Canadá espionou Ministério de Minas e Energia brasileiro, diz documento
A Agência Canadense de Segurança de Comunicação (CSEC, na sigla em inglês) teria espionado telefonemas e emails do Ministério de Minas e Energia (MME) brasileiro, segundo documento revelado pelo programa “Fantástico” neste domingo.
A reportagem cita uma apresentação sobre uma ferramenta da CSEC feita durante um encontro de analistas de espionagem de cinco países (EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia) em junho de 2012. O caso do mapeamento sobre o MME foi usado como exemplo da aplicação da ferramenta.
O documento foi obtido pelo ex-técnico da americana NSA (Agência de Segurança Nacional) Edward Snowden, que revelou um amplo esquema de espionagem dos EUA neste ano. Snowden, que hoje está asilado na Rússia, esteve no encontro de 2012 e entregou os papeis revelados ontem ao jornalista americano Glenn Greenwald em Hong Kong em maio.
Segundo a apresentação, o programa “Olympia” foi usado pela agência canadense para mapear ligações telefônicas e comunicações por computador do ministério, incluindo emails.
Aparentemente, a CSEC só teve acesso aos chamados “metadados”, que são os registros sobre a comunicação (destinatário, remetente, datas e horários das ligações e dos emails), mas não ao conteúdo das mensagens.
De acordo com a reportagem do Fantástico, no entanto, os canadenses conseguiram identificar números de celulares, registros dos chips e, inclusive, marcas e modelos dos aparelhos usados na comunicação.
Foram rastreadas ligações do MME com a Olade (Organização Latino-americana de Energia), com sede em Quito, no Equador, e trocas de emails entre computadores do ministério e de países do Oriente Médio, da África do Sul e do próprio Canadá.
INTERESSES
Como reconheceu o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o Canadá tem “interesse no Brasil, sobretudo nesse setor mineral”. “Há muitas empresas canadenses que manifestam interesse no país. Se daí vai o interesse em espionagem pra servir empresarialmente a determinados grupos, eu não posso dizer”, afirmou ao “Fantástico”.
Uma das preocupações é a comunicação do MME com a Agência Nacional do Petróleo, responsável pelos leilões para exploração de petróleo no país.
“Eu acho que configura um fato grave que merece repúdio. Aliás a presidenta Dilma já o fez amplamente na ONU”, disse Lobão.
Um dos celulares monitorados foi o do subsecretário para África e Oriente Médio do Itamaraty, Paulo Cordeiro, que foi embaixador no Canadá entre 2008 e 2010.
No período em que seu telefone teria sido monitorado, contudo, ele já estava na função de subsecretário para as duas regiões. Nesta função, o embaixador é um dos principais interlocutores entre empresas brasileiras ligadas ao setor de Energia, como Vale e Petrobras, e governos africanos.
“Na nossa atividade, há sempre uma probabilidade de que você esteja sendo escutado por amigos e inimigos. Você procura ter precauções, mas acaba surpreendido quando vê que caiu naquilo”, disse Cordeiro à Folha.
Ele acredita, contudo, que muita coisa não ficou exposta. “Quando são conversas mais sérias, trabalhamos com telegramas cifrados. O mais importante não é falado por telefone.”
Folha
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