Publicado em: 15 mar 2016

Faltaram pobres e negros nas manifestações

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As manifestações realizadas no último domingo (13/03) levaram muita gente às ruas, especialmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, superando os atos de um ano atrás. Um grande feito político, sem dúvida.
As grandes empresas de comunicação comemoram os “milhões” nas ruas do país como se, por si só, esse fato representasse um fato consumado para determinar o fim do mandato de Dilma Rousseff.
Não é bem assim. Um primeiro aspecto a ser levado em conta é que, por mais massivas que sejam manifestações contra governos, elas por si só não os derrubam – fosse assim, restariam poucos governos de pé na Europa depois de 2008.
Especialmente, em regimes presidencialistas como o nosso, onde a única maneira de derrubá-los é por impedimento do presidente/a, identificado, sem que reste margem para dúvida, um crime de responsabilidade. Ou por golpes militares. Ou parlamentares.
Como a primeira opção parece por enquanto descartada, restaria a alternativa do golpe parlamentar.
Hoje, tramitam no Congresso iniciativas que vão desde a proposta de impeachment de Dilma − cada dia mais difícil em razão da inexistência de crime de responsabilidade − à adoção de um regime parlamentarista – sem novas eleições parlamentares, é bom que se diga, para formar nova maioria.
Um clássico golpe parlamentar, nos moldes do que fora tentado aqui mesmo no Brasil, em 1961, para impedir que João Goulart, uma liderança de esquerda, assumisse a Presidência com plenos poderes depois da renúncia de Jânio Quadros. Como teimam em repetir a história…
Um segundo aspecto a ser considerado é que as manifestações de ontem apenas revelaram um maior engajamento dos mais ricos em sua obsessão de derrubar um governo de esquerda.
Mais uma vez ficou notória a ausência de pobres e negros nas ruas no domingo passado. O Datafolha foi à Avenida Paulista no domingo (13) para pesquisar o perfil dos que estavam lá para protestar.
Resultado: 77% dos entrevistados declararam ser brancos e 50% dos entrevistados informaram receber de cinco a 20 salários mínimos mensais. 12% disseram ser empresários, na cidade mais rica do país onde apenas 2% da população total tem essa ocupação.
Num país onde a população preta e parda corresponde a 50,7% da população brasileira, segundo o Censo de 2010, o que significa números superiores aos 100 milhões de brasileiros, temos aí um fosse que, um anos depois, não foi transposto pela liderança dos ato que pretendem derrubar o governo Dilma.
Os negros na manifestação da elite
Aliás, negros foram vistos, sim, nas manifestações: servindo famílias de endinheirados, como mostra uma reveladora foto que viralizou nas redes sociais.
Na imagem, uma madame caminha ao lado marido conduzindo seu cachorrinho, e uma babá (negra e, como sempre, vestida de branco) segue o casal logo trás empurrando um carrinho com dois bebês. Nem para “protestar” essas pessoas dispensam seus “negrinhos”.
Ou seja, o povo, os mais pobres, a amplíssima maioria mantem-se à distância desses movimentos elitizados, talvez com muita razão.
E a razão está escrita em uma das faixas que abriu uma das manifestações de rua que expõe, num inacreditável rasgo de sinceridade, a lógica dos mais ricos em nosso país e sua inconformidade com a possibilidade de direitos iguais:
“Os pobres não foram feitos para a política, mas para sustentar o poder dos políticos corruptos”. E essa turma não entende porque os pobres não votam em seus candidatos.
Enfim, o status quo foi às ruas, ontem. E quando esse pessoal se mobiliza é para defender seus interesses.
Lula, Dilma e a esquerda tem um desafio no próximo dia 18, quando manifestações serão realizadas em defesa do governo e do Estado democrático de direito: mobilizar os mais pobres que, por enquanto, mantém-se à distância do grave conflito que divide o país e que, antes de mais nada, ameaça seus interesses.

Se isso acontecer, esse jogo vira.




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