Corpo de Dona Marisa Letícia é velado no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC; Dilma participa
Começou por volta das 9h30 deste sábado (4) o velório do corpo da ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.
O auditório do sindicato do ABC, palco de assembleias e discursos emblemáticos, foi aberto ao público às 10h30 depois de uma hora fechado só para a família de Dona Marisa. O velório foi encerrado às 15h30. Às 15h56, Lula e a família deixaram a sede do sindicato acompanhando o carro funerário.
A foto de Lula e Marisa estampada na parede principal foi tirada em Istambul, em 2009, e é a mesma usada pelo Instituto Lula nas redes sociais. Foi no Sindicato dos Metalúrgicos que o casal se conheceu, em 1973. Na época, os dois eram viúvos. Sete meses depois, Lula e Marisa se casaram.
O caixão com o corpo de Dona Marisa Leticia foi coberto com as bandeiras do Brasil e do PT. O ex-presidente Lula e os filhos do casal recebem os cumprimentos de amigos e políticos, entre eles, a ex-presidente Dilma Rousseff, o presidente do PT, Rui Falcão, o vereador Eduardo Suplicy, o deputado Waldir Maranhão, Jair Meneguelli, ex-presidente da CUT, Vicentinho, deputado federal Gilberto Carvalho, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Luiz Fernando Pezão, governador do Rio de Janeiro, Renato Janine Ribeiro, o ex-ministro da Educação, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, Eleonora Menicucci, ex-ministra da Secretaria de Política para Mulheres, Ciro Gomes, ex-ministro da Integração, entre outros. Dilma e Eleonora Menicucci chegaram juntas ao velório por volta das 11h30.
Pouco antes do horário previsto para o fim do velório, o público fez homenagens ao ex-presidente Lula e Dona Marisa. Os participantes cantaram gritos de guerra e desejaram força ao ex-presidente. “Marisa guerreira da pátria brasileira” e “o povo unido jamais será vencido”, diziam os gritos.
Na sequência, um vídeo foi exibido com entrevista de Marisa Leticia, Lula, depoimentos de sindicalistas que a conheciam, fotos e imagens da família. A despedida no velório terminou com um ato ecumênico.
Lula falou antes do encerramento da cerimônia, agradeceu a presença das pessoas e contou um pouco sobre a história da mulher. “Agradeço a todos que vieram prestar solidariedade […] Já chorei a quantidade que daria pra recuperar a represa Cantareira. Palavra de agradecimento a cada mulher, homem, parentes, minha vida não seria um décimo do que é se não fosse esse sindicato, se não fosse esse salão. Vocês não têm ideia da representatividade desse espaço. Aprendi a falar, perdi medo do microfone, aprendemos a lutar contra a ditadura, pensamos em criar PT, fazer greve da categoria. E a partir daqui saiu muita inspiração para outros sindicatos. Aqui eu conheci a Marisa, casei com Marisa. Aqui tivemos nossos filhos e aqui ela sustentou a barra. Sou resultado das greves, mas também sou resultado de uma menina que parecia que era frágil, mas que me ajudou a fazer tudo”, disse.
Choroso, Lula disse que “ela praticamente criou os filhos sozinha. Na verdade, acho que ela foi mãe, pai, tia, avó, foi tudo. Cuidou de tudo e nunca reclamou. [Foi] uma vida de muita compreensão. Casamento é maior exercício de democracia que existe. Aprende a ceder, aprende a conquistar alguma coisa. Se não tiver paciência essa lógica o casamento não dura muito tempo”, completou.
A deputada federal pelo PSOL Luiza Erundina afirmou que Marisa era uma mulher do povo e que esteve junto com todos no final da década de 70, lutando contra a Ditadura e construindo o PT.
“Registrou-se na história como a primeira-dama do primeiro operário brasileiro […] Ela tinha uma relacao igualitária com ele […] Nós mulheres avançaamos muito no seu governo. Sem dúvida Marisa era um estímulo, uma força e participava certamente nas decisões do Lula no interesse das mulheres, trabalhadores e pobres desse país”, disse Erundina.
O ex-ministro Alexandre Padilha afirmou “Lula não seria o que é o Lula sem a convivência com Marisa Leticia”. “Ela tinha uma forma diferente de exercer a militância. Ela era conselheira política do Lula”, disse.
“Lula é um animal politico. Certeza de que em função do momento do país, Lula vai se dedicar mais ainda a ajudar o país a encontrar soluções. Veremos um Lula mais dedicado ainda”, completou.
Para o ex-ministro José Eduardo Cardozo, Marisa Letícia era “uma mulher forte, um exemplo”. “Soube se impor com suas características. […] Acho que presidente Lula tinha muita energia dessa mulher”, disse.
O público que veio prestar homenagem à ex-primeira dama passa em fila por um corredor. Por volta das 11h30, a fila para entrar no sindicaro dobrava o quarteirão.
“Acho importante estar aqui para marcar espaço. Não só pra prestar solidariedade, porque a gente sabe o quanto ela foi importante para o Lula, mas pra mostrar que ainda estamos aqui vivos”, disse a aposentada Célia Regina Mendes da Silva.
