Ex-Balão Mágico rompe com a igreja e faz sucesso como cantora e drag queen
Antes de dar vazão a seu alter ego e assumir a figura da drag queen Gloria Groove, atual fenômeno da música pop, Daniel Garcia precisou romper com seu passado. Ele integrou a última formação do grupo infantil Turma do Balão Mágico, atuou em uma novela da Record e frequentou a igreja Renascer em Cristo. Lançou músicas religiosas e seria preparado para virar pastor. Mas as dúvidas sobre a sexualidade e a vontade de se tornar um artista conhecido o fizeram abandonar a vida gospel.
“Ninguém chama a Anitta de Larissa quando ela está sem cílios, então quero que me chame de Gloria”, avisa, aos risos, logo no início da entrevista ao Notícias da TV. “Daniel é o meu nome, mas muita gente me conhece como Gloria. Eu sou o Daniel, e a minha relação com a Gloria não tem a ver com a minha identidade de gênero. Gloria é a minha persona artística”, explica.
“Perguntei pra minha mãe como as crianças faziam para entrar na TV, porque eu queria aparecer na TV. Aí ela começou a me levar para fazer testes. Foi quando surgiu a oportunidade do Balão Mágico e quando iniciei minha carreira”, lembra.
Após o fim do grupo, o pequeno Daniel integrou um coral infantil gospel e foi se apresentar em um especial de Natal do Programa Raul Gil, que na época era exibido pela Band. No mesmo dia, uma produtora perguntou se alguma das crianças gostaria de participar de um novo show de calouros.
REPRODUÇÃO
Daniel Garcia, de boné azul, ao lado dos integrantes do grupo infantil Galera do Balão
“Não pensei duas vezes e me prontifiquei na hora (risos). Acabei ficando lá durante seis semanas e tive que abandonar a competição na metade, porque havia sido aprovada num teste da Record para a novela Bicho do Mato”, diz.
Na trama de Cristianne Fridman e Bosco Brasil, exibida entre 2006 e 2007 e atualmente em reprise, Gloria interpretou Ruyzinho e integrou o núcleo central, composto por Renata Dominguez e pelas veteranas Beatriz Segall e Marilu Bueno.
Essa foi sua única experiência em novelas. Mas desde criança ela empresta a voz para personagens de séries e animações famosas, como Hannah Montana, Digimon e Power Rangers.
“Aceitaria voltar a atuar como Daniel. A verdade é que eu acredito que a Gloria seja a estampa e a marca do meu alter ego musical. Mas o Daniel Garcia como ator, dublador e intérprete sempre vai existir paralelamente. Não nego que tenho vontade de voltar a atuar. E atuaria tanto como menino quanto como menina, pois quero explorar todas as minhas vertentes artísticas”, explica.
DIVULGAÇÃO/RODOLFO MAGALHÃES
Gloria Groove no clipe de Bumbum de Ouro, funk presente nas playlists das rádios pop do país
Da glória à Gloria
Romper com a Renascer em Cristo não foi um processo traumático para Gloria Groove. Com o incentivo de sua mãe, a cantora Gina Garcia, ela começou a estudar teatro e passou a descobrir um pouco mais de si mesma. Foi quando deixou a igreja.
“Eu tinha uns 14 anos quando me envolvi com o teatro. Estava na fase de descoberta, de entender o que estava sentindo, se era gay ou não e me afastei naturalmente da igreja. Minha mãe sempre me entendeu. Por ela trabalhar no ‘mundo’ como backing vocal do Raça Negra, ela não era vista como a melhor das crentes. E isso despertava o recalque das irmãs, porque a bispa a amava. Ela entendia a minha posição, e esperava a hora que ia me jogar para fora da igreja”, diz.
Daniel deu início à personificação de Gloria Groove aos 17 anos, inspirada pelo reality show RuPaul’s Drag Race, e passou a entender e a se identificar com o universo drag queen.
“Comecei a entender as drag queens não mais como algo marginalizado. Vi que ser drag é ser uma estrela, uma artista completa. Vi que eu poderia colocar as minhas referências femininas, que sempre me acompanharam, dentro do meu próprio trabalho. Antes eu só me via como um menino que cantava bem, mas não sabia quem de fato eu era. Hoje, enquanto Gloria, sei exatamente quem eu sou”, reflete.
Assumir o alter ego a permitiu, inclusive, ganhar respeito e notoriedade dentro da igreja evangélica que frequentava. “Agora todos de lá [da igreja] me amam. A repressão era forte enquanto eu era um gayzinho. Mas agora sou uma gayzona e a coisa mudou de figura. Passei a ser admirada por isso”, avalia.
DIVULGAÇÃO/SBT
Gloria Groove ao lado de Raul Gil durante o programa exibido em 10 de março, no SBT
Reencontro
Com o sucesso de Bumbum de Ouro, a cantora voltou ao palco de Raul Gil no início de março, 12 anos depois de tentar a sorte no concurso de jovens calouros do programa, e performou seu hit pela primeira vez na TV. Só que, dessa vez, Gloria Groove surgiu numa figura feminina e foi recebida com carinho pelo apresentador.
“O Raul pontuou uma coisa muito legal, dizendo que se tratava de um menino gay vestido de mulher. As pessoas normalmente têm uma visão de que se montar [vestir-se de mulher] é algo degradante. Raul é um homem de outro tempo e eu sabia que ele pisaria em ovos para falar sobre mim. Ele sempre foi um anjo comigo e dessa vez não foi diferente”, lembra.
Gloria atualmente se prepara para lançar seu segundo CD. Nesta quinta-feira (29), ela se apresenta na festa Gambiarra, na casa noturna The Week, situada na zona oeste de São Paulo.
Notícias da TV
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