Ebola: ‘Houve realmente uma demora na detecção da epidemia’, diz especialista
Especialistas debateram ao vivo questão do ebola e de outras epidemias na última terça-feira (2), durante a exibição do programa Sala de Convidados, no Canal Saúde. A edição discutiu como o Brasil está se preparando para a possibilidade remota de o vírus no país, além de explicar como funciona a vigilância epidemiológica funciona e como os órgãos de saúde se preparam para situação de surtos e epidemias. O programa lembrou também que epidemias como a do ebola não são novidades na história da humanidade. Cólera, varíola, sarampo e gripo também já foram responsáveis pela morte de milhões de pessoas em outros momentos.
No caso do ebola, a letalidade e a ausência de tratamentos específicos são estigmas que assustam muito no caso do ebola, para a infectologista Juliana Matos, pesquisadora em Saúde Pública do INI/Fiocruz. A infectologista acredita que, no caso dessa epidemia, houve realmente uma demora na detecção. “O caso índice parece ter acontecido em dezembro, em um lugar onde não havia casos. Como surgiram casos em lugares onde antes não havia, a equipe não estava preparada para diagnosticar. Isso só começou a ser ventilado internamente em março e só foi pra mídia mundial, declarado como emergência internacional, em agosto”, lembra.
E atual epidemia de ebola já matou mais de 1,5 mil pessoas e infectou mais de 3 mil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A infectologista Marília Santini, vice-diretora de Qualidade do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), explicou que uma situação pode ser chamada de epidemia quando o número de casos de determinada doença excede a quantidade de casos encontrados normalmente. “Elas podem ter diferentes amplitudes. Você precisa ter um agente infeccioso e uma população suscetível, ou seja, seres humanos capazes de se infectar”, explica.
Wanessa Tenório Gonçalves Holanda de Oliveira, diretora substituta do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde lembra que no Brasil, tivemos recentemente uma epidemia – já contida – de sarampo em Pernambuco. “Normalmente pra tentar evitar a ocorrência de uma epidemia são realizados os planos de contingência, ou seja, planejamentos pra que caso a doença ocorra, saber como os diversos atores irão se movimentar e o que deve ser feito de ação para evitar que a doença se alastre”, explica.
Santini explica que não se tem certeza sobre o assunto, mas que provavelmente o hospedeiro do ebola seria o morcego, que levaria a doença para outros mamíferos – como o macaco. “Quando o homem entra nesse ambiente, ele se contamina pela primeira vez. Como nosso organismo não conhece bem o vírus e também pelas características especificas do vírus, a letalidade é alta”, avalia.
A infectologista Juliana lembra que várias epidemias resultam justamente da interferência do homem no ambiente, como foi o caso da febre amarela. “Você tem doenças que o vírus circula naturalmente na natureza em vários animais e quando o homem entra nesse nicho ecológico, passa a interferir nesse ciclo e se torna um hospedeiro acidental. O organismo dele não está preparado para isso e ele adoece”, esclarece.
No caso do ebola, Wanessa lembra que a primeira ação é o isolamento do paciente. Como o tempo de encubação do vírus pode durar até 21 dias, uma pessoa pode manifestar sintomas durante uma viagem de avião ou só depois de já ter chegado ao destino. “Já existe todo um protocolo estabelecido [em caso de identificação de viajantes com ebola], onde o avião vai entrar em contato com o aeroporto onde ele vai descer e esse aeroporto já vai fazer o contato com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para que esse paciente seja encaminhado a um hospital de referência. Se ele manifestar a doença depois, na primeira vez que ele for ao serviço de saúde deverá ser questionado se nos últimos 21 dias ele esteve nos locais afetados e se confirmado, a primeira medida é o isolamento”, enumera.
Apesar do medo que o ebola geral Wanessa destaca que a doença é transmitida somente através de pessoas que já estejam apresentando os sintomas. Ou seja, mesmo que a pessoa esteja infectada, ela não vai transmitir o vírus enquanto não estiver demonstrando febre, fadiga, vômito, dores de cabeça e nas articulações, além de dores musculares e abdominais.
Apesar de ter a letalidade alta, os especialistas apontam vários fatores que dificultam a transmissão do abola. Santini lembra que o vírus do ebola que só é transmitido a partir da pessoa que já está doente. “Ao contrário do HIV, por exemplo, que você não sabe que tem e transmite, você só vai pegar o ebola se tiver contato com alguém que está doente”, lembra.
Sobre o contágio, Juliana lembra que é preciso ter contato na mucosa, olhos, nariz, boca ou lesão de pele pra adquirir o vírus, ou seja: a pele sem lesões, ou micro-lesões, não se infecta com o vírus, o que minimiza os riscos. “A pessoa que vai adoecer teve contato com o doente. O ebola é um vírus de relativo fácil controle, se você for comparar com vírus que são transmitidos pelo ar, pela água, por mosquito. Numa epidemia de ebola, você consegue facilmente rastrear a cadeia de transmissão”, aponta.
Portal do Litoral PB
Com JB
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