Garimpeiros trabalham até 12 horas para garantir renda na Paraíba
“O garimpeiro sempre viveu uma escravidão moderna”. É assim que João de Deus Oliveira se refere à rotina de trabalho dele e de outros 85 homens que fazem parte da Cooperativa de Garimpeiros da cidade de Nova Palmeira, na região do Seridó paraibano. João, que trabalha há 40 anos dentro das minas, explica que encara uma jornada de mais de 12 horas diárias para extrair da terra as pedras e minérios que garantem a sustentação dos cooperados.
Em seu depoimento à TV Paraíba, João avalia que “fala-se que a escravidão foi abolida, mas o garimpeiro sempre viveu uma escravidão moderna”. “Na nossa sociedade, em que o sistema está monopolizado na mão de poucas pessoas, um cara como eu que não tive oportunidade de estudar, não tem oportunidade. A gente imagina outra coisa, mas o mercado não abre as portas por conta da limitação que é o estudo, daí acabamos no garimpo”, explica.
Segundo os dados da cooperativa, num dia bom de trabalho, os garimpeiros conseguem extrair até 200 kg de mica, um mineral brilhante utilizado na indústria eletrônica. Cada quilo deste minério é vendido ao preço de R$ 0,45 para o atravessador e 10% dos lucros são entregues aos donos das terras. O valor das pedras brutas é baixo em comparação ao mesmo minério após ser lapidado. O quartzo rosa, também encontrado no local, vale de R$ 1 a R$ 5, mas a pedra lapidade pode custar mais de R$ 50.
Município depende da mineração
Nova Palmeira tem aproximadamente 5 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e cerca de 90% da renda do município vem da mineração. Após extraídas, as pedras passam pela usina de beneficiamento, onde são divididas por tamanho, e as que são selecionadas seguem para o centro de lapidação, onde ganham a forma de jóias. Segundo a cooperativa, neste setor trabalham 36 mulheres que são cooperadas.
De acordo com Ruthinea Dilenna, presidente da cooperativa dos garimpeiros, a previsão é de em breve seja construído um centro de análise de pedras, para determinar a pureza das gemas, e uma usina de fundição, que vai permitir a confecção de semi-jóias. “Daqui a uns três meses já estaremos agregando valor aos minérios. A jóia já tem condição de sair pronta de Nova Palmeira”, explicou Ruthinea.
Medo de acidentes
Apesar do trabalho árduo, muitos garimpeiros continuam a trabalhar no local, como é o caso de Antônio Vieira, que é garimpeiro há 30 anos e já chegou a perder um dedo em uma explosão errada em uma das minas. “A dificuldade que a gente tem é o medo de cair as pedras em cima de nós, mas eu acho muito bom o trabalho no garimpo”, diz Antônio.
Já Renildo da Silva, de 28 anos, trabalha em busca da riqueza. Ele já chegou a ganhar dinheiro com uma pedra de tantalita, também usada na indústria eletrônica, mas não perde a esperança de conseguir algo mais valioso, como a turmalina paraíba, que é uma das pedras mais raras do mundo, sendo encontradas em apenas cinco minas em todo o planeta. “Ganho o dinheiro que mantenho minha família e já está bom. Mas quem sabe um dia eu não acho uma pedra preciosa e mudo de vida? O sonho permanece”, completa Renildo.
G1PB
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