Publicado em: 28 fev 2014

‘Novo cangaço’ leva terror a pequenas cidades

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Uma modalidade de assalto chamada de “novo cangaço” levou tensão às ruas de pequenas cidades de ao menos três Estados neste início de ano. As ações envolvem quadrilhas fortemente armadas que costumam fechar acessos à cidade, atacar bases policiais e explodir caixas eletrônicos de agências bancárias. Há registro deste tipo de crime no Ceará em 2007 e em 2013, houve 40 explosões de caixas eletrônicos no interior do Estado, de acordo com levantamento do sindicato dos bancários.

No Mato Grosso, houve operações intensas de combate às quadrilhas nos últimos anos, que incluiu a prisão de um homem apontado pela polícia como Lampião do século 21, por praticamente fechar as cidades atacadas. Parte dos grupos migraram de Estados nordestinos como Maranhão e Ceará e após o cerco da polícia, passaram a agir também no Acre e em Rondônia.

No último ano, Estados do Sudeste se tornaram alvo. Só em São Paulo, 50 casos foram investigados e 48 suspeitos foram presos em 2013, de acordo com a secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-SP). Ao menos 30 casos foram esclarecidos até o início deste ano. A SSP-SP afirma que houve um aumento de casos deste tipo no último ano, mas há uma tendência de estabilidade.

Em Itamonte, no sul de Minas Gerais, a perseguição a uma quadrilha terminou com dez mortos no último sábado (22). Um deles é o professor Silmar Júnior Madeira que, segundo a família, foi sequestrado pelos criminosos e morto por policiais.

De acordo com a Polícia Civil do Estado, ao menos 15 homens, ocupando sete veículos, chegaram por volta das 2h à cidade de cerca de 15 mil habitantes. O grupo explodiu um caixa eletrônico e, em seguida, foi surpreendido por policiais de Minas e de São Paulo. A quadrilha, segundo os investigadores, planejava atacar os cinco caixas da cidade e atacar a base da Polícia Militar. Dois integrantes que conseguiram fugir foram presos depois – um em Arujá, na Grande São Paulo e outro em Guaratinguetá, no Vale do Paraíba. A identificação dos integrantes da quadrilha deve ajudar a esclarecer outros dez casos, em fase final de investigação, segundo a SSP-SP.

Oito suspeitos morreram em ação da polícia na cidade de Campo Novo de Rondônia, de 14 mil habitantes, no mês de janeiro, depois de invadir um quartel da PM, fazer policiais reféns e usar um carro da polícia para realizar assaltos a bancos e estabelecimentos comerciais.

Na cidade de Santa Branca, no Vale do Paraíba, em São Paulo, com cerca de 14 mil habitantes, uma quadrilha bloqueou ruas de acesso a bancos e explodiu dez caixas eletrônicos de três agências. Em Piracaia, de 26 mil habitantes, dois moradores foram baleados durante troca de tiros entre a polícia e um grupo de cerca de 30 homens que atacou 13 caixas eletrônicos de quatro agências bancárias no dia 15 deste mês. Segundo a secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o grupo é responsável ainda pelos ataques às cidades de Salesópolis e Itatiba, invadidas no fim do ano passado.

“Já acompanhei esse tipo de crime no Mato Grosso, Paraíba, Bahia, no Ceará. São quadrilhas que se movimentam pelo País. Agora aconteceu em Minas Gerais. Daqui a pouco um sobrevivente forma outro grupo e se rearticula em outros locais”, diz Ademir Wiederkehr, coordenador do coletivo nacional de segurança bancária da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

Wiederkehr afirma que este tipo de ação preocupa a categoria, que reivindica o reforço das agências de cidades pequenas, por meio da instalação de portas giratórias, detectores de metais e uso de vidro blindado. “Temos cobrado dos bancos mais investimento em segurança, porque as agências são muitos frágeis, geralmente possuem menos equipamentos de prevenção contra assaltos. A bandidagem aproveita a precariedade da segurança pública e a fragilidade da segurança nos estabelecimentos bancários.”

A Federação Brasileira de Bancos afirma que triplicou o investimento em sistemas de segurança nos últimos dez anos e aponta queda de 56% no total de assaltos no País entre 2002 e 2012, passando de 1.009 para 440.

 

 Biblioteca Nacional

Lampião, o mais famosos líder cangaceiro

Terminologia

Estudiosos contestam o uso da expressão “novo cangaço” para classificar este tipo de ação. Trata-se de uma categoria policial e não uma classificação sociológica, diz o sociólogo José Luiz de Amorin Ratton Junior, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Neta de Lampião e Maria Bonita, a jornalista Vera Ferreria, da Sociedade do Cangaço, diz que o uso deste termo revela “ignorância e despreparo” das forças policiais. Para César Barreira, da Universidade Federal do Ceará (UFC) , a classificação “deturpa a real situação do assalto”.

O termo relaciona o crime à precariedade das ações das forças policiais na época do cangaço, mas atualmente a polícia tem condições de adotar estratégias mais sofisticadas contra as novas quadrilhas, que são especializadas e promovem ações estrategicamente planejadas.

Portal do Litoral PB com IG 




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