Com citações de Temer e Serra na Lava-Jato, semana deve ser de muita tensão
A previsão é que, mesmo com a Olimpíada em andamento tranquilo, com a satisfação pelo sucesso da festa de abertura na sexta-feira, a semana política fique bastante tensa em Brasília a partir de hoje. Nem o recesso branco eleitoral da Câmara, com a semana útil resumida a segunda-feira e terça-feira, deverá aliviar o ambiente político.
Por duas razões:
(1) as denúncias, no fim de semana, no }âmbito da operação Lava-Jato, envolvendo o presidente-interino Michel Temer e o ministro das Relações Exteriores, José Serra. As duas já seriam fruto da pré-delação premiada dos executivos da Odebrecht.
(2) a votação, prevista pela manhã, da tecnicamente chamada “pronúncia” da presidente licenciada Dilma Rousseff pelo plenário do Senado – ela passará a ser considerada ré se perder, que é mais que provável. Embora precisem do voto apenas da maioria simples para isso, os governistas querem ter mais que os 54 votos necessários para a cassação definitiva de Dilma, de forma a demonstrar que votação lá pelo dia 25, será apenas para cumprir tabela.
Não se acredita que as histórias reveladas pela imprensa no sábado e no domingo, a respeito das negociações de Temer para pegar recursos para a campanha do PMDB e o financiamento da campanha presidencial de Serra em 2010, sejam suficientes para mudar votos no Senado em número suficiente para alterar a tendência favorável ao impeachment.
Porém, a oposição vai fazer barulho e tentará utilizar-se disso para tentar postergar ainda mais a decisão sobre o afastamento de Dilma. Senadores petistas já anunciam que pedirão o afastamento imediato de Serra e de Eliseu Padilha, da Casa Civil, citado como sendo um dos destinatários do dinheiro da Odebrecht para o PMDB.
A estratégia da tropa de choque da presidente licenciada (e de parte do PT) é criar constrangimentos para Temer em todos os níveis. A intenção, inclusive, é atrasar ao máximo (ou até impedir) a votação das medidas de ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Nas suas contas, Lula e o PT avaliam que somente terão alguma chance de um desempenho eleitoral menos medíocre em outubro – e por consequência em 2018 – se o governo Temer fracassar na correção dos rumos da economia brasileira. Já há sinais, registrados em reportagens dos jornais de fim de semana, de inquietação no seio dos agentes econômicos com a demora das soluções mais emergenciais para a economia.
O temor é que o presidente-interino não tenha força política para vencer essas batalhas – como algumas das concessões que ele tem feito, ora por pressões dos políticos, ora para não desagradar o universo do funcionalismo público, deixaram a entrever.
Nesta segunda-feira o governo vai passar por um desses testes sobre sua força política. Está marcada a votação do projeto de renegociação da dívida do estados, adiada já da semana passada apesar de o Palácio do Planalto, a contragosto do ministro Meirelles, ter cedido a várias ponderações dos governadores e deputados. Ela é essencial no pacote fiscal, mas, mesmo com as mudanças iniciais há governadores insatisfeitos – e eles arrastam partidos e deputados.
É o grupo do Norte e do Nordeste que, por ter dívidas menores que os estados das outras regiões, querem alguma compensação financeira adicional. A proposta que estão levando a Brasília é o aumento do Fundo de Participação dos Estados (na arrecadação do IR e do IPI) de 22% para 24% – o que daria cerca de R$ 7 bilhões a mais por ano. Eles ganhariam porque a maior parcela do FPE vai para os estados menores e menos desenvolvidos.
Para complicar o dia, está marcada também a leitura no plenário da Câmara da decisão do Conselho de Ética que recomenda a cassação do mandato do deputado Eduardo Cunha. É uma novela que ainda demorará a ter um fim. Lá no fundo, o próprio Palácio do Planalto não quer uma decisão agora, para não tumultuar a votação do impeachment no Senado.
Outros destaques dos
jornais do dia
– “Setores beneficiados pelo câmbio temem perder mercado este ano” (Folha)
– “Leilões de aeroportos já atraem grupos estrangeiros” (Valor)
– “União paga R$ 535 milhões de dívidas atrasadas do Estado do Rio” (Valor)
– “Despesa do seguro desemprego caiu no 1º semestre” (Valor)
– “Crise dos bancos europeus ainda não atingiu o fundo do poço” (Valor)
– “Isenção fiscal para templos de São Paulo atinge R$ 110 milhões” (Folha)
– “PT disputará menor número de prefeituras em 20 anos” (Estado)
– “Odebrecht deve delatar caixa dois do PSDB” (Globo)
LEITURAS SUGERIDAS
1. Valdo Cruz – “Brasil, medalha de lata e de ouro” (diz que, das despesas com seguridade social no ano passado, 75% bancaram benefícios públicos ou privados e a saúde do brasileiro ficou com apenas 14% – como os benefícios não param de subir, a conta não vai fechar) – Folha
2. Ricardo Noblat – “Odebrecht mira em Temer” (diz que ao apontar para o presidente-interino delação de Odebrecht mostra que crise política está longe do fim) – Globo
3. Paulo Guedes – “Esqueça a reeleição” (diz que a corrupção sistêmica torna insaciável a opinião pública e intermináveis as investigações – é preciso renovar a política e reformar a economia) – Globo
4. Marcos Nobre – “O fim das narrativas” (diz que o divórcio entre o sistema político e a sociedade vai continuar) – Valor
5. Editorial – “Bons sinais, por enquanto” (diz que país precisa de investimentos muito maiores e o primeiro passo será vencer a crise política) – Estado
6. Bernard Appy – ” Qual é o limite de despesa para 2016?” (diz que ainda que a PEC do Teto seja um grande avanço, ela não garante por si só um ajuste fiscal estrutural) – Estado
Destaques dos jornais
do fim de semana
SÁBADO
– “Investimento previsto para novas concessões pode alcançar R$ 31 bilhões” (Folha)
– “Norte e Nordeste ameaçam tirar apoio a projeto de socorro aos estados” (Estado)
– “MP vê Lula em esquema criminoso” (Estado/Globo)
DOMINGO
– “Odebrecht diz que repassou R$ 10 milhões a pedido de Temer” (Estado)
– “Serra recebeu R$ 23 milhões via caixa dois, diz Odebrecht” (Folha)
– “Governo planeja poupar militares em mudança na Previdência” (Folha)
Com Info Money
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