Publicado em: 21 set 2016

Da confiança às finanças, título sub-20 leva base do Botafogo a novo patamar

Se o trabalho de reestruturação de um clube passa pelas categorias de base, o Botafogo está no caminho certo. Dono da maior dívida entre os 20 clubes de maior arrecadação do Brasil – avaliada em R$ 731,1 milhões no balanço de 2015 –, o Alvinegro vem se virando nos 30 com um orçamento limitado; formando nos últimos anos jogadores para o mercado e para si próprio – atualmente são 12 no elenco principal –, e agora o trabalho também começa a dar resultados esportivos. O título do Campeonato Brasileiro Sub-20 na noite da última terça-feira, após a vitória por 2 a 0 sobre o favorito Corinthians dentro de sua Arena, foi o primeiro em âmbito nacional na categoria e coroou o trabalho realizado em General Severiano, Caio Martins, Cefat…

A base alvinegra alcança neste século um patamar jamais atingido. Antes, o clube só havia chegado a uma final nacional de juniores em 1971, quando perdeu para o Fluminense na decisão da Taça Cidade de São Paulo – na época a competição ainda não era oficializada pela antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), atual CBF. Em comparação dos rivais do Rio de Janeiro, o Botafogo ultrapassa o Vasco na categoria com os dois títulos em 2016 – além do Brasileiro, o time de Eduardo Barroca faturou o Carioca no mês passado – e se aproxima do Fluminense (veja na tabela abaixo).

tabela títulos sub-20 (Foto: Arte Esporte)

Cenário bem diferente de um passado nem tão distante, quando o clube chegava a ter lacunas de 10, 11… 19 anos sem títulos na principal categoria da base. O descaso chegou ao ponto de antigas gestões cogitarem terceirizar os serviços com os garotos que são patrimônios da instituição. O resultado disso é que, além de poucas conquistas, o número de revelações era baixo em General Severiano: teve Almir em 2005, Léo Moura em 2001… Pouco para as tradições de quem lançou Garrincha, Nilton Santos…

E quem começou a mudar esse cenário foi justamente o único ex-presidente até hoje expulso do quadro social do Botafogo, após denúncias de improbidade administrativa, prejuízo ao patrimônio do clube, favorecimento a amigos e empréstimo sem destino especificado. Maurício Assumpção, desde que assumiu o Alvinegro em 2009 passou a privilegiar a base. E a fabricar jovens com potencial de mercado: Gabriel, Dória, Vitinho, Jadson, Gilberto… A atual gestão, de Carlos Eduardo Pereira, deu continuidade ao trabalho, priorizando a formação de novos talentos.

Ganhar título todos gostam, para mim esse é o titulo mais competitivo da categoria. Sem desmerecer a Copa São Paulo, esse é diferente, tem os 20 maiores clubes do Brasil”
Manoel Renha, coordenador da base do Bota

– Ganhar título todos gostam, para mim esse é o titulo mais competitivo da categoria. Sem desmerecer a Copa São Paulo, esse é diferente, tem os 20 maiores clubes do Brasil. Acho que é um trabalho muito sério e dedicado que vem sendo feito a longo prazo. No inicio cortamos a comissão técnica (demissão do Mauricinho), fomos criticados, mas o objetivo principal era formar. Claro que é bom ganhar. A ideia é continuar fazendo esse trabalho e dando resultados. Vou ficar muito feliz se daqui a cinco ou 10 anos eu estiver sentando no sofá vendo alguns desses atletas, de preferência no Botafogo, ou quem sabe em um grande clube do exterior, e saber que dei minha pequena contribuição para a formação desses meninos – enalteceu o coordenador das categorias de base do Botafogo, Manoel Renha.

