Morre Paco de Lucia: o mundo perde o maior nome da guitarra flamenca
O guitarrista espanhol Paco de Lucía morreu aos 66 anos no México, anunciaram nesta quarta-feira (26) as autoridades de Algeciras, sua cidade natal no sul da Espanha. Paco de Lucía, um dos mestres do violão flamenco, sofreu um infarto, segundo a assessoria de imprensa.
O local exato da morte não foi informado. Segundo a agência EFE, ele morreu na praia de Cancún.
A morte constitui “uma perda irreparável para o mundo da cultura, para a Andaluzia”, disse o prefeito da cidade de Algeciras, José Ignario Landaluce. A cidade de Algeciras decretou luto oficial pela morte.
Renovação do flamenco
Paco de Lucía, cujo nome de batismo era Francisco Sánchez Gómez, nasceu em 21 de dezembro de 1947 na cidade andaluza, na província de Cádiz.
Tornou-se um músico mundialmente conhecido, que teve o mérito de, ao lado de Camarón de la Isla, modernizar e popularizar mundialmente a música flamenca tradicional, combinando-a com o jazz e outros gêneros, como a bossa-nova brasileira e a música erudita.
Ele começou a tocar aos 7 anos, com o instrumento do pai. Ganhou seu apelido por conta de sua mãe portuguesa, sendo chamado, na infância, de “Paco, el de Lucía” (Paco, o filho de Lucía), como se costumava fazer na Andaluzia.
Com 12 anos, formou o dueto “Los Chiquitos”, com seu irmão Pepe como cantor. Em 1961, eles foram premiados em um concurso em Jerez, o que o permitiu gravar seu primeiro disco.
Contratado pelo bailarino José Greco em 1960 como terceiro guitarrista da Companhia de Balé Clássico Espanhol, fez sua primeira turnê pelos EUA, ao lado de Camarón, El Lebrijano, El Farruco e Juan Moya.
Foi promovido a segundo guitarrista e correu o mundo. Nesta época, conheceu os guitarristas Sabicas e Mario Escudero, que o estimularam a compor.
Aos 17 anos, participou de um grupo do “Festival Flamenco Gitano”, com o qual viajou a Europa. Acompanhado por seus irmãos Ramón de Algeciras e Pepe de Lucía, gravou seus primeiros discos solo em meados dos anos 1960: “La Fabulosa Guitarra de Paco de Lucía” (1967) e “Fantasía Flamenca” (1969).
Mas a consagração veio nos anos 1970, com memoráveis atuações no Palau de Barcelona (1970), no Tearo Real e no Teatro Monumental de Madri (1975), além de seu primeiro registro ao vivo (“Paco en vivo desde el Teatro Real”), que lhe rendeu um disco de ouro.
Foi em Madri que surgiu a mítica dupla El Camarón-De Lucía, que renovou o flamenco com purismo e virtuosismo e que se traduziu em mais de dez discos de estúdio, como “El Duende Flamenco” (1972) e “Fuente y Caudal” (1973).
Ganhou o Prêmio Castillete de Oro del Festival de Las Minas em 1975; o single de ouro em 1976 por “Entre dos Águas”; e o disco de ouro em 1976 por “Fuente y Caudal”.
No final dos anos 1970, ganhou muita popularidade fora da Espanha por seus trabalhos com os guitarristas John McLaughlin, Al Di Meola e Larry Coryell.
Fundou em 1981 seu “Sexteto”, com Ramón de Algeciras (segundo violão), Pepe de Lucía (vocais e palmas), Jorge Pardo (saxofone e flauta), Rubén Dantas (percussão) e Carles Benavent (baixo).
Colaborou no disco “Potro de Rabia y Miel” de Camarón, e a morte deste, em 1992, o fez cancelar suas apresentações por todo o mundo durante quase um ano. Inclusive pensou em se aposentar, retornando um ano depois aos palcos com uma nova turnê.
Entre seus discos, estão “Fantasía Flamenca”, “Recital de Guitarra”, “El Duende Flamenco de Paco de Lucía”, “Almoraima”, “Solo Quiero Caminar”, “Paco de Lucía en Moscú”, “Zyryab”, “Siroco’ e ‘Lucía” (1998)
Após um hiato de cinco anos, em 2004 gravou “Cositas Buenas”, considerado pela crítica uma “obra prima”, com oito temas inéditos, acompanhado pelo violão de Tomatito e pela voz recuperada de Camarón, e que lhe rendeu o Grammy Latino de melhor álbum de flamenco.
Um ano antes, lançou sua primeira coletânea, “Paco de Lucía Por Descubrir”, com seus trabalhos de 1964 a 1998. Em 29 de junho de 2010, ofereceu um concerto para 2,5 mil espectadores na Puerta del Ángel de Madri.
Em 2011, participou em um disco de flamenco tradicional do músico Miguel Poveda. Tornou-se Doutor Honoris Causa pela Universidade de Cádiz e pelo Berklee College of Music de Boston (EUA, 2010).
Discípulo de Niño Ricardo e de Sabicas, e respeitado por músicos de jazz, rock e blues por seu estilo próprio, alcançou, entre muitos outros reconhecimentos, um Grammy para o melhor álbum de flamenco em 2004; o Prêmio Nacional de Guitarra de Arte Flamenco; a Medalha de Ouro ao Mérito das Belas Artes em 1992; o Prêmio Pastora Pavón La Niña de los Peines de 2002; e o Prêmio Honorário da Música de 2002.
O músico estava morando na cidade espanhola de Toledo e passava temporadas em Cancún, no México, onde praticava pesca submarina. De seu primeiro casamento, em 1977, com Casilda Varela, teve três filhos: Casilda, Lucía e Francisco.
Portal do Litoral PB
Com ClickPB
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