Rômulo assume a dianteira…
Gilvan Freire
Nesse carnaval retardatário de máscaras e papangus em que se converteu o período pré-eleitoral, onde raros homens assumem papel de inteireza ética e moral, às vezes ocorrem atos de dignidade surpreendentes. Mesmo assim, ainda que haja surpresa, o fundamento do papel assumido é muito parecido com os outros, todos motivados por interesses pessoais de sobrevivência, sem levar em consideração a opinião do eleitor, e sem a menor preocupação com o que ele pensa. Digamos que os homens públicos, nos últimos tempos, se nivelam por baixo, e hoje ninguém nem faz questão disso, talvez porque todos imaginem que, se são mesmo iguais, por quê os eleitores vão querer fazer a distinção entre uns e outros? Talvez nisso eles tenham razão. Afinal, se os eleitores não controlam os políticos, o único risco que sobra é dos políticos controlarem os eleitores – o que já vem acontecendo faz anos. Tá ficando bacana demais.
DIANTE DESSA CRISE DE IDENTIDADE E MORALIDADE QUE TOMA CONTA DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA, ou falência do sistema representativo no Brasil, em que o eleitor vota mas não se sente representado por ninguém, a não ser raramente, e o mandatário usa o mandato como propriedade exclusivamente sua, sem temor algum de dar errado, as atitudes corajosas do Vice-governador Rômulo Gouveia, ultimamente, são um alento, mesmo que ainda sujeitas a observação durante o processo que está apenas se delineando.
RÔMULO foi o primeiro a identificar o vácuo existente com relação a disputa para o Senado, na Paraíba. De fato, embora haja somente uma vaga para preencher (em 2018 serão duas), os supostos pretendentes não são maiores nem melhores do que Rômulo. Vejamos, sinteticamente:
AGUINALDINHO. Sempre foi muito antenado e perceptivo. É águia na articulação e usa seu partido em defesa concentrada de sua família, mas já consolidou a fama de que suas alianças não são seguras e, por outro lado, são muito custosas aos outros, do ponto de vista financeiro. Fosse um Rômulo Gouveia no Ministério das Cidades, seria um candidato quase imbatível para o Senado e muito forte para governador. Aguinaldinho tentou usar o PT local para manobras de ética discutível, mas o partido percebeu a tempo que ele jogava em causa própria, e recuou, não antes de, por amor a Dilma e ódio ao PMDB, tecer-lhe loas para fazer com ele um palanque comum no Estado. Mas ele só desejava queimar Veneziano, e não ser o candidato a governador do PT. Deu tudo errado e ele, sabendo que o PT não tem votos, procurou Cássio, se oferecendo para o Senado. O PT fez chegar a Dilma a tentativa de traição explicita. Houve barulho e marcha à ré, mas as intenções persistem. PT e Aguinaldinho se desconfiam agora mutuamente. E, neste particular, estão absolutamente certos.
WILSON SANTIAGO. É jeitoso, paciente, manhoso, e transita por todos os territórios a busca de sobrevivência. Tem mais dinheiro que Aguinaldinho. Se vangloria de ter sessenta prefeitos, mas essa conta nunca foi fechada. É propaganda falsa para demonstrar musculatura e angariar a vaga para o Senado de qualquer lado, variando do extremo Sul ao extremo Norte, passando pelo Leste e o Oeste, centro, esquerda e direita. Tudo serve, contanto que seja ele o beneficiado. Quando saiu do PMDB, porque imaginava que Maranhão seria o candidato ao Senado (e porque não queria ficar subordinado aos irmãos de Campina, dos quais tem ciúmes), não conseguiu transferir nem dez prefeitos para seu novo partido. Seu futuro entrou em faixa de risco, mas ele é hábil e o vazio de quadros pode beneficiá-lo. Tem medo de perder muito dinheiro e a campanha e se afundar com Ricardo Coutinho, mas teria primeiro de degolar Rômulo. Edvaldo Rosas e o próprio RC já deram os sinais iniciais da traição em curso, mas Rômulo enxotou a todos com várias pedras de funda, e a questão será resolvida numa “noite das garrafadas”. É rolo.
A QUESTÃO É A SEGUINTE: Rômulo só serve para RC para ser o vice, a fim de vincular a chapa e ter papel conjugado em Campina. Mas Rômulo só quer o Senado, para tentar escapar isoladamente. E RC teme que os outros partidos queiram colocar em sua chapa um vice cacareco, sem expressão eleitoral ou geopolítica. Wilson Santiago olha atento o jogo das facas mortais, já que do lado Cássio sofre muita resistência do cassismo. Pode ser vítima de suas próprias ambições.
Tirante nomes como Maranhão, Cícero e Ricardo Marcelo, as reservas técnicas de seus respectivos partidos, e Ney Suassuna que é o candidato dos sanguessugas e da Cruz Vermelha e outros bichos da fedentina em que virou a saúde pública, o quadro é desolador, mas tem em Rômulo o único candidato ao Senado capaz de tomar decisões firmes, coerentes e decentes. Mesmo assim, não se sabe se ele vai escapar das ventanias. Mas, um só grito pode salvar um náufrago.
Este artigo integrará o futuro livro:
‘PREVISÕES POLÍTICAS DE UM VIDENTE CEGO’
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