Publicado em: 19 jul 2014

JUDICIALIZAÇÃO, ADORAÇÃO E CANONIZAÇÃO

A judicialização da campanha eleitoral, consistente na impugnação de candidaturas, especialmente as candidaturas de maior visibilidade, a rigor não constitui nenhum problema extraordinário, pois os interessados não estão proibidos de recorrer ao poder judiciário quando for para fazer cumprir a lei. É muito natural que partidos e candidatos sejam vigilantes com relação às suas próprias postulações e também, com maior razão, com relação aos concorrentes. Faz parte das disputas e da concorrência por vagas eletivas.

No caso de Cássio, alvo permanente de impugnações, isso decorre ainda dos efeitos de sua cassação, que deixou em aberto, sujeitos a dúvidas de interpretação, alguns aspectos polêmicos do caso, especialmente a respeito de quanto dura a cassação e qual o tempo certo de sua terminação, envolvendo prazo determinado, ano e dia. Outra questão controvérsa é a retroatividade da Lei da Ficha Limpa que, sendo posterior a cassação de Cássio, pode ou não pode retroagir para prejudicá-lo aumentando a sanção dada contra ele. Este elemento da lei xerifária, foi deplorado pelas melhores cabeças do Supremo Tribunal Federal e constitui uma inovação temerária dos mais assentados princípios de direito constitucional do mundo moderno.

Mas, enfim, Cássio terá de passar mais uma vez por esse teste, já que pelos testes das urnas tem vencido com maior facilidade, embora com grande sofrimento. Ou seja: sofrendo e vencendo Cássio percorre a via crucis, mas, pelo menos, não carrega sozinho a sua cruz, vez que tem a companhia de muita gente que está sempre disposta a compartilhar suas dores com o fim de vê-lo triunfar. Esse é seu carma e seu destino – se fosse diferente talvez não se compatibilizasse com a áurea que é mantida em torno dele. Coisa dos tempos, da história dos povos e da biografia dos líderes.

De qualquer forma, é bom que seus adversários não provoquem o sentimento de proteção e amparo que grande parte da população parece destinar a Cássio, para não transformá-lo em fenômeno de adoração coletiva, uma espécie de santificação política, após a beatificação pela qual passou em 2010, que resultou no amaldiçoamento de seus adversários, se razões já não existirem atualmente para alguns serem excomungados.

A política não comporta processo de canonização, a falta de hábitos e práticas virtuosas, mas o povo santifica seus ídolos de acordo com os códigos sociais, e não conforme as leis canônicas. E nem precisa que o ungido tenha obrado milagres, basta apenas que tenha caído nas graças de seus devotos.

Este artigo integrará o futuro livro:
‘PREVISÕES POLÍTICAS DE UM VIDENTE CEGO’
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