posse.

A BBC Brasil conversou com candidatos de diferentes partidos que estão entre os mais jovens na disputa de outubro para entender como eles dialogam com potenciais eleitores.

“A gente percebe que mudou a forma de fazer campanha. O jovem não dialoga com candidato de placa”, diz Caio Pinheiro, 23 anos, que participou de movimentos estudantis, rurais e sindicais e agora é candidato a deputado estadual no Acre pelo PT.

BBC nas Eleições: O Jovem e a Política

Os jovens podem mudar a cara da política? O que querem as gerações mais novas em relação ao futuro do Brasil? Como adolescentes e jovens adultos estão inovando nas maneiras de se discutir e fazer política? Essa e outras questões serão respondidas ao longo desta semana durante a terceira parte da cobertura especial da BBC Brasil sobre eleições de 2014.
O papel dos jovens durante as eleições foi um dos assuntos mais destacados por leitores em uma consulta promovida pelo #salasocial – o projeto da BBC Brasil que usa as redes sociais como fonte de histórias originais – e apontado como um dos temas que deveriam receber mais atenção por parte dos candidatos presidenciais. Acompanhe nossa cobertura sobre essas e outras questões!

Ele conversa com eleitores via Facebook e WhatsApp. “Pela internet dá para atingir o jovem da zona rural, que já tem acesso às redes sociais. Assim dialogamos com os índios e com os eleitores aos quais não podemos chegar.”

Com os índios, diz, a conversa é sobretudo pelo Facebook, que pode ser acessado de computadores (já que muitos vivem em áreas em que o sinal de celular precário). O WhatsApp permite ao candidato dialogar com grupos militantes ou com “tribos” mais específicas – por exemplo, os que curtem esportes.

Essa comunicação é feita geralmente com fotos ilustradas com textos muito curtos e, obviamente, com uma hashtag ligada ao seu universo (#maiseducação e #universidadeestadualjá, por exemplo). “Eles costumam ter preguiça de ler”, diz.

Mas o mais difícil, diz ele, é vencer a resistência dos eleitores. “O jovem não diferencia mais a política da politicagem”, lamenta. “Eles não querem promessas, querem ser ouvidos.”

Essa desconfiança também se reflete na opinião de leitores da BBC Brasil que foram convidados a opinar no Facebook sobre o uso de ferramentas online em campanhas. A leitora Luciana Maria, por exemplo, diz que bloquearia qualquer abordagem de políticos. Já o leitor Mauro Saccenti, por outro lado, reclama que muitas vezes o diálogo direto com candidatos nas redes sociais não é permitido.

As principais bandeiras de Caio Pinheiro – projetos relacionados à educação, à qualificação profissional e ao acesso dos estudantes ao mercado de trabalho – são semelhante às de Paulo Mathias, também 23 anos, candidato pelo PSDB à Assembleia Legislativa de São Paulo, e às de Edil Passos de Araújo, 24 anos, candidato ao mesmo cargo pelo PSB em Goiás.

“Nos protestos (de 2013), vimos que tudo passa pela educação, pelo acesso dos jovens ao ensino superior e a mais oportunidades”, diz Mathias, que também tenta combater o “sentido pejorativo” que a política ganhou para parte de sua geração.

“Mas não adianta termos ido para as ruas (protestar) se as pessoas se omitirem de votar. Uma abstenção alta fará com que os protestos não tenham valido em nada.”

Mathias, que antes de ser candidato presidiu a Juventude do PSDB e compôs a equipe do Programa Escola da Família, do governo estadual, diz que é muito difícil trazer o jovem para a política. Mas ele tenta usando comunicação via Facebook, Instagram, Twitter e o (já velho) SMS para postar fotos de campanha, hashtags e mensagens. Mesmo assim, ele não descarta abordagens mais tradicionais, como a distribuição de adesivos para carros. A foto teve 71 curtidas e um compartilhamento.

ReproduçãoPostagem de Paulo Mathias no Facebook mostra candidato distribuindo adesivos.

Engajamento

Edil Passos de Araújo, candidato em Goiânia, acha que das ruas saíram “jovens mais engajados, (mas) de forma mais resistente aos partidos”.

Advogado, ele diz que resolveu sair candidato pelo PSB porque “há uma carência de líderes na política brasileira” e por acreditar que “podemos fazer a diferença como jovens e colocar os partidos nas mãos das boas pessoas”.

Araújo também usa as redes sociais para alcançar eleitores no interior do Estado de Goiás, postando charges, pequenos vídeos e até frases de Nelson Mandela e da poeta Cora Coralina. O WhatsApp serve para falar com grupos de simpatizantes e ativistas de sua campanha.

Reprodução

De volta aos protestos de 2013, deles saíram alguns candidatos pautados pela juventude, mesmo que eles próprios já tenham passado dos 20 e poucos anos.

“Pena que muitos perderam o prazo de fazer seu título de eleitor. Passou a Copa do Mundo e as pessoas viram que a eleição estava em cima da hora.”

“(Minha candidatura) vem da percepção de que, mesmo com todas as mobilizações populares, o Legislativo deu de ombros às demandas”, argumenta Bruno Vieira Maia, 33, que concorre com o nome Todd Tomorrow a deputado estadual paulista pelo PSOL, depois de ter sido ativista nas manifestações do ano passado.

“Avaliamos (com outros ativistas) que era possível a um movimento social de juventude se colocar para disputar uma vaga. É difícil mudar a política, mas lá dentro (no Legislativo) dá pelo menos para articular os movimentos, mudar algo de dentro para fora.”

Um obstáculo, diz, é que muitos dos jovens manifestantes sabem “dizer o que não querem. O que querem é mais difícil (entender)”.

Reprodução

Cartaz de Caio Pinheiro: hashtags e Facebook para conversar com eleitores indígenas

Portal do Litoral PB

Com BBC Brasil 




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