REVELAÇÕES AUMENTAM, FATURAMENTO TAMBÉM

Do atacante Caio em 2010, comprado por um grupo de empresários que o repassou para o Figueirense, a Ribamar em 2016, negociado com o TSV Munique 1860, da Alemanha, o Botafogo revelou e vendeu oito pratas da casa em destaque – exceto Gabriel e Daniel, que rescindiram seus contratos na Justiça devido a salários atrasados. Os valores, e consequentemente o faturamento do clube, também aumentam proporcionalmente. Entre todos, Ribamar foi o único que a diretoria detinha 100% de seus direitos econômicos no ato da venda.

Caio, Botafogo (Foto: Arte Esporte)
Gabriel, Botafogo (Foto: Arte Esporte)

Dória, Botafogo (Foto: Arte Esporte)

Jadson, Botafogo (Foto: Arte Esporte)

Vitinho, Botafogo (Foto: Arte Esporte)

Gilberto, Botafogo (Foto: Arte Esporte)

Daniel, Botafogo (Foto: Arte Esporte)

Ribamar, Botafogo (Foto: Arte Esporte)

– Estamos nos adequando à lei. Não tem essa de fatiar jogador desde 1º de maio de 2015. Nossos contratos não têm isso. É claro que isso gera muito estresse com grupo de investidores e empresários, mas não tem jeito. Se tudo for combinado antes, não tem problema – disse Renha.

Porém, ainda há muitos jogadores “fatiados” na base, com contratos anteriores à norma da Fifa que proíbe a participação de terceiros em direitos econômicos. Do time titular que foi campeão brasileiro sub-20, por exemplo, apenas quatro pertencem integralmente ao Botafogo. São eles: o goleiro Diego, o lateral-direito Marcinho, o lateral-esquerdo Victor Lindenberg e o volante Matheus Fernandes. Outros destaques como os zagueiros Marcelo (60%) e Kanu (70%), o volante Bochecha (80%), os meias Yuri (80%) e Alison (70%), e os atacantes Pachu (75%) e Gorne (68%) constam no portal de transparência do clube com direitos divididos.

MENOR DO RIO, INVESTIMENTO PODE AUMENTAR

Renha, Botafogo (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)Emocionado, Renha abraça o técnico Barroca após o título do Botafogo (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)

O investimento do Botafogo em categorias de base em 2016 foi de R$ 6 milhões, o menor entre os rivais cariocas: o Flamengo trabalhou com R$ 9,5 milhões, o Fluminense tem orçamento de R$ 15 milhões, e o Vasco investiu R$ 12,5 milhões no ano passado de acordo com a análise do banco Itaú BBA. Se comparado a outros clubes tradicionais do Brasil, a diferença financeira é ainda maior: o Corinthians, adversário alvinegro na final do Brasileiro Sub-20, por exemplo, coloca R$ 27 milhões para formação de atletas. O São Paulo não fica muito atrás, com R$ 26 milhões anuais. Cruzeiro, Grêmio e Internacional têm caixas na ordem de R$ 18 milhões.

Apesar do orçamento limitado, o Botafogo surpreendeu, atingiu metas, deu maior visibilidade ao trabalho da base e pode estudar um aumento no investimento para 2017. Principalmente com a entrada de dinheiro novo no clube, como por exemplo os cerca de R$ 12 milhões de patrocínio master que a diretoria negocia com a “Caixa Econômica Federal”. Com “pés no chão”, Renha sonha com um montante maior destinado à formação de atletas.

– Olha, eu sou suspeito para falar. Quanto mais recurso tiver, mais coisa poderemos fazer. Mas sabemos das limitações do clube. Nesse ano nosso investimento já aumentou um pouco, tem sido uma politica da gestão do CEP, sempre dentro do possível aumentando o orçamento.

“A safra é boa”, como diz o clube nas redes sociais. Para comemorar o momento e alavancar ainda mais a base, o Botafogo prepara uma festa para receber seus jovens campeões na tarde desta quarta-feira, às 17h (de Brasília), em General Severiano. O evento será aberto ao público.

Globo Esporte



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