A também aposentada Maira Olivia de Castro Matiero, de 75 anos, mora em São Bernardo do Campo e veio se despedir da vizinha Marisa. ” Eu sempre fui vizinha deles, quatro quarteirões da minha casa. A gente via a Dona Marisa, mas nunca conversava. Ela foi uma batalhadora e uma dona de casa excelente.”
Dona Zelinha Feitosa trabalha no sindicato dos metalúrgicos do ABC há 42 anos. Começou como funcionária da limpeza e hoje trabalha na lanchonete que funciona dentro do sindicato. Ela lembra que, embora muito reservada, Marisa Leticia ” tinha o dom de reunir as mulheres do sindicato, no começo do partido. ” Na prateleira da lanchonete expõe a foto com Marisa Leticia. A lembrança já estava ali e vai continuar. ” Da primeira-dama todo mundo queria ser amiga, eu era amiga da Marisa”, diz Zelinha Feitosa.
O velório deve ocorrer até as 15h. Depois, haverá uma cerimônia de cremação reservada à família no cemitério. O Instituto Lula informou que não será divulgado dados sobre a doação de órgãos de dona Marisa.
O corpo deixou o hospital Sírio-Libanês, onde ela estava internada desde o dia 24 de janeiro, por volta das 7h30 e chegou ao sindicato às 9h. O ex-presidente Lula chegou ao local 20 minutos antes do corpo.
Segundo Suplicy, Marisa estava sempre junto de Lula. “Algumas vezes que jantei no Alvorada ela estava sempre amável nos recebendo. Então, eu venho aqui mais uma vez dar meu abraço a Lula e a todos os companheiros recordando os momentos significativos na vida do Brasil”, disse.
“Fiquei bastante impactado com a visita do Temer, FHC, José Sarney, José Serra e Henrique Meirelles e que o Lula teve a oportunidade de dizer a eles que, por mais que tenhamos opiniões diferentes sobre o que está se passando no Brasil, quero agradecer a todos e me coloco à disposição para dialogar com vocês”, afirmou Suplicy. Ele afirmou que Lula disse da disposição dele para conversar com Temer, mesmo que “todos soubessem que ele queria que quem tivesse ali era outra pessoa”.
Algumas homenagens vem de longe. José Leôncio Sobrinho Veio de Garanhuns, cidade natal do ex- presidente, só para prestar homenagem à família de Lula: ” dona Marisa veio lá de trás, jovenzinha, com o Lula. Fez essa trajetória todinha com esse companheiro guerreiro e forte. Então, a gente não pode esquecer um momento como esse. Garanhuns não é tão distante que a gente não possa estar aqui”, disse ele, que é diretor do Sindicato de Alimentos e Bebidas de Garanhuns e região.
Ele aproveitou para registrar a solidariedade em um painel de tecido montado para mensagens.
Dona Marisa foi internada no dia 24 de janeiro no Hospital Sírio-Libanês, no Centro de São Paulo, depois de ter sofrido um acidente vascular cerebral hemorrágico provocado pelo rompimento de um aneurisma. O óbito foi constatado às 18h57 de sexta-feira (3), segundo boletim médico. Lula e sua família autorizaram a doação dos órgãos.
O protocolo oficial para constatar a morte cerebral, os médicos submeteram dona Marisa a dois testes: o primeiro ocorreu às 12h05 e o segundo, às 18h05 de sexta. O protocolo determina que o último exame seja conduzido por outro médico para comprovar a perda definitiva e irreversível das funções cerebrais. De seus 66 anos de vida, Maria Letícia passou 42 ao lado de Lula
Nas redes sociais, Lula lembrou com carinho da esposa. “A ex-primeira-dama costurou a primeira bandeira do PT, começou a trabalhar aos 9 anos e organizou resistência das mulheres durante as grandes greves do ABC.”
Ao saber da morte de dona Marisa, o presidente Michel Temer decretou luto de três dias no país.
Na quinta, um boletim médico divulgado pelo hospital informou que um doppler transcraniano identificou a ausência de fluxo cerebral. Em seguida, Lula publicou em seu pefil no Facebook uma mensagem agradecendo o carinho e informando que a família autorizava a doação de órgãos.
“A família Lula da Silva agradece todas as manifestações de carinho e solidariedade recebidas nesses últimos 10 dias pela recuperação da ex-primeira-dama Dona Marisa Letícia Lula da Silva. A família autorizou os procedimentos preparativos para a doação dos órgãos”, diz o post. Depois, a página do Facebook do ex-presidente atualizou a foto de perfil e colocou uma imagem do casal sorrindo.
Quando foi internada, dona Marisa passou por um procedimento de emergência, que durou cerca de duas horas, para conter a hemorragia no cérebro. Os médicos fizeram uma arteriografia cerebral para localizar a lesão e depois introduziram um cateter até a região afetada para estancar o sangramento.
Visitas
Depois da divulgação do boletim médico de quinta-feira, amigos e políticos foram ao Sírio-Libanês prestar solidariedade à família de Lula.
O presidente Michel Temer visitou Lula com uma comitiva de ministros e senadores. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi um dos que se encontraram com o petista. Na sexta, a ex-presidente Dilma Rousseff visitou Lula no hospital.
G1
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