Publicado em: 23 jul 2014

Vazamento de fotos íntimas: meninas criam aplicativo para combater o slut shaming

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Um grupo de seis meninas de 16 anos de idade criaram um aplicativo de celular para enfrentar o que consideram o maior problema de sua comunidade: o slut shaming depois do vazamento de fotos íntimas. A ideia é acolher meninas adolescentes vítimas desse tipo de crime em um aplicativo que permite que elas conversem com outras vítimas, aprendam sobre como estão protegidas pela legislação e sejam convidadas a participar de grupos presenciais para combater o bullying.

“Se eles usam apps para nos humilhar, nós revidamos usando apps para nos empoderar e organizar!”, é o mote do grupo. “O nosso aplicativo irá falar sobre violência virtual sofrida por mulheres, em especial o vazamento de fotos íntimas, tema urgente a ser tratado. Por isso, pensamos em fazer esse aplicativo, para dar apoio a essas mulheres, levar conhecimento e nos unir”, dizem as meninas – Camila Ziron, Estela Machado, Hadassa Mussi, Larissa Rodrigues e Letícia Santos, todas no Ensino Médio.

As meninas, que moram em Santos (SP), participam do concurso Technovation Challenge, no qual grupos de meninas do mundo inteiro participam com um protótipo de aplicativo que resolva um problema local. No Brasil, há outros grupos competindo entre si, com um total de 350 meninas. Um deles será escolhido para apresentar e defender sua proposta na Califórnia. No final do concurso, o melhor aplicativo ganha 10.000 dólares de financiamento e suporte para desenvolvimento.

“O principal problema disso tudo é o slut shaming que as meninas sofrem, seguido por completa exclusão social, então pensamos em solucionar este problema que leva muitas a se mudarem de cidade, terem depressão, suas vidas despedaçadas, e muitas vezes infelizmente culminam em suicídio. Sonhamos com o dia em que a sociedade brasileira vá parar de culpabilizar as mulheres, que são vítimas do machismo e da cultura do estupro, e comecem a punir os meninos ‘vazadores’ das fotos que são criminosos e mantém girando a roda de violência contra a mulher”, disse ao Brasil Post a mentora do projeto, Juliana Monteiro.

Juliana trabalha em uma plataforma para facilitar a mobilização feminista autônoma, com a diretora nacional do Technovation Challenge Brasil, Camila Achutti, que a convidou para ser mentora voluntária no projeto. “Acredito que as mulheres precisam se apossar da área tecnológica porque eu vejo que este é um espaço que facilita as revoluções culturais atuais, e se a gente não aproveitar essa onda vai acontecer o que vêm acontecendo ao longo dos séculos: seremos colocadas de lado na história. A divisão sexual do trabalho é um problema seríssimo, atual, e precisamos mudar essa situação em vários segmentos, e pessoalmente quero muito influenciar outras meninas a tomarem as rédeas e se empoderarem, já passou da hora disso acontecer, na verdade”, diz Juliana.

Em um vídeo, as meninas explicam que querem distribuir informação sobre abuso online para que as vítimas possam aprender a se proteger legalmente e se empoderar através de informação. Como o isolamento é um dos efeitos do revenge porn, o app prevê também uma sala de bate-papo onde as meninas possam falar sobre o assunto. “As meninas poderão usar o aplicativo para dividir suas histórias, anonimamente ou não, porque ouvir histórias das outras ajuda a saber que você não é a única vítima. As meninas deverão preencher um formulário com nome e idade dos agressores para que isso vire uma denúncia no futuro. Também serve como ferramenta de emergência para meninas que estejam sofrendo bullying e precisam conversar com alguém”, propõem elas no vídeo.

Elas contaram ao Brasil Post que a iniciativa veio da necessidade de solucionar um problema na escola que, de certa forma, atinge a todas elas. “O compartilhamento de fotos íntimas rola muito aqui em Santos, e temos casos de meninas próximas de nós que passaram por isso. Estava na hora de dizer basta. Por que se usam apps para nos expor e humilhar porque não criar um app para nos empoderar?”, disseram. Depois que elas começaram a trabalhar no projeto, receberam críticas negativas e sofreram cyberbullying por tentar combater, justamente, o cyberbullyng. Felizmente, elas conheceram algumas vítimas na escola que as ajudaram a seguir em frente.

“Nas últimas 12 semanas, vi estas meninas se transformarem em mulheres. E vi estas mulheres se transformarem em feministas. E vi estas feministas mudarem o rumo das vidas delas, da escola delas e das vítimas que conhecerem nesse curto período. O empoderamento feminino é algo muito mágico mesmo, agora é só torcer para que a magia se multiplique para que elas consigam financiar o app”, torce Juliana. E nós torcemos por elas! Conheça mais sobre o projeto aqui.

Portal do Litoral PB

Com Brasil Post 




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